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Infectologista recomenda Natal e Ano Novo com máscara e sem aglomerações



Infectologista recomenda Natal e Ano Novo com máscara e sem aglomerações

Na semana que Fernandópolis ganhou destaque no noticiário nacional por ter o primeiro caso oficial do Estado de São Paulo de reinfecção da Covid-19, CIDADÃO entrevistou o médico infectologista do Cadip - Centro de Atendimento a Doenças Infectocontagiosas - Maurício Fernandes Favaleça, que também está na linha de frente no combate a Covid-19, junto com o médico Márcio Gaggini. Nesta entrevista ao CIDADÃO, ele diz que aumenta a preocupação com a propagação da doença em meio as festas de Natal e Ano Novo. O médico pediu a colaboração da população para usar máscara e evitar aglomerações durante as confraternizações familiares, temendo o aumento de casos da doença em janeiro, como ocorreu após outros feriados. “É surpreendente a forma como o vírus é transmitido facilmente quando não se utiliza máscara e não se realiza o distanciamento”, alerta.

Na entrevista, Favaleça deu ênfase às palavras MEDO, DOR E TRISTEZA. E justifica:

“Convivemos com o medo de não conseguir atender a todos pacientes, de contrair a doença, de levar o vírus para nossas famílias, com a dor e a tristeza em ver pacientes graves, óbitos, famílias sofrendo, ver colegas de trabalho internados”. É um alerta. Leia:

Dr. Mauricio, estamos às vésperas das celebrações do Natal e Ano Novo. Qual o grau de preocupação em relação ao risco aumento do contágio da Covid-19?

Estamos muito preocupados com o alto índice de transmissão da doença no momento e o que pode ocorrer em janeiro caso não exista uma colaboração da população.

"Estamos preocupados com janeiro, porque temos visto períodos de aumento da incidência da doença após feriados"

Alguns infectologistas alertam para uma bomba-relógio que pode explodir em janeiro. O senhor concorda?

Acredito que o número de infectados possa aumentar em janeiro, o que temos visto até o momento são períodos de aumento da incidência da doença após feriados.

O que é mais surpreendente em relação ao coronavírus?

A forma como o vírus é transmitido facilmente quando não se utiliza máscara e não se realiza o distanciamento. Outro ponto surpreendente é a diversidade de manifestações clínicas que a doença apresenta. Não há como prever como ela irá evoluir em cada indivíduo.

De todos os casos que tratou até agora, foi possível notar um padrão de comportamento do vírus, ou cada caso é um caso?

A doença tem suas fases que já compreendemos melhor, porém cada indivíduo pode evoluir diferente, desde os que não irão sentir nada, até os que terão a forma grave da doença.

"É surpreendente a diversidade de manifestações clínicas que a doença apresenta. Não há como prever como ela irá evoluir em cada indivíduo"

Teve uma comorbidade mais determinante para os óbitos em Fernandópolis?

Comorbidades como hipertensão, diabetes, obesidade, doença cardíaca e pulmonar crônica foram as mais comuns.

A faixa etária mais afetada foi entre 60 e 79 anos. O que pesou em relação a alta mortalidade nesta faixa?

Uma menor imunidade e a associação com outras comorbidades favorecem os óbitos em idosos, porém muito ainda temos que aprender sobre esta doença, principalmente quanto a fatores genéticos. Apesar desta faixa etária ter apresentado maior mortalidade é importante destacar que também tivemos óbitos em pacientes mais jovens, mostrando que esta doença pode evoluir para forma grave em indivíduos mais jovens também. Temos notado neste último mês um número expressivo de indivíduos com menos de 60 anos internados em nossa UTI e enfermaria.

"É visível o cansaço físico e mental de toda equipe que está desde março nesta luta diária, sem descanso, contra a Covid

Como é o dia a dia na Ala da Covid na Santa Casa?

A experiência que estamos vivendo neste setor é diferente de tudo que havíamos vivenciado dentro do hospital, com certeza ficará marcada na vida de cada um. Existe um grande desgaste físico e mental de todos do setor. Todos estão ali por amor a profissão, amor ao próximo, procurando fazer o seu melhor. Existe uma mistura de sentimentos. Convivemos com o MEDO de não conseguir atender a todos pacientes, de contrair a doença, de levar o vírus para nossas famílias, com a DOR E A TRISTEZA em ver pacientes graves, óbitos, famílias sofrendo, ver colegas de trabalho internados. Mas também temos nossos momentos de recompensa, comemoramos juntos aos pacientes, sua melhora e o retorno a suas casas, isso nos motiva a seguir nesta missão. Neste momento é muito visível o cansaço físico e mental de toda equipe que está desde março nesta luta diária, sem descanso. Gostaria de deixar registrado o meu respeito e admiração por todos profissionais que passaram e que ainda estão trabalhando neste setor Covid-19 da Santa Casa de Fernandópolis.

Em Fernandópolis, já há casos de pessoas que contraíram a Covid pela segunda vez. Isso derruba a tese de que a contaminação cria imunidade?

Sim, temos casos de reinfecção a serem comprovados em Fernandópolis. Sabemos que nem todos indivíduos criam imunidade após entrar em contato com algumas doenças, é claro que se trata de uma minoria, porém é possível. Também por se tratar de uma doença nova ainda devemos aguardar mais estudos para saber quanto tempo pode durar esta imunidade.

(Nota – A entrevista com o médico Maurício Favaleça foi realizada antes da confirmação oficial do primeiro caso de reinfecção pela Covid, fato que ocorreu na quarta-feira, 16. A paciente, uma mulher de 41 anos de Fernandópolis, foi considerado o primeiro caso oficial de reinfecção no Estado. Ela desenvolveu a doença em junho, com resultado positivo em exame laboratorial. Se curou, e teve nova detecção em novembro, 145 dias após o primeiro diagnóstico. – leia mais sobre o caso na página 5-A).

"A vacina é o desejo de toda população, somente assim controlaremos a doença e seguiremos a uma nova rotina

Como o senhor analisa o cenário para 2021 com a chegada da vacina?

A vacina é o desejo de toda população, temos que vacinar o maior número de pessoas em um menor tempo possível, somente assim controlaremos a doença e seguiremos a uma nova rotina.

Qual a mensagem que deixa para os fernandopolenses nestes momentos que antecedem o Natal e Ano Novo?

Peço que todos, neste momento, comemorem com consciência de que a doença ainda está muito presente em nossa sociedade e que temos um número limitado de leitos hospitalares, que todos sigam utilizando máscaras, higienizando suas mãos e mantendo o distanciamento para que em 2021 possamos sair mais fortalecidos desta pandemia. Desejo a todos um Natal e um Ano Novo repleto de amor, paz e esperança. Nesta pandemia acredito que todo cidadão teve seu momento de reflexão e de sentir o quanto que a felicidade está sempre ao nosso redor, nas coisas simples do nosso cotidiano e o quão bom estarmos próximos as pessoas que amamos.

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