Observatório

Dona Dulce, a primeira mulher na presidência do “Asilo”



Dona Dulce, a  primeira mulher na presidência do “Asilo”
Na foto, a presidente do Parque Residencial São Vicente de Paulo, Dorcelina de Fátima Marques Brejão

Pela primeira vez em mais de 60 anos de história, o Parque Residencial São Vicente de Paulo, o nosso “Asilo” como é carinhosamente conhecido, tem uma mulher na presidência: Dorcelina de Fátima Marques Brejão, a dona Dulce, como é mais conhecida. Ela assumiu o comando da entidade há dois meses, sucedendo Onivaldo Iselli que comandou a entidade por dois mandatos. Vicentina há mais de 30 anos, ela diz que aceitou a missão contando com a solidariedade da população para ajudar a manter o Parque de pé.  
O ex-presidente Onivaldo Iselli, que agora é coordenador de eventos a convite da nova presidente Dulce, disse que conseguiu entregar o Parque com saldo em caixa suficiente por um período. “No ano passado, fizemos apenas um evento, em fevereiro, antes da pandemia, que foi a Festa do Milho. Durante o ano não fizemos nada, mas graças a Deus o caixa está razoável, porque o Fórum tem nos ajudado bastante repassando valores de multas aplicadas. Não fosse isso, não iria fechar no vermelho, já teríamos fechado o Lar”, afirmou o ex-presidente.
Nesta entrevista ao CIDADÃO, a nova presidente Dulce Brejão, fala do trabalho realizado para proteção dos idosos em meio a pandemia.  “Felizmente não tivemos nenhum óbito por causa direta do vírus. Hoje todos os nossos idosos estão vacinados mas ainda estamos mantendo todas as restrições para visitas”, diz a presidente. Dulce Brejão contou ainda que jamais imaginou um dia assumir a presidência. Leia a entrevista:
A senhora é a primeira mulher a assumir a presidência do Parque Residencial São Vicente de Paulo. Como recebeu o convite?
Estamos assumindo essa missão, sou vicentina há mais de 30 anos, a gente já conhece bem o trabalho desenvolvido pela entidade. E nesse trabalho contamos com a ajuda e solidariedade da nossa população, participando de eventos ou fazendo doação nas campanhas dos mercados, bem como dos proprietários rurais que sempre enviam doações para nossa entidade. Sem essa ajuda, certamente não teríamos como manter o no Parque e o atendimento aos nossos idosos. Por conta da pandemia precisamos parar com nossos eventos, então a dificuldade aumentou.
Como chegou ao Parque Residencial São Vicente de Paulo e se tornou uma vicentina?
Eu conheço o Parque Residencial São Vicente de Paulo desde quando era na Rua Rio de Janeiro perto do antigo Tênis Clube. Desde meus 13, 14 anos já convivia com esse pessoal, na juventude vicentina. Apesar de caminhos diferentes, sempre mantivemos contato. Meu sogro Luis Brejão era vicentino nato de muito anos, ele e minha sogra. Eu e meu marido (Reinaldo Brejão) acabamos nos envolvendo de novo mas, jamais imaginei um dia chegar à presidência da entidade.

"Sou vicentina há 30 anos. Jamais imaginei um dia chegar à presidência da entidade"

Como se sente ser a primeira mulher a assumir a presidência de uma entidade com mais de 60 anos de tradição? 
Fico muito feliz com o convite, entre aspas, que me fizeram. Peço a Deus todos os dias, sabedoria para tomar as decisões e fazer as coisas da melhor maneira possível. Posso errar, mas sempre querendo acertar. 
Havia um medo assustador do vírus chegar no Parque e infectar nossos idosos. Hoje já estão todos imunizados?
Sim, já receberam a primeira e segunda doses da vacina, inclusive os funcionários. Mas as medidas de restrição continuam. É bom lembrar que ainda na gestão do Onivaldo Iselli, foram tomadas todas as precauções desde que a pandemia começou e não tivemos nenhum óbito por causa direta do vírus.
As visitas então continuam suspensas?
Sim. A pessoa que queira visitar algum parente no Asilo, precisa agendar dia e horário. Temos uma cabine na entrada do Parque. A gente leva o idoso para essa cabine e eles se veem e conversam através do vidro, tudo para garantir a segurança. Ninguém de fora entra no espaço dos idosos. Só entram os funcionários. Quem vai fazer alguma doação, a gente pede que entre pela lateral deixe a doação e já retorna, sem contato com os idosos e funcionários. Nem mesmo os vicentinos tem acesso ao local, porque a maioria deles ainda não recebeu as doses da vacina. Eu mesmo vou lá e tomo as precauções. 
O Parque ainda precisa, mais do que nunca, da ajuda dos fernandopolenses?
Sempre precisou e vai precisar, porque o idoso por mais saudável que seja, tem custo elevado. O nosso trabalho é para garantir qualidade de vida aos nossos idosos, a saúde mental, física. E pra isso precisamos buscar os recursos. O Onivaldo já passou pela presidência por dois mandatos e sabe da dificuldade. Muitos falam que o vicentino pede demais, mas não é que a gente pede demais, é que a gente precisa demais. Então a gente precisa correr atrás. Hoje estamos assistindo 55 idosos internados. Um idoso abrigado não fica por menos de 2,5 mil. Temos toda uma equipe multidisciplinar para atendimento aos nossos idosos e isso custa. O que recebemos de repasse dos governos (municipal, estadual e União) não cobre a folha de salários. 

"Peço a Deus sabedoria para tomar as decisões e fazer as coisas da melhor maneira possível"

Como a senhora recebeu esse desafio?
Eu vi esse Parque crescer e ser o que é hoje, não poderia deixar vir outra cidade e assumir e tomar conta do que é nosso. Coloquei nas mãos de Deus e, se chegou minha hora de fazer alguma coisa, eu estou à disposição. Vamos trabalhar sempre confiando que Deus quer o melhor para todos. Estou com uma diretoria muito boa, todos os que chamei aceitaram integrar a equipe, inclusive o Onivaldo que deixou a presidência e não podia mais fazer parte da diretoria. Mas, criamos uma coordenação de eventos e ele vai cuidar junto com a Ângela Pontes. 
As entidades estão sofrendo muito com a falta de voluntários para ajudar no trabalho, não? 
Realmente, cada vez menos pessoas se prontificam em ser voluntário e isso ocorre em todas as entidades. Temos feito convites para que as pessoas participem do grupo dos vicentinos, mas muito não vem porque dizem que a gente trabalha demais e não tem como participar. Tem uma reunião por semana e os eventos que realizamos e estamos precisando de voluntários para ajudar a tocar a entidade. Na nossa família vicentina temos muito amor um pelo outro, nossa amizade é bonita. Estamos de braços abertos para receber todos que queiram trabalhar pelo próximo. Estamos buscando trazer os jovens vicentinos de volta e ter mais jovens envolvidos no projeto também. 
Qual o balanço que faz desses primeiros 60 dias como presidente?
Estamos lidando com os problemas que vão surgindo no dia a dia, como qualquer empresa. A gente sabe que precisa reduzir despesas sem prejudicar o atendimento aos idosos. O grande desafio é saber o que pode ser feito para melhorar a arrecadação e isso faz a gente perder o sono. Já estamos agendando uma visita ao prefeito André Pessuto para apresentar a nova diretoria e buscar apoio.

"Eu vi esse Parque crescer, não poderia deixar vir outra cidade e  tomar conta do que é nosso"

Qual a mensagem que deixa a população?
Que eu seja a primeira mulher e que venham muitas outras mulheres se engajar nesse trabalho. Na minha diretoria, tem mais mulheres que homens. Temos que entender que somos capazes, temos que nos colocar à disposição e ir à luta. Por isso conclamo todas as mulheres que tenham amor pela entidade que se unam a nós. Eu agradeço a minha diretoria pelo apoio que estou recebendo e a população que tem nos ajudado. Precisamos continuar contando com todos para manter o nosso Lar e os nossos idosos com dignidade. Falo isso de coração.

Observatório