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“Fiz o impossível”, diz autor do livro sobre a história da Águia



“Fiz o impossível”, diz autor do livro sobre a história da Águia

Após quatro anos de pesquisa e mais de 4,5 mil quilômetros de viagens, o bancário aposentado Gil Cipriano, como é conhecido, lançou esta semana o livro “Alma Águia”, um almanaque com os 61 anos (agora 62, completados na quarta-feira, 15) de história da “Águia Fernandopolense”. “Quando pensei em pesquisar a história e os jogos da ABE e Fernandópolis FC. disseram que era impossível. O impossível eu consegui. Todos jogos oficiais de campeonatos, são mais de 1.300, 90% deles com fichas técnicas”, disse Gil durante entrevista à Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO, para falar do lançamento do livro que ocorreu na segunda-feira, 13, durante evento na Câmara de Fernandópolis. O livro com 384 páginas e com edição limitada de 250 exemplares não tem similar na região. “É um documento histórico, rico em detalhes sobre a história da ABE que depois virou Fefecê. Me sinto com o dever cumprido”, resumiu Gil nesta entrevista que você lê a seguir:

Como surgiu a ideia de pesquisar a história do futebol profissional de Fernandópolis?

Após ter me aposentado como bancário em 2014, retornei para Fernandópolis. Eu tinha como objetivo resgatar a história do Fernandópolis Futebol Clube desde 1961 com a ABE (Associação Bancária de Esportes) que tem uma história rica. Foram quatro anos de pesquisas. Nas viagens por vários lugares, quando as pessoas perguntam onde moro e quando você responde que é Fernandópolis eles logo relacionam com o time de futebol. Isso foi aumentando minha motivação para me aprofundar nas pesquisas e chegar ao resultado que foi o lançamento desse livro.

O lançamento ocorreu na semana do aniversário do Fefecê (15 de novembro)?

Então, no livro a gente aborda algumas peculiaridades. Por exemplo, o Fernandópolis surgiu após um plesbicito em novembro de 1965, quando mudou o nome de ABE para Fernandópolis FC. o que foi concretizado a partir de 1966. Só que nos registros, comenta-se que a fundação foi 15 de novembro de 1961. Na realidade não foi. O que acontece é que nos anos 50 e 60, Fernandópolis tinha equipes amadoras tradicionais que participavam de campeonato amador muito forte, organizado pela Federação por regiões. Nós tivemos aqui o Cacique que foi campeão, o América e tinha a ABE que ainda era amador. Na época houve um consenso na cidade que deveria ter um time profissional. Foi então que o diretor Sérgio Caetano em 15 de novembro de 1961 tornou a ABE com personalidade jurídica. Então podemos dizer que não foi a fundação, mas o dia de constituição de uma personalidade jurídica do time de futebol. Encontramos registros de 59, 60, que já tinham jogos da ABE.

"É um livro que não tem similar na região e conta a rica história da ABE e Fefecê"

Qual foi o ponto inicial da pesquisa para puxar o fio da meada da história do futebol fernandopolense?

Quando retornei a Fernandópolis no final de 2014, no ano seguinte o time fez aquela campanha onde foi vice-campeão em 2015. Conversando com torcedores que já tinham iniciado algum tipo de pesquisa, queria saber se eles tinham noção de quantos jogos o clube fez, etc. A resposta deles foi que seria impossível conseguir. Para mim não existe impossível. Entrei em alguns grupos de pesquisadores e com um amigo de Sorocaba falei sobre o desejo de resgatar a história do Fefecê. Queria saber primeiro como iniciar essa pesquisa. Ele foi passando dicas e comecei a fazer pesquisas nos jornais. Visitei 26 cidades, percorri mais de 4,5 mil quilômetros, estive em São Paulo fazendo pesquisa no Museu do Futebol, no Arquivo Público de São Paulo, fiz pesquisa em Uberaba, Belo Horizonte e até na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Em cada lugar que ia encontrava alguma informação. As vezes não era aquilo que esperava. Nesse trabalho cheguei a marca de 1.332 jogos oficiais. O impossível eu consegui. Todos jogos oficiais de campeonatos. Na Federação Paulista de Futebol, com o incêndio que teve em 1995, perdeu-se parte do acervo (recebi um e-mail que está no livro). Desses 1.332 jogos, 10 foram por WO. Dos 1.322 jogos que restaram eu consegui 1.209 fichas técnicas, mais de 90% dos jogos. Consegui informações adicionais, que coloquei no livro, não seria ficha técnica completa por que de repente falta a escalação do time ou falta quem fez o gol. Foram 90 jogos. É um livro que se você pegar na nossa região não tem similar. América, Rio Preto ou qualquer outro time não tem o livro com tanta informação como tem esse.

O livro também resgata inclusive os distintivos oficiais?

Sim, e sempre foi a Águia como símbolo desde os tempos da ABE. Tem um detalhe que o livro revela que a ABE usava uniforme amarelo, mas quando foi disputar o campeonato de 1963, a Federação não deixou e o time precisou mudar a cor devido ser o uniforme semelhante ao da Seleção Brasileira. O livro tem 384 páginas de informação, traz todos os presidentes desde 1961, todos os técnicos e uma relação de 290 amistosos, fichas técnicas de 100 amistosos e traz também o jogador que mais vestiu a camisa do Fefecê que o torcedor descobre na leitura do livro. O artilheiro não é segredo, é o Tato. Mas, tem uma divergência. Dizem que o Tato tem 205 gols, mas descobri outros três gols dele, então são 208 com a camisa do Fefecê.

"O livro tem 384 páginas de informação desde 1961 sobre 1.322 jogos oficiais e 293 amistosos"

Como o torcedor pode comprar o livro?

Fizemos o lançamento na segunda-feira, 13, na Câmara onde muita gente já pôde comprar o exemplar. Quem desejar ainda ter o livro pode entrar em contato comigo (WatsApp 99662-8200). O livro para entrega na cidade fica em 80 reais. Fora, custa 100 por causa das despesas de postagem. Já despachamos o livro para vários estados, Pará, Minas, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul. Isso mostra como a Águia é querida. É uma edição limitada com 250 exemplares, não haverá segunda edição, então a pessoa que quer o livro tem que se apressar na reserva.

"Foi uma jornada emocionante poder proporcionar esse livro a quem gosta de futebol"

Qual foi o momento que o livro te trouxe maior satisfação?

São vários os momentos de satisfação. Nas viagens em busca de informação, quando a gente falava do time, nós que somos moradores da cidade, achamos que o time não tem tanta importância assim. Mas, ele leva o nome da cidade de tal forma que é muito emocionante, a gente se arrepia em perceber a importância que o Fernandópolis tem fora daqui. Há histórias emocionantes também de algumas campanhas memoráveis, como a de 1964, quando o time fez 81 gols, média de 4 gols por jogo. Naquela época, por conta da dificuldade do transporte, o campeonato era dividido entre Chave do Interior e a Chave de São Paulo, Vale do Paraíba e Litoral. O time de Fernandópolis (ainda era ABE) foi campeão das duas chaves do interior e foi disputar a final contra o São José de São José dos Campos. No primeiro jogo aqui perdemos o jogo por 2 x1, com uma fatalidade. O nosso time vencia por 1x0 e teve um pênalti a favor. Jesus era o batedor oficial e foi para cobrança e o goleiro Sérgio, que depois foi para o São Paulo e Seleção Brasileira, encaixou a bola enquanto o time fernandopolense se abalou e caiu de joelhos. Experiente o Sérgio lançou para o centroavante que foi lá e fez o gol de empate e depois levamos o segundo gol. Lá em São José dos Campos, o jogo ficou 0x0. Tem a campanha brilhante de 1979, mas em 1978 teve também uma excelente campanha e não subiu por detalhe. O presidente era o Fernando Sisto que manteve a estrutura do time que foi campeão em 1979. Se pegar a história do Fernandópolis com o acesso em 79 e na década de 80 e 90, tivemos campanhas fantásticas. Em 89, por detalhe não conseguimos o acesso. Teve o improvável título de 1994. Como disse, o impossível não existe. Então é uma história muito bonita, rica. O livro também resgata a campanha do time de juniores do Fefecê de 1990, que disputou a fase final com a Portuguesa que tinha Dener, Sinval, entre outros, que no ano seguinte levaram a Portuguesa ao título da Copa São Paulo. Nessa campanha ficaram XV de Piracicaba, Juventus e XV de Jaú. E devido a ótima campanha o time se classificou pela primeira vez para a Taça São Paulo de Juniores no ano seguinte em Novo Horizonte. Em 94, além do time principal que foi campeão, tivemos o time juniores campeão invicto. No livro também destaco as duas torcidas uniformizadas do Fernandópolis que tem amor fervoroso pelo time. Eu, aposentado, gosto do time, uni o útil ao agradável e resolvi resgatar essa história.

Com o livro pronto, qual o sentimento que sobra?

Dever cumprido. Foi uma jornada emocionante em proporcionar esse livro a quem gosta de futebol. Espero que todos gostem. Tem falhas? Tem, o trabalho começou do zero e o objetivo foi trazer o de melhor para o torcedor.

Imaginou um dia ser autor de livro?

Não, nunca me passou pela cabeça. Mas, agradeço a todos que me ajudaram nesta empreitada. Sozinho não conseguiria chegar a esse resultado que hoje está materializado no livro. Superamos as decepções, que transformamos em motivação para seguir em frente e hoje o livro é uma realidade.

Por que “Alma Águia”?

Porque alma é essência. E esse time é a essência de todos nós torcedores.

 

 

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