Você sabe o que é Educação Parental no Processo de Criação dos Filhos? Enquanto alguns pais tiram de letra o processo de educação dos filhos, outros podem necessitar de apoio e orientações adicionais para compreender o desenvolvimento infantil. É aí que entra a figura do educador parental, ainda uma novidade no Brasil, mas que em outros países é uma profissão reconhecida.
Em Fernandópolis, a pedagoga Rita Guarnieri trabalha como educadora parental para ajudar os pais a compreenderem as necessidades e o desenvolvimento individual das crianças, oferecendo ferramentas e estratégias destinadas a maximizar resultados positivos para a família. “Educar não é uma receita pronta de bolo”, diz nesta entrevista:
Qual a função de um educador parental?
A educação parental é uma novidade, surgiu no Brasil não faz muito tempo, mas fora do país já temos essa profissão. O educador parental vai trabalhar para ajudar os pais a compreenderem as necessidades e o desenvolvimento individual das crianças, bem como as funções e responsabilidades, oferecendo ferramentas e estratégias destinadas a maximizar resultados positivos para crianças e famílias. Os pais me procuram, expõe o problema, vamos analisar e traçar estratégias para resolver essa questão que são muito amplas, podendo ser uma birra da criança, dificuldade no sono, até mesmo relacionamento conjugal. O trabalho visa harmonizar esse ambiente familiar.
Qual a principal dificuldade que você nota no relacionamento familiar?
Eu acredito que temos muitas informações e não se consegue detectar para aonde se quer ir. Quando isso acontece qualquer caminho serve. Temos que identificar o problema que via de regra, não está com a criança. São dos adultos. A criança não tem maturidade para lidar com os problemas. Quem tem maturidade, cérebro desenvolvido, somos nós os adultos. Muitas pessoas buscam uma receita pronta. Educar não é uma receita de bolo, não tem nada pronto. Por isso que, para cada caso, iremos lidar de uma maneira após identificar o problema e traçar a estratégia. Não tem um problema que aparece mais, mas o que os pais reclamam muito é a birra. Mas, essa birra que tanto incomoda os pais, na verdade, é um pedido de atenção. A criança não sabe comunicar o que está sentindo. Cabe a nós, adultos, fazer o acolhimento, entender aquele momento de birra. Com a chegada da neurociência, que estuda o sistema nervoso e suas funcionalidades, ficou muito mais fácil entendermos esse processo. A criança não está bem e de alguma maneira ela quer comunicar isso, o que está sentindo. Essa questão do sentimento tem que ser trabalhado e precisamos ensinar as crianças a nomear os sentimentos como inveja e ciúme, por exemplo. Precisamos parar de achar que a criança não pode fazer birra, que a criança é um robozinho, vai ao restaurante, vai sentar e ficar quieta. Ela não está pronta para isso. Não se trata de deixar a criança fazer o que quer, mas precisamos trabalhar de acordo com aquilo que a criança tem capacidade de conseguir realizar. De um bebê recém-nascido não exigimos que ele ande, porque não está pronto para andar. Então, porque exigir e cobrar de crianças, comportamentos para os quais elas ainda não estão prontas? O cérebro fica realmente maduro com 25 anos de idade e nós queremos que as crianças estejam prontas desde cedo.
"O educador parental vai ajudar os pais a compreenderem o desenvolvimento individual das crianças"
Isso vai muito da ansiedade dos pais?
Sim e da própria cobrança que a sociedade faz. E os pais querem mostrar para sociedade que seu filho é o perfeito. E não é assim.
E tem a questão ligada ao TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade) que muitas vezes os pais relutam em aceitar?
Sim, só que também existe muito diagnóstico errado, precoce e muito uso de medicação. Costumo falar, busque um profissional sério, procure mais de uma opinião. Sabemos que um laudo só pode ser fechado pelo médico depois dos sete anos. Antes do primeiro setênio (período que compreende sete anos) você tem hipóteses. A criança pode ter, ela pode ser. Mas, o laudo só será fechado a partir de sete anos. E aí entra novamente a sociedade pressionando para que a criança vá a escola e fique sentadinha na carteira, quietinha, só que o corpinho e a cabeça não estão prontos para isso. A criança precisa gastar energia e muitas vezes as escolas não têm estrutura para atividades ao ar livre e nem a família. Os pais trabalham e quando a mãe chega em casa tem o segundo turno e não sobra tempo para essas atividades.
"Os pais querem mostrar para sociedade que seu filho é o perfeito. E não é assim"
E para entreter a criança logo damos um celular ou joguinho eletrônico...
Dentro da educação parental é um tema muito discutido. Sabemos que a tecnologia chegou para nos auxiliar, principalmente durante a pandemia. Mas, agora temos que regrar. O uso da tela age no cérebro da criança como uma droga, por conta da liberação dos hormônios do prazer. Então isso leva a criança ao vício. Como as crianças ficam quietas, os pais preferem o sossego.
É preciso então criar rotina para criança?
A rotina é extremamente benéfica tanto para nós, adultos, quanto para as crianças. Se nós adultos tivermos uma rotina daremos conta de cumprir os compromissos. Quando não conseguimos cumprir os compromissos é porque falta organizar uma rotina e colocar as prioridades no dia. Para a criança, a rotina também é importante, principalmente para a criança gerar uma presibilidade, saber o que tem que fazer no dia. Rotina não é chato, não é algo mecânico. Precisamos ter essa rotina e ter espaços para momentos de lazer, de atividades ao ar livre, de brincadeiras. Em casa, criamos uma tabela para os filhos e para mim também, porque preciso encaixar meus horários dentro da rotina dos filhos. Dentro dessa rotina, deixamos horários livres. E isso precisa ser combinado. Não adianta chegar e querer impor. A partir do momento que você combina é mais fácil a execução. É bom dizer que não existe um roteiro perfeito, porque perfeição não é deste mundo. É um trabalho com um passo de cada vez.
"É no brincar livre que a criança desenvolverá toda a parte lúdica da imaginação"
Como se preparar para levar o filho para a primeira escola sem sofrimento?
Primeiro é passar confiança para o filho e isso passa por uma preparação sobre a escola e o tempo que ficará lá. Tem um exercício que podemos fazer com a criança, pegando uma bolinha que bate e volta e explicar a ele que a mamãe vai fazer igual a bolinha, vai e volta. A criança vai entender dentro de um exemplo concreto que a mãe vai deixá-lo na escola e vai voltar para buscá-lo. E, claro, ter uma boa relação com a escola. Sabemos que tem um período de adaptação, mas necessário dar abertura para a escola ligar e para buscar a criança antes do prazo estabelecido. Os pais devem se programar para isso, principalmente na primeira semana de aula. A criança, em cada faixa etária, tem um tempo para se adaptar. É preciso também confiar na escola.
E os pais, como devem se preparar?
Primeiro, os pais devem estar seguros de onde deixarão o filho. Eu trabalho com crianças de seis meses. Imagina a mãe deixar um filho pequeno aos cuidados de uma desconhecida. É necessário criar um vínculo com a escola, conhecer a equipe que vai trabalhar com seu filho para também ficar seguro.
A pandemia produziu inúmeras mudanças na vida das famílias e das crianças. Como conduzir esse processo em meio a tantas mudanças?
O diálogo é a base de tudo. É importante qualquer mudança ser comunicada à criança com antecedência. Outra coisa importante nesta fase de mudança de rotina, saindo do período de férias para o de aulas, os pais já começarem a alterar a rotina da criança, principalmente a hora de dormir e acordar. Nas férias, as crianças dormem mais tarde e, por consequência, acordam mais tarde. Já é hora de começar a alterar essa rotina para adaptação do relógio biológico da criança. Tudo que é conversado e explicado tende a dar mais certo. A dinâmica da casa é importante neste contexto. Deus foi tão maravilhoso que criou o dia e a noite. Quando está escurecendo, nosso corpo já começa a se preparar para dormir, começa a ser liberado os hormônios do sono. Mas, o que a gente faz? Acende todas as luzes da casa, todas as telas, tv, computadores e celulares. Como o seu corpo vai desligar se está tudo aceso, claro como o dia? Isso é biológico. Uma maneira de ajustar o sono é reduzir as luzes acesas na casa, para criar um ritual do sono, para que a criança perceba que é hora de desligar para cumprir o que chamamos de ciclo circadiano (é o mecanismo pelo qual nosso organismo se regula entre o dia e a noite).
Qual a rotina ideal para uma criança no período escolar?
A criança precisa, primordialmente, ter espaço para brincar. Geralmente fazemos a agenda das crianças com inúmeras atividades (inglês, balé, futebol, judô, natação) e a criança acaba não tendo tempo de ser criança, brincar livremente. Dentro do brincar livre, ela aprende muita coisa. Então temos que reservar esse espaço para o brincar livre que deve ter brincadeiras de contração e de ação. As brincadeiras de ação são aquelas que farão a criança extravasar energias, se cansar (correr, pular, andar de bicicleta). Já as brincadeiras de contração são aquelas para a criança ir se acalmando para se preparar para o sono, isso geralmente no final do dia. A leitura de uma história com os pais é uma boa dica para esse momento. O que não pode faltar na rotina da criança é o brincar. É no brincar livre que a criança desenvolverá toda a parte lúdica da imaginação.
E quando perceber que a rotina da criança está exagerada?
A própria criança vai dar sinais, seja através da própria fala, da baixa produtividade ou de começar a não querer mais ir para determinada atividade. Por isso é importante os pais terem uma tabela para ter uma visão e perceber se a rotina não está atropelada