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“É uma sensação de vitória estar curado”, diz médico após contrair coronavírus



“É uma sensação de vitória estar curado”,  diz médico após contrair coronavírus

A fala de alívio é do médico fernandopolense Dr. Vinicius da Silveira Bissi, 33, que, contaminado pelo coronavírus junto com a esposa a enfermeira Carla Priolli Vanzelli, está retornando as atividades profissionais. Ambos estão na lista dos curados. O médico é clínico geral com especialização em cardiologia, trabalha como clínico no PSF do Jardim Paraíso
há quatro anos e atende também na Santa Casa de Estrela d’Oeste e já se está iniciando consultório também em Fernandópolis.
Em entrevista ao CIDADÃO, o médico fez um relato da experiência. “Ficamos isolados em nossa casa e apenas familiares próximos vinham trazer alimentos, medicação, 
o que fosse de extrema necessidade, nos passavam os produtos na própria calçada de casa”, diz. 
Sobre a contaminação, o médico afirma que é impossível saber a origem. “Tem muito mais pessoas contaminadas do que a gente imagina”, afirma. Ele e a esposa apresentaram sintomas semelhantes: perda súbita do olfato e paladar, cefaléia, mialgia, febre baixa apenas no primeiro dia de sintomas e depois evoluiu com uma tosse discreta.
“Sempre existe um pouco de receio, já que é uma doença ainda não totalmente conhecida, você se pergunta: será que vou piorar? Presta atenção até no menor sintoma que venha a aparecer”, acrescenta. Veja a entrevista:

O senhor e sua esposa, foram contaminados pelo coronavírus. Faça um relato dessa experiência, o dia a dia, com o vírus... O que mudou na vida de vocês?
Em relação à doença propriamente dita não tivemos sintomas graves, então foi realizado apenas tratamento para sintomas simples como cefaléia e mialgia. A grande e difícil mudança foi o isolamento total que fizemos após a confirmação do contágio.
O senhor, como médico e a esposa como enfermeira, têm ideia da origem da contaminação?
A gente fica se perguntando, mas a verdade é que com a situação epidemiológica atual da doença no país é impossível saber, tem muito mais pessoas contaminadas do que a gente imagina.
A doença teve manifestações diferentes entre o senhor a esposa?
Não. Tivemos praticamente os mesmos sintomas: perda súbita do olfato e paladar, cefaléia, mialgia, febre baixa apenas no primeiro dia de sintomas e depois evoluiu com uma tosse discreta.

“A grande e difícil mudança foi o isolamento total que fizemos após a confirmação do contágio”


Qual o impacto emocional da confirmação da Covid 19 e da quarentena obrigatória?
Sempre existe um pouco de receio, já que é uma doença ainda não totalmente conhecida, você se pergunta: será que vou piorar? Presta atenção até no menor sintoma que venha a aparecer. Quanto à quarentena, o isolamento total abala um pouco o nosso emocional sim, mas o fato de saber que são poucos dias ajuda a controlar isso.

Como lidaram com esse período em que foram obrigados a se isolarem de todos aguardando a cura?
Ficamos isolados em nossa casa, e apenas familiares próximos vinham trazer alimentos, medicação, o que fosse de extrema necessidade, nos passavam os produtos na própria calçada de casa, comunicação mesmo era feito pelo celular, redes sociais.

Ambos estão se preparando para retornar ao trabalho. Qual o significado desse momento após o coronavírus? 
Nunca pensei que o trabalho faria tanta falta. É uma sensação de vitória por estar curado e poder voltar ao trabalho, e agora com uma experiência muito mais real sobre doença. Espero conseguir usar isso para ajudar pessoas que venham a se contaminar e também contribuir com as pesquisas e ações de saúde que forem necessárias no momento.

“A experiência prática adquirida sobre a doença serviu para me capacitar mais para essa guerra”

O médico antes e depois do coronavírus. O que mudou?
Em primeiro lugar, a experiência prática adquirida sobre a doença serviu para me capacitar mais para essa “guerra” que estamos vivendo. Na parte emocional, toda essa experiência vivida me fez ter um outro olhar sobre a real importância das coisas simples da vida, momentos como esse ajudam a definir amizades verdadeiras e valorizar a importância de um círculo familiar unido.

O médico, por formação, trabalha no limite entre a vida e a morte. Qual a sua visão da pandemia do coronavírus? O que ela vai ensinar para a comunidade médica e científica?
Minha visão é de que sem dúvida está sendo uma situação muito grave tanto na saúde quanto na economia do mundo todo. Também me chamou atenção a falta de conhecimento da população em geral, as pessoas saem espalhando informações falsas a todo momento e isso dificulta muito a contenção da pandemia, acho que o aprendizado é que a ciência precisa da população e a população precisa de conhecimento, educação, para que ambos possam se ajudar.

“O aprendizado é que a ciência precisa da população e a população precisa de conhecimento”

Qual o recado que deixa para os fernandopolenses, em um momento que muita gente não está respeitando a quarentena...
Tirar essa ideia de que não temos o vírus circulando intimamente em nosso meio, tudo indica que tem muito mais gente contaminada do que conseguimos comprovar. A questão do isolamento total da população é difícil dizer até onde ajuda e quando começa a atrapalhar, minha opinião pessoal é que seja feita principalmente em idosos e pessoas com comorbidades, que é o grupo onde a doença pode se apresentar nas formas mais graves.

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