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“É uma missão difícil e tenho que fazer o melhor”, diz Cabral



“É uma missão difícil e tenho que fazer o melhor”, diz Cabral

No comando da Secretaria Municipal de Educação de Fernandópolis há menos de um mês, Carlos Antonio de Jesus Cabral, 58 anos, vai cuidar da vida de 6.066 alunos e administrar um orçamento que é superior ao de muitas prefeituras da região.

“É um grande desafio e uma grande oportunidade assumir essa missão em meio a uma pandemia”, disse esta semana em entrevista ao CIDADÃO em sua sala na Secretaria Municipal de Educação logo após participar de uma reunião online com diretores da rede acertando detalhes para a volta às aulas no dia 1º de fevereiro, ainda de maneira online.

“A necessidade de retomada presencial das aulas é urgente. É inimaginável pensar que a educação online vai substituir a presença do profissional de educação, do educador, do professor, que está no dia a dia da vida do aluno. Mas, ainda não é o momento desse retorno”, enfatiza.

Casado com dona Sônia e pai de Carla, Cabral ganhou fama de diretor durão, reforçada pela filha:

“Ele é firme, mas tem um coração do tamanho mundo”. Coração que se emocionou várias vezes ao longo da entrevista, principalmente quando diz uma frase que o acompanha na Educação: “Quero cuidar dos filhos dos outros como se nossos filhos fossem”. Leia a entrevista:

Assumir a Secretaria Municipal de Educação é um desafio?

Eu falo que é um grande desafio e uma grande oportunidade ser o Secretário da Educação do Município. E nesses primeiros momentos aqui na Secretaria Municipal de Educação, o grande desafio é a retomada das aulas presenciais este ano, porque é inimaginável pensar que a educação online vai substituir a presença do profissional de educação, do educador, do professor, que está no dia a dia da vida do aluno. Esse é o nosso primeiro grande desafio à frente desta secretaria, onde fui muito bem recebido por todos os profissionais da educação. E é claro, também pela expectativa que o público tem em relação ao fato de estar assumindo essa missão. Preciso atender da melhor maneira possível a expectativa desse público. É uma oportunidade, mas não deixa também de ser um grande desafio.

"Preciso atender da melhor maneira possível a expectativa dos pais dos 6.066 alunos"

Gera ansiedade?

Pode até gerar, mas a minha vida sempre foi de muita necessidade em atender as expectativas das pessoas. Estou à frente dessa secretaria que é bem estruturada, Fernandópolis tem uma educação consolidada e que precisamos dar continuidade ao trabalho que vem sendo feito há algum tempo no município.

Esse projeto de educação foi implantado na gestão do ex-prefeito Armando Farinazzo e da ex-secretária de Educação Darci Marin. Qual o tamanho da responsabilidade em tocar esse projeto neste momento?

Meus amigos, meus professores. Tive grandes professores na vida, mas o Armando Farinazzo e a Darci Marin, quando eles propuseram fazer uma educação diferente no município, arregaçaram as mangas e fizeram o que temos aí. Então, chegou um ponto que senti necessidade de dar continuidade nesse trabalho. Pena que a Darci Marin não esperou um pouco mais para que ela pudesse estar junto com a gente, ainda que online, repetindo a frase que era sua marca: Cabral, vamos combinar! Isso gera uma ansiedade, pelo tamanho da responsabilidade, mas posso dizer que é uma ansiedade positiva.

Você construiu sua carreira na rede estadual e agora assume o comando da educação municipal. Qual o compromisso que traz nesta missão?

Se todos somos iguais perante a lei, temos que garantir isso aos nossos alunos. Garantir educação a todos não é fácil, porque além da igualdade, temos que trabalhar com equidade. Preciso ter a noção que determinada comunidade precisa um pouco mais para que realmente atinja a igualdade na essência da palavra. E esse exercício da equidade precisa acontecer. O prazer em trabalhar com a educação é enorme. Nunca passei por lugar algum sem que quisesse estar lá. Não fui colocado em lugar algum contra minha vontade. Feita a opção de fazer, você tem que fazer muito bem feito, da melhor maneira possível. Fazer melhor do que faz para seus filhos, porque cuidar dos filhos dos outros exige uma qualidade de atendimento melhor. Eu sei como cuidar da minha filha, então temos que cuidar dos filhos dos outros como gostaríamos que cuidassem dos nossos.

A Secretaria da Educação é quase uma “prefeitura”, pelo orçamento, número de pessoas envolvidas, professores, servidores, famílias e alunos, todos agora sob o seu comando...

Realmente, o orçamento da Educação é maior que em muitos municípios da região (R$ 56,8 milhões). Temos 6.066 alunos na nossa rede. Destes, 2.558 na educação infantil e 3.508 no ensino fundamental. Não temos nenhuma criança sem atendimento na rede e cuidar deles é o objetivo maior. Como é também cuidar dos nossos profissionais da educação. Precisamos nos valorizar enquanto professores, profissionais da educação. Nunca deixamos nossos filhos ir ao médico, ou a delegacia de Polícia atender alguma solicitação sozinhos. Os pais sempre estão juntos. No entanto, nós deixamos nossos filhos irem com um professor ao teatro, num evento fora da cidade ou numa excursão. Então, os pais nos valorizam muito, acreditam, confiam e nós temos que fazer por eles (pais) o que fazem por nós. É gratificante ter essa responsabilidade, receber essas crianças que estão buscando conhecimento, cultura. Tudo isso, em mais um ano difícil que teremos pela frente por causa da pandemia. Estamos cuidando de tudo, já me reuni com diretores, visitei escolas e verifiquei que precisamos melhorar a qualidade física de algumas delas. Estamos trabalhando com algumas parcerias, como por exemplo, introduzir o tênis para os nossos alunos como parte da atividade física em parceria com a secretaria de Esportes.

"Garantir educação a todos não é fácil, porque além da igualdade, temos que trabalhar com equidade"

Você citou o número de crianças na rede e estamos em meio a pandemia. O que está sendo feito para o retorno presencial das aulas?

A necessidade de retomada presencial das aulas é urgente. No plano de retomada, tanto nós, como o prefeito, temos uma reivindicação grande que é vacinação dos profissionais da educação. O prefeito (André Pessuto) falou diretamente com o vice-governador (Rodrigo Garcia) sobre essa necessidade. A retomada está sendo pensada, fizemos várias reuniões, analisamos toda a situação e, justamente por estarmos lidando com os filhos de outras pessoas, temos que ter maior cuidado. Pesquisamos junto aos pais, escola por escola, e do universo total de alunos, 4.075 responderam à pesquisa. Desses pais, 65% não concordam com o retorno das aulas presenciais e não gostariam de encaminhar o filho para escola numa situação dessa. Eles [os pais] reconhecem a necessidade, mas a preocupação pela vida é maior. E nós também temos essa preocupação em relação aos nossos alunos e profissionais da educação. Nós apresentamos ao prefeito, um protocolo com o retorno às aulas a partir de 1º de fevereiro de maneira online. A primeira semana será de acolhimento do professor com seus alunos, seus pais, já fazendo um diagnóstico das lacunas apresentadas durante o ano de 2020 com as aulas online. A partir do dia 8, iniciamos com atividades ainda online. Para os alunos da zona rural, nós vamos utilizar os veículos do transporte para levar e buscar o material até eles uma vez por semana, percorrendo as rotas e pontos. Vamos garantir aos alunos da zona rural a chegada do material didático e isso já foi autorizado pelo prefeito que aliás, nos deixou muito à vontade para fazer o que tem que ser feito. Sobre o retorno de aulas presenciais, trabalhamos hoje com perspectiva, seguindo os percentuais estabelecidos pelo decreto do governador, em 1º de março. Isso de acordo com o andamento do quadro da pandemia, da vacinação. Se não estivermos totalmente seguros, poderemos continuar com aulas online. Primamos pela segurança, prudência e respeito.

Vamos falar agora do convite para ser o Secretário da Educação, porque seu nome sempre foi sondado e agora deu certo...

Eu sou funcionário público da rede estadual. Precisei me afastar da função no Estado, não estou aposentado ainda e tive que tomar uma decisão. Foi praticamente impossível continuar dizendo não. Não tive argumentos. O argumento maior era a contribuição que tinha que pagar para a previdência estadual caso minha contribuição previdenciária aqui fosse ao Iprem. Como é para o INSS, ao término do meu tempo aqui (na prefeitura), posso juntar uma certidão e incorporar ao tempo do estado. Isso pesou, mas a maneira como recebi o convite das autoridades foi fundamental para o sim. O que posso dizer é que cheguei muito além do que imaginava em 1985, quando sai da Faculdade de Educação Física. Então tenho que agradecer sempre quando iniciei em 13 de junho de 1984 como professor, ainda cursando faculdade, na Escola Coronel com a diretora Wandalice Franco Renesto e substituindo um ícone da educação física, o professor Mará. É muito mais do que pensei. Sou diretor de escola efetivo em uma escola onde estudei, estou na Secretaria Municipal de Educação do Município de Fernandópolis! Então isso é muito gratificante. Só tenho a agradecer ao prefeito André, ao vice Artur, ao deputado Fausto. Me afastei daquilo que sempre adorei fazer, ser diretor de escola, para assumir essa missão. Não tinha como negar, esperar mais um pouco, a aposentadoria. É uma missão difícil em um tempo difícil. Me foi dada a oportunidade e preciso fazer o melhor.

"Não tinha como negar, esperar mais um pouco. É uma missão difícil em um tempo difícil e tenho que fazer o melhor"

Você diz sempre que tem como objetivo cuidar dos filhos dos outros como se nossos filhos fossem. E qual a mensagem que você deixa aos pais desses 6.066 alunos?

Que esses pais podem ficar tranquilos. Eles terão à frente da educação uma pessoa que vai respeitar seus filhos como se meus filhos fossem. Os filhos desses fernandopolenses não serão, em momento algum, seja de que escola for, tratados apenas como número. Eles serão tratados como pessoas que amanhã poderão fazer a diferença, poderão ser os vereadores desta cidade, o prefeito, deputado, poderá ser o Secretário da Educação do Município. Eu terei vergonha lá na frente se encontrar um desses meus alunos e ouvir que não contribui com nada na formação dele. Então, quero fazer com eles aquilo que gostaria que fizessem para com a formação da minha filha. Ela tem uma frase quando encontra os amigos: ‘Vocês não sabem o que é ser filha dele. Ele é firme, mas tem um coração do tamanho do mundo’. Vou ter isso com essas 6.066 crianças que estão matriculadas na nossa rede. Estamos aqui para ajudar a construir o projeto da vida deles, porque todo pai tem um projeto de vida para o filho, que vai alimentando. Esse projeto de vida da criança será concretizado, ou mudado no caminho, ou não concretizado, graças a educação que ela vai receber. Queremos contribuir para que todos os projetos de vida das nossas crianças sejam encaminhados de forma a satisfazer plenamente os desejos dos pais, porque todo pai quer o melhor para o filho. É isso que quero para todas essas crianças.

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