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“Estamos ansiosos pela nova sede”



“Estamos ansiosos pela nova sede”

Depois de décadas embaixo das arquibancadas do Estádio Cláudio Rodante, os músicos da Orquestra de Sopros de Fernandópolis, a Osfer, vivem a ansiedade pela mudança para a nova sede em prédio reformado ao lado do Mercadão Municipal. “Ainda falta algumas adaptações para que possamos fazer a mudança”, disse o maestro Luis Fernando Paina. Mas, além da nova sede, a orquestra também está se preparando para retomar as atividades do ano. Assim, como todas as demais atividades artísticas, a Osfer também precisou se reinventar durante a pandemia. De concertos presenciais passou a realizar apresentações online. Na entrevista, o maestro Fernando, como é conhecido, diz que a música é o caminho para formação do cidadão, do bom filho, bom profissional, seja em que área for. Hoje aos 49 anos, e desde os 10 na corporação, a música ainda dá o tom na vida dele. Leia a entrevista: 

Quando a Osfer, enfim, vai para a nova sede?
Todo mundo está curioso, mas ninguém está mais ansioso quanto a gente para essa mudança. A sede está pronta, faltam alguns ajustes porque, nossos instrumentos são de tamanhos diferentes e há necessidade de se adequar às salas. Estamos aguardando essas adequações para fazer a mudança definitivamente. Lá teremos uma sala de ensaio geral e quatro salas de aulas individuais. Então, ao mesmo tempo que estamos realizando um ensaio geral, temos a opção de ter quatro aulas de diferentes instrumentos. Hoje, onde estamos, não temos essa condição, ou tem ensaio, ou tem aula. Estamos contando os dias para a mudança, e com a possibilidade também de abrir um leque de atendimento para a zona norte da cidade, atraindo novos alunos. Estamos ansiosos para a mudança em todos os sentidos. Eu acredito que em 30 ou 40 dias a gente faz a mudança. 

A sede embaixo da arquibancada ficará na história da Osfer, não?
A gente até brinca que estamos até com medo de sentir falta da sede atual, de estranhar a nova casa. Na nova sede ficou tudo muito bom. Só de ir lá hoje e imaginar tudo limpo, com os instrumentos lá dentro, com as salas de aulas para cada instrumento, foi um sonho nosso e que o André Pessuto e a deputada Analice Fernandes proporcionaram, em reconhecimento ao trabalho e por tudo que a Orquestra representa para Fernandópolis e região. Pelo tanto de vidas que ela mudou, não só musicalmente, mas todos sabem que o trabalho ali realizado é transformador. Não trabalhamos com a ideia de formar apenas músicos, mas de formar cidadãos. Uma hora ou outra formamos músicos profissionais de excelência como o Rubens Lopes, o Murilo Mininel, que saíram dali e hoje vivem profissionalmente da música. O Rubens, por exemplo, tem carreira internacional. Foi o primeiro brasileiro a conseguir bolsa de estudo no conservatório de Paris como percussionista. Saiu daqui para estudar música naUnesp, ficou cinco anos em Paris e agora vive na ponte Fernandópolis-Paris e o mundo. E ele continua com a gente até hoje e faz questão de estar conosco, de ajudar as crianças. 

"Não trabalhamos com a ideia apenas de formar músicos, mas de formar cidadãos"

Como a Orquestra se virou nestes tempos de pandemia?
Como todo mundo, nós também tivemos que nos reinventar. Talvez pelo fato de na Osfer a maioria ser jovem, a nossa adaptação foi até mais fácil, por já estarem envolvidos nesse meio das mídias sociais. Eu, por exemplo, tive que me adaptar muito em relação a questão das montagens dos vídeos das músicas para disponibilizar na internet. Isso exigiu muito esforço no início. A gente tinha que pensar na música, gravar instrumento por instrumento, gravar o áudio, depois a imagem, e mixar áudio e imagem, terminando com a edição do vídeo colocando todo mundo na tela. Isso deu muito trabalho inicialmente, hoje já temos mais facilidade. A gente era acostumada a tocar no coletivo e ali não, era preciso tocar individualmente. O aprendizado foi muito grande e nos possibilitou gravar com convidados de outras cidades. Mas, não substitui a parte humana. No final do ano a gente se reuniu para fazer a apresentação na praça com todos cuidados possíveis em relação a pandemia. Foi muito bom se reunir, todos estavam precisando demais desse reencontro. Foi gratificante demais poder reunir o grupo para o ensaio e a apresentação do final do ano.

Agora em 2022, será possível retomar o trabalho presencial na plenitude?
A princípio vamos continuar como estávamos no ano passado. Só ensaio dos naipes separados. Cada dia da semana vai um determinado naipe para não gerar aglomeração e, eventualmente, um ensaio coletivo quando tiver alguma apresentação prevista. 
A juventude foi muito impactada pela pandemia, pelas restrições geradas. Vocês perceberam esse impacto na Orquestra?
Sim. Nós estamos firmando agora uma parceria com a o CMDCA – Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente -  através de um chamamento, com um projeto justamente com essa preocupação, para cuidar do mental dos nossos músicos diante de todo o estresse que eles viveram nestes dois anos. Além da parte artística, musical, a gente tem esse cuidado com nossas crianças e nossos jovens. Acredito que isso será de muita ajuda. 

"Hoje Fernandópolis é uma exceção na região em termos de música"

Em relação aos novos alunos, o que a Osfer está projetando?
Estávamos esperando retornar as aulas e com a mudanças das escolas para programa de ensino integral em relação aos novos horários para iniciar a divulgação. Estamos estudando desenvolver projeto piloto em parceria com algumas escolas. Mas, logo deveremos abrir inscrições para todos os instrumentos, violino, viola, violoncelo e todos os instrumentos de sopro, da flauta doce, a linha de flautas, saxofone, trompete, trombone, etc. Estamos também já avançando na parceria com a Secretaria de Cultura para abrir no CEU um polo de aula de música, bem como em outros espaços, para poder ampliar o atendimento pela Osfer. 

A ampliação dos instrumentos de corda vai na direção de transformar a Osfer em Orquestra Sinfônica?
Sim, futuramente a ideia é essa. É uma coisa bem trabalhosa, porque os instrumentos de corda não são como os instrumentos de sopro. A preparação com instrumento de cordas leva mais tempo. Temos um grupo mais avançado e estamos fazendo a inserção ainda de forma adaptada. Quem sabe, logo a gente tenha algo bem grandioso. Hoje Fernandópolis é uma exceção na região em termos de música. Por isso é que tem que ser valorizado esse trabalho e continuar sendo apoiado, como é, pela prefeitura, secretaria da Cultura, por que são poucas as cidades no Brasil que tem os equipamentos que nós temos e a mão de obra que temos com profissionais altamente renomados. A nossa orquestra tem CD gravado com obras originais que foram compostas especialmente para nosso grupo. Então já temos um nome muito grande, uma história que remonta os tempos anteriores da Corporação Musical. No papel são 50 anos, mas a história vem de 1945. Já superamos muitas dificuldades e hoje na gestão do prefeito André Pessuto temos recebido todo o apoio. O André começou como diretor, depois secretário de Cultura e depois prefeito, além de músico, e ele tem a sensibilidade da importância da música na formação dos nossos jovens. 

"Como todo mundo, nós também tivemos que nos reinventar durante a pandemia"

Como maestro você também tem sua história na orquestra?
Eu comecei na banda (a Corporação Musical) com 10 anos de idade como aluno, projeto no Centro Social de Menores. Fui um dos primeiros alunos que o Hermes Bressan, que era o presidente na época iniciou, com o seu Manoel Marques Filho, que hoje mora no Paraná, foram buscar nas escolas. A maior parte dessa história nós estamos construindo embaixo das arquibancadas do estádio. Por isso, a nossa ansiedade para mudar para a sede nova, onde teremos espaços mais adequados para o nosso trabalho. E será oportunidade de trabalhar com um outro lado da cidade (a zona norte) que nunca tivemos oportunidade. O nosso objetivo no projeto da Osfer é formar cidadãos, bons filhos, bons estudantes, advogados, médico, um bom profissional em qualquer atividade.

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