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“Estamos estruturado para dar resposta à altura para a criminalidade”



“Estamos estruturado para dar resposta à altura para a criminalidade”

No comando do 16º Batalhão da Polícia Militar em Fernandópolis desde fevereiro, o Tenente Coronel Edson Fávero, 55 anos, coordena o policiamento em 
49 municípios da região. Ele substitui o filho da terra Tenente Coronel Rodnei Dutra Hernandes, que atualmente exerce funções na Assembleia Legislativa de São Paulo. Nascido em Meridiano, criado em Valentim Gentil e morando em Votuporanga desde o final da década de 90, Fávero diz que “é um sonho de carreira assumir o comando. Foram 24 anos e chegou o momento”.Nesta entrevista à Rádio Difusora e CIDADÃO, explicou que, por sua experiência, não é adepto de “projetos mirabolantes, milagrosos. Isso não existe”. Diz que a PM está estruturada para dar resposta à altura para a criminalidade, embora reconheça que o crime sempre está à frente. Sobre as ações das grandes quadrilhas, denominadas de “novo cangaço”, diz que não pode dizer que a região esteja isenta. “A gente teme sim e, com isso, vamos nos preparando. A nossa região é muito bem estruturada para a segurança”. Leia a entrevista realizada antes da entrevista do governador Rodrigo Garcia que anunciou a “Operação Sufoco” esta semana para combater a criminalidade no Estado:

No comando do 16º Batalhão que coordena o policiamento militar em 49 municípios, qual a marca que pretende imprimir no comando?
Por experiência, não sou adepto de projetos mirabolantes, milagrosos. Isso não existe. A Polícia Militar está estruturada há quase dois séculos, tem toda uma rotina. Sou muito adepto do dia a dia a gente cumprir com a nossa obrigação. Temos problemas prioritários no nosso Batalhão, com crime contra o patrimônio, que é o que mais machuca as pessoas que são os furtos e roubos. Temos problemas com entorpecentes, o que evidencia todo um problema social envolvendo as famílias e temos problemas de trânsito também. As vezes a gente não olha muito para o trânsito, mas ele mata mais que a criminalidade. A gente fecha o balanço no final do ano e tem várias mortes e isso, às vezes, não choca muito. Temos um trabalho voltado para essa atuação no trânsito, tanto para preservação da vida, da integridade das pessoas, como aquilo que a gente sabe, o crime anda sobre rodas. Dificilmente um infrator comete crime a pé. Ele sempre estará auxiliado por uma motocicleta, por um veículo. Esses são os enfoques que no dia a dia predominam. Não que não existam crimes mais graves e existem. Temos uma estrutura, um efetivo que a gente conhece bastante e sabemos que temos condições de dar uma resposta à altura para a criminalidade que tem que saber que a Polícia é presente. Aí cabe a ele avaliar se compensa ou não estar tentando o crime. E nesse processo precisamos trabalhar, todas as forças policiais, todos os órgãos do ciclo completo de polícia, juntos. Polícia Militar, Polícia Civil, Ministério Público, Poder Judiciário, devemos estar todos imbuídos do mesmo objetivo no enfrentamento da criminalidade.

A Polícia Militar está estruturada para atender no combate à criminalidade?
Sim, temos condições de dar uma resposta à altura. É claro que a gente sempre está correndo atrás do crime. Temos o sistema de prevenção de crimes que é a nossa missão constitucional, de fazer o policiamento preventivo, mas o criminoso está sempre um passo à frente. Naquilo que a gente previne, ele cria uma outra estratégia. Temos o policiamento convencional e temos contado com o apoio do Município, no sistema de propiciar a Atividade Delegada que, se não é o ideal para instituição e, o ideal era todos terem um salário satisfatório para as necessidades, mas ajuda e muito porque ela coloca muitos policiais a mais no nosso efetivo. Hoje temos várias modalidades de policiamento, das radiopatrulhas, o sistema Rocan de motocicletas, a Força Tática, um efetivo mais preparado para o enfrentamento mais firme da criminalidade mais violenta. 

"Fernandópolis vem investindo no sistema de monitoramento o que traz a segurança para um patamar bastante positivo"

Os grandes ataques de quadrilhas em cidades do interior, como ocorreram recentemente em Araçatuba e Guarapuava no Paraná. O senhor teme que esse tipo de ataque chegue à região?
Não podemos falar que estamos isentos. Essa nossa região, e a gente inclui Rio Preto, talvez seja uma das últimas regiões que ainda não sofreu essas ocorrências de grande impacto. A gente teme sim e, com isso, vamos nos preparando. A nossa região é muito bem estruturada para a segurança. Com o BAEP – Batalhão de Ações Especiais – que atua em toda a região e o nosso batalhão está inserido neste contexto, temos um poder de resposta muito grande. É claro que eles agem de forma muito planejada. Eles têm vindo com efetivo muito grande. Temos essa preocupação e diuturnamente os policiais fazem uma ação prévia com monitoramento de estabelecimentos bancários e locais que possam ter um estoque maior de dinheiro. Observem que um crime dessa intensidade avalia muito o custo benefício da ação. Esses roubos mencionados, são praticados por quadrilhas com 30, 40, 50 criminosos. Então o retorno tem que compensar. Eles focam em locais com grande volume de dinheiro. Temos que estar preparados para isso. O BAEP tem treinamento para esse enfrentamento e nós aqui, na ponta da linha, sabemos o que devemos fazer, caso aconteça um crime desse porte. 

Como o senhor lida com a necessidade sempre de maior efetivo?
A questão de efetivo é sempre bastante sensível. O mundo está se transformando e os recursos se modernizando. Todos gostariam de ter um efetivo maior. Há um investimento mais forte nos meios eletrônicos para auxiliar na fiscalização e não há mais como a polícia atuar sem isso. Câmeras de monitoramento, radares inteligentes que a nossa cidade já dispõe e que estão conectadas ao sistema Detecta denunciam qualquer veículo produto de furto ou roubo, disparando um alarme. Essas tecnologias não têm como a polícia viver sem. A gente precisa da interação da comunidade para a segurança. Fernandópolis vem há vários anos investindo nesse tipo de segurança, criando esse sistema de monitoramento e que traz a segurança da cidade para um patamar bastante positivo. Isso não é custo, é investimento. A Atividade Delegada com os municípios e o Dejem (Diária Extraordinária por Jornada de Policial Militar) com o Estado são as maneiras que o poder público encontra de disponibilizar mais policiais para o policiamento preventivo. 

"A criminalidade tem que saber que a Polícia é presente e que corre o risco de responder pelos crimes que prática"

Nesse período de pandemia, qual foi o impacto entre os policiais militares, principalmente quando se fala de saúde mental?
Isso não é só na pandemia. É antes disso. O nosso dia a dia, isso é comprovado cientificamente, é uma das profissões que implicam mais diretamente na saúde mental de quem a exerce. Isso tem vários fatores. Trabalhamos com os problemas da sociedade. Cada ocorrência que o policial atende é uma situação de estresse. Junta os problemas familiares, cobranças que recebe diariamente, jornada de trabalho potencializada em busca de um salário melhor. Isso, claro, preocupa. Temos no Batalhão um setor de psicologia para tentar minimizar os impactos e apoiar os policiais. Nem sempre a policial busca por ajuda. É um problema que nos preocupa, sim.

A retomada nesse momento da pandemia fez aumentar os índices de criminalidade na cidade? Isso é real?
A gente tem essa percepção, sim. Normalmente nos parâmetros comparativos de dados estatísticos se usa o ano anterior. Se a gente for olhar para o 2022, em que houve a retomada por todos, até da criminalidade, veremos que aumentou, na comparação com 2021. No período da pandemia, até os criminosos tinham receio, não havia nem saidinha das penitenciárias. Tudo voltou agora potencializado, mais gente nas ruas, problemas econômicos, com muita gente passando necessidades por aí. Eu cito um exemplo. No mês de março, a nossa meta para os crimes de rua era zero. Isso porque em 2021, nesse período, estava tudo parado e não aconteceu nenhum roubo na região. E nesse ano tivemos cinco ou seis roubos. Então, veja só, a gente tinha a meta zero para os 10 municípios que formam a Companhia de Fernandópolis para o mês. Essa meta zero é um número surreal. Mas, se a gente olha para período antes da pandemia, vamos encontrar equivalência nos índices. 

"O policial é muito cobrado. Cada ocorrência que o policial atende é uma situação de estresse"

Está surgindo uma nova modalidade de crime que é do falso entregador de delivery nos grandes centros. Já notou algo semelhante aqui?
Não, aqui na nossa região, não. Mas, como disse, o criminoso está sempre inovando. O que antes era um conforto para as pessoas de trazer para a porta das casas os entregadores, já é algo que vai intimidar as pessoas. Na nossa região ainda não detectamos, mas temos que aprender com as coisas que estão acontecendo. Os criminosos vão vendo o que dá certo e vão replicando. Por isso precisamos sempre agir com cautela. (Obs: Na quarta-feira, 4, o governador Rodrigo Garcia, em entrevista anunciou o início da chamada "Operação Sufoco", que visa combater crimes contra o patrimônio em todo o Estado. A operação prevê segurança reforçada com o dobro do policiamento atual, que atualmente é de 5 mil agentes e chegará a 9,7 mil policiais, em todo o estado para tornar as polícias mais visíveis e presentes nas ruas, com isto aumentando a sensação de segurança da população).

As câmeras acopladas nos uniformes dos policiais já chegaram em Fernandópolis?
Por hora, são apenas algumas unidades da Polícia Militar que estão usando. Ainda não chegou no interior. É uma política de governo que está sendo avaliada. Com certeza o Poder Público está colocando na balança o que é melhor. O enfrentamento da criminalidade não é fácil. As pessoas não têm a noção do que é hoje estar abordando um criminoso e ter o embate no local.

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