O atleta de Fernandópolis Adriano dos Santos Lucas, 40 anos, que é mais conhecido nos meios esportivos como Lucas, corou o ano da volta às competições do ciclismo com a conquista da Copa São Paulo de Ciclismo, disputada em onze etapas ao longo desse ano. Foi o ano da redenção de Lucas que está no ciclismo desde os 13 anos quando ainda morava em Marília. Aos 36 anos descobriu um câncer de reto e foi através da força mental que construiu no esporte que conquistou o maior título da vida: o de vencer a doença. Um dia depois de erguer o troféu estadual em Buritizal, em entrevista à Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO, Lucas contou a epopeia que viveu a partir do diagnóstico de câncer ao lado da esposa Gracieli com quem é casado desde 2014. “Fiquei sem chão, mas depois de chorar decidi virar a chave. O médico me liberou para treinar para a principal batalha da minha vida. Durante dois meses rodava de 50 a 60 km por dia para chegar forte para a quimioterapia e radioterapia. Venci o câncer. O meu caso é raro e é objeto de estudo no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo. Faço acompanhamento de quatro em quatro meses”, contou. “Eu sei o quanto esse esporte foi importante e te preparou para a nossa maior batalha, vencer um câncer. Te ver vivo hoje, é uma dádiva de Deus. Te ver Campeão da Copa São Paulo de Ciclismo 2023, é um orgulho”, escreveu a esposa Gracieli nas redes sociais. Depois de “rodar o mundo”, esse atleta que nasceu em Capão Bonito, morou em Marilia onde ainda estão seus pais Dolores e Silas, escolheu morar em Fernandópolis. “É muita honra representar Fernandópolis”, diz nesta entrevista que é um diário de vencedor:
Como foi conquistar o título da Copa São Paulo de Ciclismo?
É um campeonato longo com onze etapas. A primeira prova foi em março em São Carlos e depois vieram as provas em Catanduva, São Pedro, Bauru, Lençóis Paulista, Olímpia, Batatais, Araraquara, Itápolis, Cajuru e Buritizal. Fomos somando pontos conforme a classificação e a soma final de pontos ao longo do ano é que definiu o campeão. Por ser uma das principais competições de ciclismo do Brasil, é um campeonato bastante disputado e a conquista foi um grande prêmio.
Tem ideia de quantos quilômetros percorreu ao longo de todas as etapas?
Somando todas as etapas, passa de 500 quilômetros. A gente larga sempre no pelotão com 20, 30 ciclistas, e durante a prova aplicamos táticas de ataque para escapar do pelotão, mas tem prova que a disputa é acirrada, guidão a guidão, no sprint final. A pontuação em cada prova é do 1º ao 10º lugar, começa com 20 pontos e vai descendo até 2 pontos, que é somada para a classificação final. Em pelo menos cinco etapas a disputa foi apertada. As provas são disputadas em circuitos de rua montados nas cidades.
"Esse campeonato que ganhei veio para coroar minha principal vitória contra o câncer"
Essa categoria máster reúne atletas de qual faixa etária?
Tenho 40 anos e na Copa São Paulo essa categoria Master B reúne atletas de 40 a 49 anos. Na Confederação Brasileira de Ciclismo, onde também sou federado para disputa do campeonato brasileiro, a minha categoria é de 40 a 44 anos, que é máster B1. Depois vem a de 45 a 49 anos.
O que essa conquista representou na sua vida pessoal?
Sempre me dediquei ao ciclismo, desde os 13 anos, sempre competindo. E essa é a primeira grande conquista pós câncer. Fiquei alguns anos parado para o tratamento. Quando recebi o diagnóstico em 2019 fiquei abalado, mas o esporte me ajudou muito, até mesmo na preparação para a quimioterapia e radioteperatia. Com a notícia, eu e minha esposa Graciele ficamos muito abalados, o câncer já estava em estágio avançado. Mas, dei uma virada de chave e decidi não deixar isso (o câncer) entrar na minha mente. Sempre competi e quem está no esporte tem essa mentalidade de desafio. Perguntei ao médico se poderia treinar para essa batalha e ele me liberou. Comecei a pedalar e fazia posts dizendo que estava me preparando para a maior competição da minha vida, a competição da vida, contra o câncer. Rodava 50 quilômetros num dia, 60 no outro, me preparando para fazer a quimio e não sentir um baque tão grande. Foram dois meses de preparação para essa competição da vida. Fiz a quimio, a radio e Graças a Deus, refiz os exames e o câncer tinha se retraído totalmente, nem fui para a cirurgia. Hoje faço acompanhamento de quatro em quatro meses. O médico Dr. Guilherme Curti do Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) disse pra mim que sou um caso raro, um bilhete sorteado da loteria, muito disso se dá pelo histórico esportivo. Por isso entrei em um estudo de caso pelo Icesp. Superado o câncer, voltei a treinar, a princípio não para competir, mas para manter a saúde. No ano passado comecei a participar de algumas competições e esse ano decidi voltar a competir em um nível superior. Batalhei, treinei, me dediquei e já no primeiro ano de retorno às competições consegui esse título para Fernandópolis. Sou muito grato por isso. Só de estar aqui, respirando, compartilhando esses momentos, estar vivendo, já é uma dádiva de Deus, ainda mais fazer o que gosto, praticar o meu ciclismo e conquistar um título como esse. Isso é fenomenal.
"Após o impacto do diagnóstico, decidi parar de chorar, virar a chave e usar a mentalidade de atleta para vencer a batalha da vida"
A força da mente é que te levou a vencer essa batalha pela vida?
Exatamente. Naquele momento decidi parar de chorar, virar a chave e usar o esporte ao meu favor, usar a mentalidade de atleta, de querer vencer. O atleta é forjado para isso e foi o que me ajudou muito nesta prova da vida. Eu decidi fazer a minha parte e o restante pertence a Deus. Por isso, eu sempre deixo a mensagem para a prática do esporte, porque o esporte é vida. A mente tem que estar forte e precisamos acreditar que somos vencedores.
Esse câncer apareceu na sua vida de repente?
Foi de repente, sem histórico familiar. Isso foi aos 36 anos, já tinha alguns sintomas, mas relutei um ano para fazer os exames mais elaborados. Quando decidi fazer os exames já tinha seis linfonodos, bem avançado. Precisei correr para tratar esse câncer, mas Graças a Deus consegui deixar esse câncer para trás. Na vida a gente tem sempre que lutar, nem sempre iremos ganhar, assim como no esporte. Mas, não podemos deixar de lutar. Esse campeonato que ganhei veio para coroar minha principal vitória. Fiquei muito feliz com essa conquista.
"Rodei mais de 12 mil km durante o ano juntando todas as provas e a Copa São Paulo onde fui campeão
No maior desafio da sua vida o que foi importante?
No momento difícil da doença, eu e minha esposa Gracieli contamos com muito apoio da família, todos acreditando na minha recuperação e em orações, meus amigos e a equipe médica do Icesp que me acolheu desde o início. Foi na transição da doença que mudei para Fernandópolis, escolhi a cidade para construir minha família. Eu e minha esposa estamos morando com a minha sogra que também tem nos ajudado. Desde que cheguei em Fernandópolis fui muito bem acolhido por todos, pelo grupo de ciclismo e eles me ajudaram muito nesta luta.
Quais são seus planos agora?
Vou tirar umas férias depois de pedalar mais de 12 mil quilômetros ao longo do ano, porque além da Copa São Paulo, participei do Campeonato Brasileiro, e de provas clássicas no Brasil como a 1º de Maio e 9 de julho, torneio de verão. Vamos parar uns 10 a 15 dias de férias e já começar a fazer a base da preparação para o ano que vem. O primeiro desafio será no dia 5 de fevereiro, Torneio de Verão em Ilha Comprida. O objetivo que tenho dentro de mim e compartilho com a minha família é que nestes 9 anos que estarei na categoria máster é disputar o título brasileiro e continuar disputando provas no estado de São Paulo. Quero disputar o máximo de corridas possível. Quero agradecer o apoio da prefeitura e da ECE (Equipe de Ciclismo de Fernandópolis).