Essa foi uma das falas do organizador da 1ª edição da Parada da Diversidade em Fernandópolis, Paulo Henrique Pedroso, durante a última sessão ordinária da Câmara de Vereadores de Fernandópolis, na terça-feira, 13. O pedido para o uso da tribuna livre aconteceu após a divulgação de um vídeo pelo vereador Ailton José dos Santos, o Cabo Santos, se posicionando contrário a realização do evento. Ofendido, Pedroso protocolou na Câmara uma denúncia crime por quebra de decoro parlamentar e crime de homofobia, além de registrar o caso no Plantão Policial. Apesar das polêmicas geradas acerca do vídeo, o evento que será realizado amanhã, 18, a partir das 15h, e já é um dos mais comentados pela comunidade de Fernandópolis e região. Em uma entrevista exclusiva ao programa Rotativa no Ar, da rádio Difusora FM, o organizador falou sobre o projeto para a realização do evento, as atrações e todos os benefícios que irá trazer para a cidade. Leia a entrevista:
Como surgiu a ideia da Parada da Diversidade em Fernandópolis?
Temos uma ONG chamada Liberdade de Amar, a qual sou presidente, e nós já realizamos um trabalho social e a Parada é a coroação desse trabalho social que nós fazemos. Ajudamos famílias carentes do município, não só LGBTQIA+, mas famílias que precisam de uma cesta básica, uma ajuda para pagar conta de luz. Então juntamos e arrecadamos com o pessoal, um pouco aqui, outro pouco ali e ajudamos essas famílias. A primeira era para ter acontecido em 2020 com recursos próprios e por meio de doações, iríamos tentar patrocínio, venda de cachorro quente, pizza, enfim, tentar dessa forma. Mas, começou a pandemia e não deu certo. No ano seguinte nós descobrimos o “Mais Orgulho”, um projeto do site Amigos da Arte, que distribui verbas por meio de um edital para patrocinar eventos para o público LGBTQIA+. Documentários, Paradas, entre outros. Durante a pandemia, fizemos duas lives no YouTube e um documentário que também foi patrocinado pelo projeto Mais Orgulho.
Essa será a primeira edição presencial da parada...
Esse ano, com a retomada dos eventos presenciais, a Parada vai pra rua. Entrei no projeto mais uma vez, fiz um edital bastante detalhado com todas as informações de onde e como irá acontecer. Para a aprovação foi necessária uma carta de anuência do prefeito que é basicamente um documento que reconhece a realização do evento e que a prefeitura irá apoiar institucionalmente. Fomos contemplados após 10 dias do envio do edital. Em reunião com membros da prefeitura falei que precisaríamos de interdição de ruas, documentos da secretaria de cultura e o apoio da secretaria de saúde para fazer um trabalho de prevenção de orientação sobre as DST’s, Aids, Monkeypox, entre outras. No início da Parada, onde irá sair o trio elétrico, um profissional da saúde irá orientar todos de que forma tem que se proteger para seguir os protocolos sanitários.
"Nós respeitamos todas as formas de pensamento, todas as religiões e todas as formas de amar"
Como a comunidade LGBTQIA+ recebeu a vinda desse evento para a cidade?
A comunidade em si está em festa! Não só daqui, mas da região toda, pois iremos receber muita gente de fora também. Fernandópolis foi a única cidade da região contemplada com o projeto e essa será a primeira edição do evento. Vamos ter um palco de 10x12 metros, telão de led, iluminação, trio elétrico, segurança privada, banheiros químicos, praça de alimentação, o local será cercado com gradis e para entrar o visitante irá passar por revista pela equipe de segurança, temos o apoio da Polícia Militar, pedimos a doação de um quilo de alimento não perecível para doação às entidades assistenciais do município. Será um evento de grande proporção que irá acontecer pela primeira vez em Fernandópolis.
O que esse evento significa para o público LGBTQIA+?
O evento em si é para mostrar que nós existimos e exigimos respeito. Perante a Constituição todos teríamos que ser iguais, porém, o público LGBTQIA+ não é tratado de forma igual. Então esse evento é para mostrar que precisamos dos nossos direitos, porque eu pago meus impostos assim como você ou qualquer pessoa e que devemos e precisamos ser respeitados.
De que forma o evento irá agregar para a cidade de Fernandópolis?
Um investimento de R$ 25 mil na cidade, todas as empresas de som, iluminação, banheiro químico e segurança foram contratadas aqui de Fernandópolis. Investimento, renda, cultura. Estamos esperando um público de 10 a 15 mil pessoas e muitos turistas. Recebi ligações de excursões de Onda Verde, Jales, Votuporanga, Cardoso, Catanduva. Essas pessoas irão consumir no comércio de Fernandópolis e usufruir da rede hoteleira. O amor ao próximo e a empatia serão os principais artistas da Parada.
"O evento em si é para mostrar que nós existimos e exigimos respeito"
Qual é a programação da 1ª Parada da Diversidade de Fernandópolis?
Começa às 15h com a concentração na área coberta da Feira Livre (ao lado do Mercadão Municipal) e às 15h30 nós saímos e seguimos até a Av. Raul Gonçalves Junior, na parte debaixo da rotatória. Lá irão acontecer os shows da cultua LGBT. Vai ter a drag cantora, drag humorista, drag que bate o cabelo, o gay que canta e está gravando CD e tentando carreira de cantor. Enfim, teremos muitas apresentações de artistas de Fernandópolis e da região.
O evento é exclusivo para o público LGBTQIA+ ou toda a comunidade pode participar?
De maneira alguma é um evento fechado. Nós respeitamos todas as formas de pensamento, todas as religiões e todas as formas de amar. A festa é para todos! Para fortalecer o movimento e para mostrar que não estamos sozinhos. Será a festa das cores. Inclusive gostaria de convidar toda a população para conhecer o evento. É uma festa de alegria, que você deve deixar o preconceito em casa. Estaremos lá para nos divertir, reivindicar nossos direitos e festejar.
Como a comunidade recebeu o vídeo com a declaração do vereador Cabo Santos?
Com tristeza. Em pleno século XXI é inaceitável uma pessoa ter um pensamento dessa forma. Ele foi totalmente infeliz. Acredito que, sendo uma pessoa pública e ele foi eleito para governar para todos e não para C ou para D, ele deveria ter me ligado e dito que estava com algumas dúvidas. Prontamente eu iria até o gabinete e iria responder todas as dúvidas. Em nenhum momento fui procurado. Esse tipo de fala homofóbica, misógina, machista e de fake news, isso não é aceitável. Para falar alguma coisa é preciso se informar e ter propriedade naquilo que está falando. Ainda mais vindo de uma figura pública. Nós vamos levar até às últimas consequências.
"O amor ao próximo e a empatia serão os principais artistas da Parada"
Quais as medidas já foram tomadas?
Abrimos um boletim de ocorrência, onde possivelmente será aberto um inquérito policial por crime de homofobia e protocolamos na Câmara Municipal uma denúncia crime por quebra de decoro parlamentar e crime de homofobia também e pedimos apuração do Conselho de Ética.
A repercussão do vídeo divulgado pelo vereador atrapalhou ou prejudicou a divulgação do evento?
Não atrapalhou em nada, muito pelo contrário, deu muita visibilidade. Minha única preocupação é que o tipo de fala que ele usou abre brecha para a comunidade falar, fazer comentários homofóbicos ou que vá até o evento causar algum problema. Espero que isso não aconteça e estamos orientando o nosso público caso alguém venha com essas falas durante o evento, para mandar beijos. Nosso evento é a festa do amor. A visibilidade que tivemos com o evento, devido à polêmica gerada pelo vídeo, a gente não conseguiria nem pagando.