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Fernandopolenses entram na onda do pedal



Fernandopolenses entram na onda do pedal

Na semana que se comemora o Dia Mundial da Bicicleta (3 de junho), uma constatação: os fernandopolenses entraram na onda do pedal.  Um novo estilo de vida que agrega saúde com ações sociais e ambientais. A entrevista da semana é com a empresária do ramo de bicicletas Iramaia Cristina de Oliveira Lopes, que ao lado do irmão, comanda a Bicicletaria Monarke que já tem uma história de 41 anos na cidade e que recentemente investiu em um novo padrão de loja.
Em meio a pandemia, pedalar ao ar livre foi uma maneira de cuidar do corpo e da mente. Mais gente aderiu ao ciclismo. Esse foi o lado positivo. O negativo, é que a procura enorme por bicicleta e reposição de peças provocou elevação de preços. Efeito da lei da oferta e procura. Iramaia fala também da sua paixão pelo ciclismo, da oportunidade de investir na saúde, ter amigos, curtir e explorar as paisagens maravilhosas da nossa região e das aventuras, como a mais recente, quando pedalou 210 quilômetros. Leia a entrevista:


"A busca pela qualidade de vida tem levado pessoas a investir no ciclismo"

Na próxima quinta-feira, 3 de junho, é o Dia Mundial da Bicicleta, data instituída pela ONU 2018. Como empresaria do ramo e ciclista, como avalia o crescente interesse pelas bicicletas?
O crescente interesse pelas bicicletas se dá por vários aspectos preponderantes. A busca pela qualidade de vida tem levado uma grande porcentagem de pessoas a praticarem algum exercício físico. Muitos têm grandes dificuldades em se adequarem a lugares fechados, precisam de companhias para não desistirem, e então a bicicleta é uma opção. Um outro fator também é a questão fisiológica do indivíduo. Aqueles que tem problemas com exercícios de impacto e afins, a bicicleta está sendo o instrumento mais recomendado pelos médicos. Um outro fator muito interessante, que ouço amigos e clientes relatarem, é a questão da propagação de imagens e relatos de ciclistas, que influenciam grandemente a pessoa a dar o primeiro passo na compra da bicicleta.  

Qual foi o impacto da pandemia no setor?
O início da pandemia, como todos tem ciência, nos trouxe grandes preocupações. Impactos positivos e negativos dentro do setor. Dentre os impactos positivos, um dos únicos exercícios “liberados”, dentro das regras impostas para nossa própria segurança e segurança daqueles que nos rodeiam foi pedalar. No setor, quem estava abastecido com estoques de bicicletas e peças de reposição obteve resultados animadores. O impacto negativo foi na lei da oferta: a busca pela bicicleta e peças de reposição foi maior do que a oferta, e então se estabeleceu situações que elevaram os preços dos fornecedores, e consequentemente incidiu no consumidor final.

Em termos de vendas, qual o aumento percentual em Fernandópolis nos últimos anos?
Tudo é um resultado de soma de esforços e investimento. Investimos numa nova loja, um novo conceito, uma nova proposta. O investimento foi altíssimo considerando os padrões de lojas e bikeshops. Mas o sonho de realizar algo diferente, como sempre nosso pai nos instigou, nos levou a repensar e realizar algo que ele mesmo realizaria se estivesse aqui conosco. O amor que ele tinha por Fernandópolis foi transferido a nós, e então, minha mãe, eu e meu irmão Aleudson, decidimos honrar a memória do nosso pai e honrar a cidade que moramos com essa bela loja. Nossa conclusão é que em 41 anos de existência, Fernandópolis merecia uma loja nesse padrão. Nossos clientes mereciam e nossa busca por novos clientes também pesou nas decisões. Dessa forma, com esse alto investimento, consequentemente o percentual de vendas se elevou, favorecendo o cumprimento de nossas obrigações junto a nossos colaboradores e junto a nossa família.

Qual é o perfil do fernandopolense que mais procura por uma bike? Qual o seu desejo?
Ao chegar na loja, 99% dos clientes que querem iniciar no mundo das bikes procuram por uma bicicleta básica, não muito cara, mas que venha atender seu objetivo principal do momento: Começar a prática de um exercício físico. Muitos não entendem nada sobre a compra e precisam de muita ajuda para tirarem todas as dúvidas possíveis. Muitos chegam e dizem: “quero uma bike bem barata, pois não sei se vou continuar”. É aí que entra uma questão fundamental: o vendedor precisa saber lidar com esse cliente, transmitindo a ele a paixão que é a pratica do pedalar e dar então segurança na compra da bike. Afinal é o investimento que ele pode, e então temos que valorizá-lo por isso, respeita-lo nas suas decisões, independentemente do valor da bike que ele adquiriu.

A gama de modelos de bicicletas atende todos os bolsos e desejos?  
Sempre digo que não existe bicicleta ruim. O que enfatizo é ONDE e COMO a pessoa irá pedalar. Cada bicicleta é feita para um objetivo. Se falarmos em modelos, citamos as urbanas (locomoção, trabalho, escola e exercícios dentro da cidade - asfalto), as MTBs (pratica em trilhas), e as bicicletas de estrada (speed). O cliente nos diz o limite do investimento que quer realizar, e dentro daquele valor, montamos o orçamento de uma bike conforme seu desejo. Enfatizo que a melhor bike é aquela que você pode comprar e ser feliz. Tenho amigos que pedalam comigo com bikes consideradas “ruins” por alguns. Mas não. Ele pode comprar aquela, e está sendo feliz com a bicicleta que tem.

Com o crescente interesse pela bike, surgiram grupos de ciclistas, incluindo de mulheres. É uma forma de compartilhar o prazer de pedalar?
Sim! Em Fernandópolis, temos “grupões”, onde compartilhamos os eventos, informes e notícias sobre a bicicleta, e temos os grupos menores, tidos como “amigos com mais afinidades”, que construíram amizades através da inserção nesses “grupões”. Só o ano passado, no início da pandemia, eu incluí mais de 100 mulheres nesse grupo maior de mulheres que temos aqui. Através desse contato com ciclistas nos grupos, o desejo e o estimulo são maiores, pois ali compartilhamos nossas experiências dos pedais que realizamos. Esse mês, eu e um pequeno grupo, pedalamos durante a madrugada 210 kms. Saímos daqui no sábado as 17:45 e chegamos no domingo as 08:50. Essa experiência então relatamos a todas as meninas, principalmente àquelas que estão começando e um dia querem pedalar seus longões. São relatados como fazer um pedal desse, o que comer, como se preparar, o que deve evitar, etc.

O ciclismo também se vinculou muito nos últimos tempos a ações sociais e ambientais. Como avalia?
Como dizemos sempre: no nosso meio, nos consideramos gente que se preocupa com gente. Toda ação social que os administradores de grupos propõem, a grande maioria se empenha e ajuda a fazer acontecer. E isso traz então o sentimento de solidariedade, mesmo àqueles que não fazem parte do grupo, sentem o prazer em estar conosco nessas ocasiões. No quesito ambiental, sempre mostramos o que de mais belo tem em nossa região, e lutamos para que isso seja preservado. A bicicleta nos leva a lugares jamais imaginados. Quantos não sabem as belas cachoeiras ou corredeiras que há tão pertinho de nós. E isso nós “descobrimos” através da bike. E então mostramos. Com nossas fotos e filmagens, valorizando nossa região.

Você cresceu numa loja/oficina de bicicletas. O que mudou no conceito do negócio?
Quando criança, me lembro da nossa pequena loja... peças e oficinas tudo misturado. Atendíamos a um público que utilizava a bicicleta apenas como meio de transporte, e ainda assim porque não tinha um carro. Hoje o conceito mudou porque nosso cliente mudou de conceito. Hoje você vai ao trabalho de bicicleta porque considera um meio mais prático, barato e que ainda incide de forma totalmente satisfatória sobre o meio ambiente. Hoje nosso cliente quer qualidade de vida. Então ele compra uma bicicleta para praticar exercícios físicos. Hoje nosso cliente tem como “hobby” as competições de bike, investe e treina muito. Hoje nosso cliente pesquisa o melhor local para comprar seu produto, vai as redes sociais a procura do perfil comercial que precisa. Hoje nosso cliente quer conforto e facilidade, vai e compra pelo ecommerce. Temos que acompanhar essa necessidade imposta pelo nosso cliente, esse perfil singular e único de cada um. O negócio tem que captar os anseios do cliente que vem para loja física e o cliente que quer comprar através das redes sociais. É um desafio constante. Então considero que o empresário também tem que estar em constante transformação.

"Além de ciclovias, o grande anseio dos ciclistas é a construção de um local de treinos"

Em termos de mobilidade, Fernandópolis é uma cidade que acompanha essa crescente demanda pela bicicleta?
Infelizmente ainda não. Digo ainda, pois tudo tem possibilidades de mudanças, e sempre acredito no melhor e naqueles que colocamos para governar. Ouvimos falar e vimos fotos de alguns projetos de ciclovias para nossa cidade. Acredito que sairão do papel. Como empresários nos mobilizamos para oferecer o melhor para nossos clientes, acredito que nossos governantes tem o mesmo objetivo: transformar nossa cidade para que atenda aos anseios da população. Investir em saúde não é somente oferecer o “remédio”. Investir em saúde é oferecer a prevenção. E sabemos que a maior prevenção para a saúde e bem estar de uma pessoa é o exercício físico. Além de ciclovias para a mobilidade urbana com bicicletas, o grande anseio dos ciclistas, principalmente os de estrada (speed) é a construção de um local de treinos, devido aos perigos na rodovia. Um dos locais que ansiamos para essa construção é a vicinal que liga até a Universidade Brasil.

"Para uma boa convivência, regras de trânsito devem ser respeitadas. É uma via de mão dupla"

Como anda a convivência entre ciclistas e o trânsito da cidade?
Seria injusto eu classificar todos na mesma categoria. Há pessoas que nos respeitam como parte do transito, como um meio de locomoção também. Mas há aqueles que acham que só atrapalhamos. Sabemos nitidamente quando há o respeito por nós, ciclistas, pois são motoristas que fazem questão de passar pelo menos a 1,5 metro de distância, esperam nos pares e até dão passagem. Mas há aqueles que “tiram fina”, mesmo nós certos, na nossa mão, como dizendo “sai da frente que está atrapalhando”. No entanto, sabemos também que há ciclistas inconsequentes e muitas vezes não seguem as normas estabelecidas para serem um bom representante da categoria: uso de equipamentos de segurança, tais como capacete, sinalizadores, luvas. Que devem pedalar sempre a direita e obedecer às sinalizações de trânsito. A maior incidência de ciclistas que tomaram a bike como instrumento de prática de exercício é sempre após as 18h00. Nessa hora, imploramos então aos motoristas que nos respeitem e nos ajudem nesse nosso objetivo. Só queremos pedalar e adquirir qualidade de vida. Convido a todos para experimentarem essa prática, e entenderão o que sentimos. Não é modinha... Em cima daquele selim, tem um pai, um irmão, uma mãe, uma irmã, um filho(a) ... tem um ser humano. Sabemos que para toda boa convivência regras devem ser respeitadas. E as regras são uma via de mão dupla. A partir daí se dá o respeito.

Em entrevista recente você lembrou uma frase de seu pai Astrogildo Marques de Oliveira, que dá nome a principal ciclovia da cidade, à sua mãe de que a bicicleta era o futuro quando decidiu abrir o negócio. Ele acertou?
A meu ver foi até uma profecia na nossa vida (risos). Sua visão sobre duas rodas foi ampla e completa. O futuro trouxe a necessidade do exercício físico, a necessidade do ar livre, a necessidade da preservação ambiental. Se somarmos essas necessidades, veremos que o resultado se dá em apenas uma palavra: bicicleta.

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