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“Eu sou prova do milagre de Deus”



“Eu sou prova do milagre de Deus”


Essa é a certeza que está gravada no coração da fernandopolense Lilian Alves de Lima, 34 anos, um ano após realizar o transplante de medula óssea. “Foi uma oportunidade que Deus me deu de renascimento”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO. Foi no dia 4 de agosto de 2020, em meio a pandemia da Covid-19, que Lilian recebeu a nova medula doada por uma mulher. Mas, foi no dia 16 de agosto que a nova medula começou a funcionar, ou como escreveu em seu diário: foi o dia que a medula pegou. “Posso dizer que é meu segundo aniversário”, afirma.
A história de Lilian é igual a de tantas mulheres guerreiras. Enfermeira formada na FEF, casada com Sérgio Lima e mãe da Alice, foi diagnosticada com leucemia mieloide aguda em dezembro de 2019. “Era uma quinta-feira, 5 de dezembro, quando recebi a notícia. Perdi o chão. Eu estava trabalhando, com minha rotina, minha vida e o meu corpo dando sinais e eu não percebendo o que estava acontecendo”, relata.
Lilian viveu meses de angustia, sem perder a fé. Em março, em entrevista ao CIDADÃO afirmou: “Deus vai me curar”.  Hoje, reafirma: “Deus me curou. Eu sou o milagre de Deus”. Ao completar um ano do transplante, período em que também chegou a contrair Covid e Dengue, Lilian aceitou dar o “testemunho do milagre” nesta entrevista onde reforça a importância de ser doador para salvar vidas. “A minha doadora arriscou a vida dela para salvar a minha”. Leia a entrevista:

O que representou o dia 4 de agosto de 2020?
Foi uma oportunidade que Deus me deu de renascimento. Deus me presenteou com dois doadores de medula. Foi o dia que fiz o transplante. Foi uma segunda chance de continuar minha história.

Oito meses antes, em dezembro de 2019, você foi impactada com o diagnóstico da leucemia?
Sim. Foi no dia 5 de dezembro de 2019, uma quinta-feira, quando recebi o diagnóstico de leucemia mieloide aguda. Perdi o meu chão naquele dia, meu mundo desmoronou, mas tinha certeza que não estava sozinha, que Deus estava comigo cuidando de tudo e que aquilo tinha um propósito. Eu orei muito e tive muita fé que Ele iria me ajudar, me sustentar e estaria comigo em todos os momentos e que iria passar. Mas não deixa de ser uma notícia extremamente inesperada. Jamais imaginava passar por isso. Eu estava trabalhando, com minha rotina, minha vida e o meu corpo dando sinais e eu não percebendo o que estava acontecendo.

"Foi uma segunda chance que Deus me deu de continuar minha história"

Em março de 2020, quando foi lançada a campanha por busca de medula em entrevista ao CIDADÃO você foi taxativa: Deus vai me curar. Essa era uma certeza que tinha no coração?
Sempre tive essa certeza. Deus sempre esteve comigo, com minha filha, com minha família, tanto que hoje sou a prova do milagre de Deus. Em janeiro (2020), quando tive alta, depois de ficar 30 dias internada, tive a notícia que só o tratamento com quimioterapia não bastaria. Eu precisava de um doador de medula para o transplante para ter chance de cura. Naquele momento a minha fé falou mais alto e coloquei no meu coração que Deus ia preparar esse doador, essa pessoa que iria salvar minha vida.

Em meio a campanha pela medula, chegou a pandemia da Covid-19. Ela trouxe medo de que talvez não conseguisse a medula por tudo que estava acontecendo?
É difícil falar que isso não gerou nenhum medo, porque as notícias não eram boas. Os jornais traziam que os transplantes estavam suspensos por causa da pandemia. O foco era a pandemia. Foi muito difícil esse momento, imaginar que eu precisava de alguém para salvar minha vida. Eu também tinha que me proteger de tudo isso que estava acontecendo, era tudo muito novo, e precisava que Deus tocasse no coração para que a gente encontrasse esse doador, para que ele arriscasse a vida dele para salvar a minha. Nesse momento gerou medo no meu coração, mas minha fé sempre falou mais alto, de que Deus estava no controle.


"A minha nova medula é um bebê, está criando imunidade, principalmente a vacinal"

Como foi receber a notícia que um doador compatível tinha sido encontrado?
No mês de maio, junho, houve a notícia um possível doador, mas não temos informação do que aconteceu, se ele desistiu ou o que ocorreu. Naquele momento, quando disseram que não tínhamos mais esse doador, foi muito difícil para mim. Era preciso iniciar uma nova busca entre os primos de primeiro grau. Foram testados, de início, sete primos de primeiro grau e depois iam testar mais, e nenhum deles era nem 50% compatível. Claro que o desespero e a dor foram aumentando, porque nesse momento chegou a ter um possível doador, localizado pelo Redome (Registro Nacional de Doadores), que a gente enxergava como uma grande oportunidade que acabou não dando certo. Mas, sabia que, se Deus tirou aquele doador, ele me presentearia com dois. Era só ter calma e fé. Em julho, chegou a notícia que dois doadores compatíveis tinham sido encontrados, que ambos aceitaram fazer a doação pra mim e que só faltavam alguns exames que foram realizados e veio a confirmação de que estava tudo certo para a doação.

Chegou então o dia do transplante. Como você estava?
Fui internada alguns dias antes do dia 4, dia do transplante. Fiz quatro dias de quimioterapia, a mais invasiva que tem, para “matar” toda minha medula, todas as células sanguíneas para que eu pudesse receber as células do doador. Esse transplante é o renascimento. Essa doadora, sei que foi uma mulher, foi um presente de Deus, porque ela era igualzinha a mim. Todos os exames eram iguais aos meus. Então, existe alguém igual a mim que se doou, arriscou a sua vida para salvar a minha, em meio a pandemia, ao caos, para nesse dia, 4 de agosto realizar o transplante.

E quando foi que gritou “a minha medula pegou”?
Foi no dia 16 de agosto. No dia 4 fiz o transplante, só que até o dia 16 a quimioterapia que fiz ainda estava matando minha medula até zerar realmente. Tinha que estar com medula zerada para que a medula nova começasse a trabalhar dentro de mim. E isso foi no dia 16 de agosto. Posso dizer que é meu segundo aniversário. Pra mim vai ser a data em que Deus me deu uma nova oportunidade. Então é um dia muito especial para mim. É o dia que a medula da minha doadora começou a funcionar em mim e pude começar a melhorar meus exames e um dia depois já tive alta, fazendo o acompanhamento no hospital dia, mas já não mais internada e comemorando a vitória de que a medula já estava funcionando.


"Um ano de muita gratidão a Deus, porque ele me guardou, cuidou de mim"

Você completa um ano do transplante. Como foi esse período com a medula nova?
Um ano de muita gratidão a Deus, porque ele me guardou, cuidou de mim. Foi um ano extremamente cuidadoso, de acompanhamento rígido, com exames semanais, que depois passaram a ser quinzenais e agora são mensais. É um ano de vitória, de renascimento dia após dia. Um ano que dou valor em cada detalhe que acontece na minha vida, em cada momento que tenho. Eu consigo hoje enxergar as coisas de uma forma totalmente diferente. Não que não tenha dias tristes, difíceis, mas quando lembro de tudo que Deus fez por mim, do que passei, meu coração se enche de gratidão.

Já pode dizer que a vida está normalizada ou sobrou alguma sequela?
Ainda não posso ter uma vida normal pelo fato de que preciso de cuidados por conta da imunidade. Eu estou em tratamento médico contra uma doença que é o exerto contra o hospedeiro, que é comum depois do transplante. Estou com minha pele um pouco afetada por essa situação, tomo algumas medicações. Ainda preciso de cuidados. Também tem a questão da vacinação. Como fiz um transplante eu perdi toda a minha memória de imunidade, de vacinas. Estou tomando todas as vacinas novamente, aquelas vacinas que se toma quando bebê, de criança, porque tudo foi apagado com o transplante. Então preciso recuperar isso ao longo do tempo. É um passo de cada vez. Os médicos falam em cura em cinco anos. Mas, eu creio, em nome de Jesus, que eu estou curada.

Isso reforça mais a tese do renascimento, porque podemos dizer, sua medula é como se fosse um bebê?
Exatamente. Eles tratam esse primeiro ano como se eu fosse um bebê, que precisa de cuidados, adquirir novos hábitos e cuidados alimentares. A minha nova medula é um bebê, está criando essa imunidade, principalmente a vacinal.

Por falar em vacina, você tomou a da Covid-19?
Graças a Deus já tomei. Estou imunizada mas, para aumentar o testemunho eu tive Covid, graças a Deus fiquei super bem. Tive dengue, fiquei mal da dengue, mas superei também. Tudo para a glória e honra do nome de Jesus.

Você falou dos cuidados e, além da sua fé em Deus, teve também o apoio e amparo de muita gente, não....
Inexplicável falar da força que a minha família, amigos e pessoas que nem conheço, me deram. Foi apoio, foi oração, mensagens, ligações, pessoas enviando louvor. A minha família em primeiro lugar, porque cuidaram de mim, não soltaram a minha mão em nenhum momento. Cuidaram da minha filha, da minha casa, da minha família. A minha irmã (Flávia) cuidou de tudo, enquanto minha mãe (dona Matilde) estava comigo. O meu pai (seu Walter), meu esposo (Serginho Lima), todos cuidando de mim. Os amigos, a Igreja, todos muito próximos, e até pessoas que nem me conheciam e que foram doar sangue para mim, tiveram esse gesto lindo de amor, de cuidado, de oração.

E a pequena Alice, foi uma guerreira?
Foi uma guerreira. Deus deu muita sabedoria a ela, sustentou, deu entendimento, porque ela é uma menina especial, maravilhosa, que soube compreender cada etapa do tratamento, cada momento que precisei me afastar. Minha filha foi a minha força. Sabe, algo que passava muito em meu coração, é forte pensar isso, mas eu falava: Deus eu preciso criar a minha filha. Não posso dar esse desgosto do meu pai e da minha  mãe enterrar uma filha. Eu preciso do senhor neste momento. Em oração eu pedia muito isso. Por isso hoje aproveito cada momento do lado da minha filha, da minha família.

Neste domingo é Dia dos Pais e você vai poder comemorar essa data com dois homens importantes na sua vida...
É um dia muito importante. Meu esposo foi um elo de ligação com nossa filha neste momento. Cuidou, amou, brincou, foi orientando, ela é completamente apaixonada no pai. E o meu pai foi o sustento, a base para a família, além de ser um homem íntegro, extremamente cuidadoso, amoroso, auxiliador, sempre à frente cuidando de tudo, enquanto estava internada, na falta de minha mãe. Vai ser um dia especial estar com meu pai e com meu esposo comemorando a vida e podendo agradecer a Deus pela vida deles, por tudo que fizeram por mim e pela nossa família.

Por tudo isso, a mensagem é o quanto é importante ser doador, salvar vidas...
Exatamente, a atitude de minha doadora em meio a pandemia, arriscando vida para salvar a minha, é uma atitude de amor, de empatia. É muito mais do que falar, ela teve atitude de fazer seu cadastro e doar. O meu apelo é para que todas as pessoas façam a doação de sangue, se inscrevam como doadores de medula para que outras pessoas tenham a oportunidade de viver e de renascer.

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