O empresário José Sequini Junior, o Junior da Secol, recebeu CIDADÃO esta semana em sua empresa para falar da decisão judicial pelo arquivamento do inquérito que investigou a venda de terrenos da Santa Casa. Durante os últimos dois anos preferiu ficar em silêncio. Agora, com a Justiça arquivando o inquérito, entendendo que não houve crime, ele decidiu falar: “Estou com a consciência limpa, com a alma lavada, porque ficou demonstrado que não estávamos errados. Tenho certeza que fiz tudo com a melhor boa vontade, tudo corretamente”, disse.
Na decisão publicada no final de novembro, o juiz da 2ª Vara de Fernandópolis, Vinicius Castrequini Bufulin, arquivou o inquérito policial aberto para apurar eventual crime de peculato na venda de terrenos da Santa Casa de Fernandópolis. O juiz acolheu parecer do promotor Daniel Azadinho Palmezan Calderaro, que não vislumbrou ocorrência de crime. Segundo o promotor, “restou comprovado pelas perícias elaboradas pelo CAEx – Centro de Apoio Operacional à Execução (órgão do Ministério Público que atua na realização de estudos, vistorias, pontamentos, pesquisas, relatórios, análises e perícias técnicas), que as vendas dos imóveis foram realizadas pelos valores de mercado à época, e não de forma subvalorizada”. “A Justiça foi feita, mostrou que o nosso trabalho era honesto, digno de quem só queria ajudar. Todos podem escolher o que plantar, mas é obrigado a colher o que plantou”, assinalou nesta entrevista ao CIDADÃO. A seguir:
Veio a público a decisão da Justiça determinando o arquivamento do inquérito policial que investigava a venda de terrenos da Santa Casa. Como recebeu essa decisão?
Que a Justiça tarda, mas não falha e ainda que Deus é pai não é padrasto, para que com isso possamos comprovar o trabalho que a gente fez, não só eu, mas toda a equipe da comunidade fernandopolense que entrou para ajudar a organizar a Santa Casa, mas que só recebeu pedradas, nem um elogio pelo trabalho realizado. De todo lado, só se viu denegrindo nossa imagem, de famílias, de companheiros que também se dedicaram e trabalharam muito pela Santa Casa, que chegaram a ser presos injustamente. Por uma conversa mal falada, denegriram a imagem de muitas pessoas, inclusive a nossa. Mas, Deus e a Justiça comprovaram que fizemos um trabalho só para ajudar, não só eu, como toda a equipe assim como colaboradores da Santa Casa e da Secol que se desdobraram por muito tempo para melhorar a Santa Casa, suprindo minha falta aqui na Secol e também ajudando nas promoções em prol do hospital. Quando chegamos a Santa Casa, com trabalho de muito afinco, se fez mudanças e melhorias nos equipamentos, em treinamentos, na requalificação profissional, na aparência e no tratamento dispensado. Foi o nosso legado. Sei o quanto é difícil administrar a Santa Casa. É muito fácil falar, jogar pedra é mais fácil ainda. Ser vidraça, trabalhar e arregaçar as mangas, poucos se dedicaram a fazer isso e colheram frutos amargos. Foi uma decepção muito grande para mim, para minha família, ver o nosso nome colocado dessa forma. Tenho certeza que fiz tudo com a melhor boa vontade, tudo corretamente, sempre para ajudar. Não queria comprar aqueles terrenos e fui até forçado a comprar para que a Santa Casa não perdesse as certidões para poder receber mais verbas. Fui forçado a comprar e escutar o que escutei. Agora a Justiça foi feita, de que o nosso trabalho foi honesto, digno de quem só queria ajudar. Agora vou cuidar da nossa empresa, da nossa família. Todos podem escolher o que plantar, mas é obrigado a colher o que plantou.
Como foi o momento da decisão pela compra dos terrenos da Santa Casa?
A Santa Casa recebia antigamente muitos terrenos em doação ou mesmo por aquisição. Tinha muitos terrenos na cidade. Só para se ter uma ideia, o terreno que comprei onde é a Secol e que ia ser o Shopping Center, tinha alguns lotes da Santa Casa. Comprei em 2001 esse terreno de 43 mil metros quadrados, asfaltado, na Marginal da rodovia por R$ 250 mil. E eu paguei em 20 lotes dentro de um buraco no Residencial Liana, sem asfalto, sem nada, R$ 270 mil em 2010, onde tive que gastar mais 80 a 100 mil para deixar plano. A gestão anterior tinha tentado vender aqueles lotes e não conseguiu, eu tentei vender e não consegui, porque a Santa Casa não tinha condições de pagar o IPTU. Alguns já estavam na dívida ativa para ir para leilão. Tentou-se vender e ninguém conseguiu. A gestão posterior contratou diversas pessoas, corretores, fez laudos de avaliação, fez edital publicado nos jornais, anunciou em rádio e também não conseguiu vender. Estava trabalhando quando veio uma equipe da diretoria que estava na gestão da Santa Casa, eu não fazia mais parte da diretoria, intimando que tínhamos que comprar os terrenos, porque só eu e o Nelson (Careno), que também não estava mais na diretoria, é que tínhamos condições de fazer a compra. A minha mulher (Irene) até avisou: você não precisa disso. Ela tem um sexto sentido muito forte. Na primeira vez, até falei não, e depois de muita insistência a gente acabou, tentando ajudar a Santa Casa, tanto eu quanto o Nelson Careno, compramos terrenos que a gente não precisava. A nossa ideia foi ajudar a Santa Casa e recebemos essas pedradas pelas costas, achando que a gente ficou rico com os terrenos da Santa Casa. Nem quem tinha dinheiro para receber da Santa Casa aceitou aqueles terrenos. É isso que deixa a gente mais sentido, tentamos ajudar e ainda vimos nosso nome jogado na lama.
Esse foi, literalmente, o pior negócio da sua vida?
Com certeza, hoje não faria nem que viesse o padre pedir. É única coisa da qual eu me arrependo na minha vida, ter comprado esses terrenos da Santa Casa.
"Denegriram a imagem de muitas pessoas. Mas, Deus e a Justiça comprovaram que fizemos um trabalho honesto"
Tudo isso que você e outros passaram, desestimulam pessoas ao trabalho voluntário?
Fernandópolis já está colhendo isso. Eles ficam brigando tanto. Só para ter uma ideia, um amigo meu que comprou uma bandeira de marca de veículos que já teve aqui em Fernandópolis, a fábrica exigiu que ele montasse em Votuporanga e Jales, não aqui. Eu já falei para algumas pessoas que fazem parte da classe política fernandopolense que, enquanto eles ficam brigando, as outras cidades estão deslanchando, apesar do André (Pessuto) estar fazendo um grande trabalho, maravilhoso, trabalha demais, é um prefeito maravilhoso, tanto que Fernandópolis ganhou como a melhor cidade entre as três do Brasil. Isso é um feito inédito, que o André precisa receber essa honraria pelo excelente trabalho dele. Mas, as demais classes políticas que deveriam trabalhar junto com ele, ficam jogando pedra nos empresários fernandopolenses. Qual fernandopolense hoje tem disposição para montar uma agência de veículos em Fernandópolis? Quem quer tocar a Santa Casa? Para que? Para ver o que eu e alguns amigos, que fizemos esse trabalho durante tantos anos, deixando suas empresas para se dedicar a uma causa e, depois, levar pedradas? Volto a reiterar, você pode escolher o que plantar, mas é obrigado a colher o que plantou. Eu já decidi o que vou fazer, mas Fernandópolis, a classe política, precisa decidir o que querem para daqui 10, 20, 30 anos. Ser uma cidade pujante, que seja centro de região, ou uma cidade satélite de Votuporanga e Jales. Deixo essa questão para a classe política, se vai continuar jogando pedra nos empresários fernandopolenses ou começar a trabalhar pela cidade. Quantas empresas de porte se instalaram em Fernandópolis nos últimos anos? Quantas fecharam? Quantos empresários começaram aqui e hoje estão fora? É isso que acho que, principalmente a classe política, parte da imprensa, precisa pensar. Jogar pedra pode até dar dinheiro e notoriedade, amanhã pode sentir falta dele.
Seu nome sempre era cogitado para ser candidato a prefeito de Fernandópolis, coisa que você nunca assumiu. Acha que isso pode ter contribuído para ser alvo das “pedradas”, como diz?
O dia que assumi a Santa Casa, ou no dia que inaugurei o Hotel que foi o último empreendimento que fiz em Fernandópolis, se os políticos tivessem prestado atenção teriam notado que o meu discurso foi o mesmo: eu não sou filiado a partido político nenhum e nunca vou ser. Não tenho pretensão política nenhuma. Tenho pena de quem se dispõe deixar seu trabalho para ser político. Tanto que pessoas de boa fé, poucos se dispõem a isso, haja vista o que temos hoje de político no Brasil.
Ser empresário de sucesso em Fernandópolis incomoda as pessoas?
Não sei se é isso, mas cidades próximas a nós, os empresários de sucesso são tratados como heróis, porque geram emprego, renda. Aqui parece que a gente é um pária. Não sabem os empregos que geramos, o que passamos dia e noite para pagar salários aos funcionários.
"Cidades próximas tratam os empresários de sucesso como heróis, porque geram emprego, renda. Aqui parece que a gente é um pária"
E o futuro?
O futuro a Deus pertence. Estamos com projetos novos e maravilhosos. Creio que vamos ter um Brasil muito melhor e rogo a Deus que esse evento possa trazer melhorias e que algumas pessoas importantes da cidade possam refletir sobre atitudes e o que querem pra cidade nos próximos anos. O Brasil que queremos somos nós que vamos fazer. Fernandópolis também.
O seu amor pela cidade foi afetado pelo que passou?
Eu gosto de Fernandópolis. Não vou deixar de gostar. Fiquei decepcionado com alguns fernandopolenses. E isso fez abrir os olhos para ver que o Brasil não era só Fernandópolis, que a minha vida não era só Fernandópolis. Temos empreendimentos em outros locais agora, coisa que não tinha. Tudo que tinha estava em Fernandópolis. Rogo para que Fernandópolis deixe de olhar apenas para seu umbigo e olhe a sua volta, veja as potencialidades que tem, arregace as mangas. Não adianta brigar com Votuporanga, Jales, Santa Fé. Tem que se unir para transformar a nossa região, que é a segunda mais pobre do Estado, por que senão se reinventar e melhorar, algumas cidades vão sobressair, outras vão ficar para traz. Depois que a locomotiva passar, ou que o cavalo passar arreado, não adianta correr atrás para montar. Já foi. É uma hora importante, estamos com a Ferrovia Norte-Sul passando aqui, perdemos o ponto de interligação para Estrela d´Oeste, mas devia trabalhar para colher os frutos e não ficar apenas com o apito do trem. Vamos perder o entreposto da Coruripe que está sendo construido em Iturama. É o segundo maior arrecadador de ICMS, que vai afetar a renda da cidade.
"A cidade precisa acordar, porque a grande oportunidade está passando"
Com esse arquivamento, você coloca um ponto final nesta história?
Coloco uma pá de cal em cima. Estou com a consciência limpa, como sempre estive, mas também com a alma lavada, porque demonstrou que não estávamos errados. Nunca quis ficar rico na Santa Casa. Ao invés disso, investi muito, mas Deus me deu em dobro. O que coloquei de dinheiro lá não preciso falar para ninguém. Minha alma está tranquila, porque atendi um pedido do meu pai, ele estava doente e me pediu para dar uma organizada no hospital. Eu fiz o melhor que pude, com apoio e dedicação de todos os colaboradores da Santa Casa, da Secol, e todos, homens e mulheres, de boa-fé, de voluntários, que trabalharam conosco na nossa gestão e gestões posteriores. Hoje a Santa Casa está com administração judicial. Talvez seja o caminho dela. O juiz, talvez, é melhor para tocar do que a comunidade. Pode ser um bom futuro para a Santa Casa. Mas, Fernandópolis não é só Santa Casa. A cidade precisa acordar, porque a grande oportunidade está passando.