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“Emoção inexplicável”



“Emoção inexplicável”

A educadora Grasiela Luciene Toscano Ruiz Botazzo, professora da Escola Estadual Afonso Cátaro, viveu o que definiu como “emoção inexplicável”, ao receber a medalha MMDC Caetano de Campos, a principal honraria concedida pelo Governo do Estado de São Paulo na área da educação. Tão importante o momento, que o secretário estadual da Educação Rossiele Soares veio a Fernandópolis exclusivamente  para a homenagem. “É um incentivo, uma motivação, uma esperança, de que trabalhar na educação de crianças e jovens enobrece o ser humano”, ressaltou. Mais especial ainda foi ter os filhos ao seu lado no momento ímpar da vida profissional. Nesta entrevista ao CIDADÃO, a educadora fala dos desafios em meio a pandemia que isolou a todos e dos novos projetos para 2022. Leia:

O secretário estadual da Educação Rossiele Soares esteve no dia 2 de dezembro em Fernandópolis para entregar a Medalha MMDC Caetano de Campos. Como foi receber esta que é maior honraria concedida pelo governo do Estado na área da educação?

Receber a Medalha MMDC Caetano de Campos é uma emoção inexplicável no que diz respeito ao momento da entrega, com o passar dos dias, refletindo sobre o momento, é o reconhecimento do meu trabalho e do meu amor envolvido nesse processo, é um incentivo, uma motivação, uma esperança, de que trabalhar na educação de crianças e jovens enobrece o ser humano, a família, a sociedade e principalmente o educador que tem a possibilidade, não de ensinar, mas de propor momentos de aprendizagem coletiva, significativa e construtiva não somente das disciplinas da base comum, mas também de aprendizagens sociais, emocionais e de interações, sendo necessário assim, a reflexão e mudanças constantes do próprio educador e do seu papel de mediador da aprendizagem, bem sua a responsabilidade social que está presente no fazer do educador.

“O prêmio é um incentivo, uma motivação, uma esperança, de que trabalhar na educação de crianças e jovens enobrece o ser humano”

Foi um dia de surpresas? Imaginava que o secretário da Educação viria especialmente para a outorga do prêmio?

O dia 02 de dezembro de 2021 se tornou uma data muito especial para mim. Foi um dia de imensas surpresas. Nem eu e nem a nossa equipe, com exceção da nossa diretora, sabíamos da visita do secretário da Educação naquele dia. Preparamos a escola para receber uma visita, mas sem conhecimento do que viria a acontecer. A surpresa começou quando os meus filhos adentraram a escola e o Dirigente Regional, senhor Cândido, me disse que eram seus convidados e que outros familiares também iriam comparecer. Entender o que se passava naquele exato momento em que o Secretário da Educação estava na nossa escola e que todo aquele movimento de arrumação, recebimento de visitas externas, a preparação que antecedeu a entrega da medalha, o carinho em convidar meus filhos para um momento ímpar na minha vida profissional, o carinho de todos os estudantes da nossa escola que vibraram junto comigo, ainda é inimaginável e só vivendo para dimensionar a emoção. A outorga do prêmio eu não imaginava, mas posso afirmar que não poderia ter sido organizada de maneira diferente. Foi muito cuidado, respeito e consideração para a professora, profissional e ser humano.

Um dos pontos para outorga da homenagem é a visão humanista como educadora. Como superar os obstáculos para atender diferentes alunos?

Eu penso que mais do que uma visão humanista é uma visão de cada indivíduo como ser único, com suas potencialidades e fragilidades. É entender como cada um aprende e porque aprende. Todos nós precisamos de motivação para desenvolver nossas habilidades e precisamos de elogios, broncas, brincadeiras e comprometimento. Dessa forma, para atender diferentes alunos, é também me enxergar como diferente, é buscar desenvolver em mim as habilidades socioemocionais e refletir sobre cada uma delas em todos os momentos de interação com as crianças, jovens e até mesmo com a equipe escolar.

“O maior ensinamento da pandemia foi mostrar a importância do contato social, da valorização da vida e das amizades”

Na matemática, vista como bicho de sete cabeças, os desafios são maiores? 

Não aceito que a matemática seja um bicho de sete cabeças. A bela frase de Galileu Galilei, “A matemática é o alfabeto no qual Deus escreveu o universo.", corrobora para a minha certeza: a matemática é a nossa ferramenta diária e ferramenta de muitas outras disciplinas. Os desafios da matemática não são maiores do que a educação. Acredito que o maior e também o mais belo e motivador desafio nosso, na educação, é promover a autonomia da aprendizagem, o protagonismo das ações, a competência para as mudanças que o nosso mundo precisa e a solidariedade coletiva.

A pandemia chegou e impôs uma nova realidade de uma hora para outra a todos, especialmente na educação. Como enfrentou esse desafio?

Deixar a escola e o convívio presencial foi um desafio muito grande. Não sabíamos como fazer para interagir com nossos estudantes no início. A primeira coisa a fazer foi criar grupos de WhatsApp para postar atividades e enviar áudios orientando e até mesmo promover discussões. Mas isso incomodou logo nos primeiros dias. Iniciei um canal no Youtube para que os meus estudantes pudessem me ver porque eu acredito muito na aprendizagem visual, no contato olho no olho, quando não é possível presencial. Depois começamos com vídeo chamadas pelo Meet com o cronograma de aulas. Adquiri uma lousa para que pudesse realizar as atividades com os alunos. Tivemos o apoio do Centro de Mídias do Estado de São Paulo, mas o contato mais próximo, na minha opinião, tem um valor motivacional mais significativo para o desenvolvimento da aprendizagem. Mesmo com todo o movimento para que as aulas continuassem, foi muito angustiante saber que alguns alunos não conseguiam nos acompanhar por falta de meios tecnológicos e ficavam um pouco mais distantes com atividades apenas impressas.

Antes da pandemia, já realizava a busca ativa para que ninguém ficasse pelo caminho. E na pandemia, como foi?

A busca ativa durante a pandemia foi um desafio dos maiores já enfrentados na educação. A busca se estendeu para a família, pai, mãe, avós, cuidadores. Tivemos que procurar muitas vezes, ou melhor dizendo, diariamente, em horários que excediam nossa jornada de trabalho, nos finais de semana. Muitos pais ou responsáveis também enfrentavam a dificuldade para ajudar os filhos a se conectarem, a realizarem as atividades.

A educadora antes e depois da pandemia. O que mudou?

Identifico muitos problemas na expressão facial dos estudantes, o olhar de dúvida, de contentamento por ter compreendido algo novo, o sono, a desmotivação. As mudanças de comportamento que indicam que algo diferente está acontecendo. Na pandemia, isso mudou, a maioria não abria as câmeras nas aulas, nas conversas individuais, alguns não respondiam, ou respondiam com monossílabos. A preocupação da educadora aumentou consideravelmente. Procurei novas alternativas para a aproximação como em uma mesma aula fazer várias chamadas de vídeo, assim em agrupamentos menores os estudantes conseguiam se comunicarem melhor e eu ia passando de grupo em grupo. Também procurei me aproximar mais das famílias. Com o retorno das aulas presenciais, acredito que a maior mudança que ficou foi o olhar além da sala de aula, a proximidade e a escuta ativa dos anseios e angústias que afetam o desenvolvimento da aprendizagem.

Qual foi o maior ensinamento da pandemia?

O maior ensinamento da pandemia foi a importância do contato social, das interações interpessoais, da valorização da vida e das amizades.

“Foi muito angustiante saber que alguns alunos não conseguiam nos acompanhar por falta de meios tecnológicos”

 Na sua visão, qual foi o impacto na educação dos alunos? Como recuperar o que se perdeu durante esse período de isolamento?

Na minha visão, o impacto na educação foi gigantesco. Não somente no que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades do currículo de educação básica, mas principalmente no impacto psicológico que todos tiveram, principalmente nossas crianças que foram obrigadas a se isolarem e muitas ainda em condições de vulnerabilidade. Não acredito que tivemos “perdas” com possibilidade de recuperação, mas sim, teremos que desenvolver um enfrentamento ou um posicionamento diferente em relação ao desenvolvimento de habilidades e não somente de estudantes, mas de sociedades. O trabalho criterioso das habilidades socioemocionais que já se encontram inseridas no nosso currículo, agora será de maior importância. Como já mencionei, a aprendizagem da base comum não deve ser desenvolvida isoladamente, devemos nos preocupar com uma educação integral, onde seja possível desenvolver habilidades sociais, emocionais, culturais e acadêmicas para que nossas crianças e jovens sejam cidadãos criativos, críticos, reflexivos e que tenham autonomia na busca de soluções para os problemas da sociedade em que vivem, competentes na busca pelo novo e solidários nas conquistas individuais que refletem no todo. Assim, eu acredito que nós, os adultos da sociedade atual, devemos nos capacitar e ampliar nosso conceito de educação e assumirmos nossa responsabilidade social, nos conhecermos e nos reconhecermos como corresponsáveis nas mudanças que nosso mundo exige e que são cada vez mais rápidas e tecnológicas.

O que espera para 2022?

A importância de aceitarmos o ciclo anual nas nossas vidas para que possamos traçar novas metas, é assim que enxergo um ano novo. E especialmente esse novo ano (2022), que possamos encerrar um ciclo completamente, livre desse vírus que nos prendeu em nossas casas e mais ainda em nós mesmos. Que sejamos capazes de olhar o outro com amor e com o desejo sincero que ele seja feliz para que nós também possamos ser felizes. Espero que 2022 seja um ano diferente, não normal, porque normal não é motivador, não há crescimento. Diferente, com mais mudanças, com novidades constantes e com muita alegria em compartilhar vivências e aprendizagens. Pessoalmente, a realização de um projeto que há muito tempo está sendo idealizado. Minha formação acadêmica não está somente nas áreas de exatas, além da formação em Matemática e Física, sou pedagoga, com pós-graduação em Novas Tecnologias para o Ensino e em Neuropsicopedagogia. Após muita dedicação e estudos, estou iniciando o atendimento de grupos de crianças e jovens para a colaboração no desenvolvimento integral por meio de métodos metacognitivos, jogos, vivências e transcendências que promoverá saúde física, mental e social. Juntamente com esse projeto, espero continuar com minhas contribuições na educação como profissional do Estado de São Paulo, trabalhando na escola Afonso Cáfaro, minha segunda casa.

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