Em meio ao colapso no sistema de saúde por conta da onda crescente de casos e internações por Covid-19, o prefeito André Pessuto (DEM) esteve na terça-feira, 6, no Palácio 22 de Maio Prefeito Edison Rolim, acompanhado do secretário de Saúde Ivan Veronesi para conversar com os vereadores. Da tribuna, lançou um apelo: “Me ajudem a salvar vidas”.
Em entrevista ao CIDADÃO e à Rádio Difusora, o prefeito reforçou o apelo. “Para a gente sair desse momento, só com união, com amor, com respeito ao próximo, se colocar no lugar do próximo e, principalmente, muita fé em Deus”.
Pessuto disse ainda que a Covid está atropelando as ações e obrigando a uma reinvenção diária. Citou o caso da UPA – Unidade de Pronto Atendimento – que de uma hora para outra precisou virar hospital para atender pessoas que chegavam e precisavam de atendimento. “Em meio a isso, precisamos resolver a questão da alimentação dos pacientes, já que a UPA não é local de internação”, relatou. Ainda temendo o que vem pela frente, o prefeito disse que estar prefeito em meio a pandemia é uma prova difícil. “Peço a Deus que me dê discernimento e serenidade para atuar e salvar o maior número de vidas possível”. Leia a entrevista:
O senhor esteve na Câmara na sessão de terça-feira e fez um apelo aos vereadores. O que o levou a tomar essa decisão?
Estive na Câmara, já que é lá que ecoa a voz da população, pedindo o auxílio, o apoio de todos os vereadores, de toda a sociedade, independente de questões políticas e partidárias. O momento é de união para tentar sair dessa situação tão conturbada que o mundo vem passando. Também estive lá para tratar de dois projetos importantes, um deles votado na sessão para, com recurso do próprio município, abrir 10 novos leitos de enfermaria e mais quatro leitos de UTI na Santa Casa, bem como a chegada (na quarta-feira, 7) da Usina de Oxigênio para a nossa UPA. São poucas as cidades do pais que terão UPA com usina de oxigênio para suprir a demanda. Então, a ida à Câmara foi um momento para mostrar aos vereadores, a imprensa e a toda a sociedade que para a gente sair desse momento, só com união, com amor, com respeito ao próximo, se colocar no lugar do próximo e, principalmente, muita fé em Deus.
A explosão de casos de Covid e de internações levou a UPA a praticamente virar um hospital sem ter estrutura para isso?
Sim, a UPA não tem estrutura física, nem de RH (Recursos Humanos) para ser um hospital, mas devido ao colapso de todos os hospitais da região, do Estado, do nosso País, obrigou as UPAs a virarem hospital da noite para o dia. Aquela tenda montada na frente da UPA não era para ter atendimento, era apenas para triagem, mas em menos de 15 dias a gente viu uma evolução tão grande na doença, que de uma hora para outra passou a ser ponto de atendimento. E como agravante, estamos com dificuldade para contratar pessoal. Não existem mais médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além da dificuldade para comprar anestésicos para manter as pessoas intubadas. É uma situação de colapso, não é problema só de Fernandópolis. Isso está acontecendo no estado, no país e no mundo. Vamos lembrar de países de primeiro mundo que vieram a colapsar, como a Itália, os Estados Unidos. Infelizmente chegou essa situação até nossa cidade. Estamos buscando fazer de tudo para garantir atendimento, com muita dignidade, com muito respeito ao dinheiro público.
"(A Covid) nos obriga a repensar soluções a todo instante, é uma reinvenção diária"
Como é lidar com mudanças no quadro da pandemia a todo o instante?
A situação do prefeito muda de hora em hora. De manhã você pensa uma coisa, na hora do almoço já é outra e a noite mudou tudo de novo. Somos obrigados a repensar soluções a todo instante, é uma reinvenção diária. Vou citar o exemplo da UPA que nunca teve estrutura para se dar comida à população lá dentro. Não tem estrutura para fornecer alimentação, porque ela não foi feita para isso. Qual foi a alternativa que encontramos, já que não podíamos sair comprando marmita em restaurantes da cidade para levar para o paciente, porque tem que ser uma comida especial, de hospital. A solução foi fazer uma parceria com a Santa Casa para que ela nos fornecesse a alimentação. Mas, até tirar isso do papel num órgão público demanda tempo, não é da noite para o dia. Tem todo um processo burocrático para que isso aconteça, porque senão o prefeito responde por crime de improbidade administrativa. São situações que a gente se depara diuturnamente e para as quais é preciso buscar soluções.
O senhor citou dificuldades para contratar pessoal para a linha de frente, mas quem está na linha de frente já enfrenta o esgotamento físico e emocional?
Sem dúvida, esse pessoal está cansado, esgotado, emocionalmente abalado. São heróis que a gente tem dentro da Santa Casa, dentro da UPA e nas Unidades de Saúde. São pessoas que estão expondo a própria vida para cuidar do próximo. Um enfermeiro, por exemplo, está vacinado, mas isso não impede que ele não vá pegar a doença e levar para dentro da casa dele, para a família dele. Imagina o emocional dessa pessoa todo dia lidando com essa doença que está ceifando vidas. Por isso que digo que precisamos ter empatia com as pessoas, nos colocar no lugar do próximo. Por mais maldita que essa doença seja, ela está aí para mostrar para toda a sociedade lições de vida, de que precisamos ter mais amor ao próximo, compaixão, respeito e quando a gente entender isso, vamos conseguir sair mais rápido dessa situação. Por isso, o meu apelo na Câmara para que a gente, de mãos dadas, unidos, vamos conseguir sair dessa situação.
Março foi um mês muito duro para a cidade e abril não deve ser diferente. Alguma luz no fim do túnel?
Na perspectiva da ciência é que abril e maio ainda sejam dois meses muito difíceis para todo o Estado, principalmente para nossa região. A gente não terá dois meses fáceis pela frente. Mas, o que a gente tem de notícia boa é que Fernandópolis está em primeiro lugar no ranking de vacinação de toda a nossa macro região. Estamos bem à frente na vacinação em nível nacional. Isso é uma notícia boa e a vacina é uma luz no fim do túnel. Vejam os Estados Unidos, o país se recuperou em três meses com a vacinação intensa por lá. O caminho é vacinar e se esforçar ao máximo para dar o atendimento a toda nossa população. Lembrando que atendemos aqui 13 municípios do consórcio de saúde diretamente e a cidade também é impactada com isso. A nossa Santa Casa é regulada pelo CROSS (Central de Regulação de Vagas) que atende o Estado inteiro e por isso muitas vezes, pacientes daqui vão para outras regiões e vice-versa.
"A UPA não tem estrutura para ser um hospital, mas precisou virar por causa do colapso dos hospitais"
Como está sendo a vida de prefeito nesse momento de pandemia de salvar vida e de outro lado, a economia que está praticamente paralisada?
É extremamente difícil, de muita emoção para quem tem sensibilidade, para quem tem amor ao próximo. Não está sendo fácil. Eu chego no gabinete, quando recebo a notícia de que faleceu alguma pessoa, isso corta o coração. Estou deixando de falar como prefeito, para falar como uma pessoa que teve uma formação humana que tive. Isso dói demais, machuca (o prefeito perdeu dois tios para Covid-19). Estar prefeito num momento desses, vendo pessoas perderem a vida, é um fardo enorme que temos que carregar. Todo o poder emana do povo, mas também tem o dedo de Deus e se ele me colocou aqui é para tentar salvar o maior número de pessoas possível. Me emociono todos os dias. Peço a Deus que me dê discernimento, tranquilidade, serenidade e que possa acalentar, acalmar o coração de todos os fernandopolenses. Com muita fé em Deus, vamos vencer essa situação.
"Se ele (Deus) me colocou aqui é para tentar salvar o maior número de pessoas possível. Me emociono todos os dias"
Que mensagem o senhor deixa aos fernandopolenses nestes tempos tão difíceis?
A hora é de juntar forças, independente de posicionamento político para buscar um caminho único que é sair dessa situação. E só vamos sair dessa situação se todos nós estivermos de mãos dados, pensando no bem comum. Fica o meu apelo à população que continue com o pensamento de solidariedade, de irmandade. Peço a todos, encarecidamente que usem máscaras, álcool em gel, o distanciamento social, evitem aglomerações em supermercados, reuniões familiares. São atitudes assim que vão nos ajudar a equacionar o problema que estamos enfrentando.