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“Mudanças na troca de governo são normais”



“Mudanças na troca de governo são normais”

O dirigente regional de Ensino, professor Cândido 
José dos Santos, está em Fernandópolis há sete anos. 
Veio para ficar um ano, organizar a Diretoria de Ensino – Região de Fernandópolis – após o escândalo do programa Bolsa Família e está até hoje na cidade. Tido como um técnico na Secretaria da Educação, o dirigente vê com normalidade possíveis mudanças na troca de governo, com a saída do PSDB após 28 anos de governo e a chegada do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos). Ele lembrou, durante entrevista à Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO, que na troca de governo de Geraldo Alckmin/Marcio França para João Doria/Rodrigo Garcia houve troca de um terço dos dirigentes, após avaliação na capacidade de liderança e gestão. Ele acredita que o mesmo deve ocorrer agora, principalmente pelo fato de que o Secretário anunciado pelo novo governador, Renato Feder, é considerado um técnico. Ainda na entrevista, Santos fez uma avaliação positiva da implantação do ensino integral em todas as escolas estaduais de Fernandópolis. “Universalizar o ensino integral foi o grande desafio 
do ano”, disse. Leia a entrevista:

Fernandópolis foi uma das cidades a adotar este ano o ensino integral em todas as escolas da rede estadual. Qual o balanço? 
Universalizar o ensino integral nas escolas da rede estadual em Fernandópolis foi o grande desafio que assumimos com o governo estadual e, felizmente, caminhamos bem ao longo do ano. Com isso estamos cumprindo uma meta do Plano Estadual de Educação que também está no Plano Municipal aprovado pela Câmara de Fernandópolis. Fizemos a nossa parte e, em termos de município, batemos essa meta. Em algumas das escolas para garantir o funcionamento do ensino integral, precisamos adotar dois turnos em virtude da quantidade de alunos e não existência de espaço físico para atender todos os alunos em turno único. Para 2023, duas destas escolas de dois turnos, a Joaquim Antônio Pereira e a Libero de Almeida Silvares, passarão a turno único. Gradativamente vamos fazendo as mudanças necessárias para que consigamos atingir o objetivo de colocar todos os alunos em turno único. Quando temos o atendimento em dois turnos, os alunos ficam na escola por 7 horas. Em turno único eles permanecem 9 horas. 

Quais escolas ainda ficarão com dois turnos em 2023?
Ficarão ainda com dois turnos no ano que vem as escolas Saturnino Leon Arroyo, Prof. Antônio Tanuri e Fernando Barbosa Lima. Ainda temos duas escolas atendendo no período noturno os alunos que não podem permanecer na escola dentro do período da escola integral. Essas escolas, a Joaquim Antônio Pereira e Antônio Tanuri, ainda permanecerão no próximo ano atendendo o aluno em tempo regular. Eles precisam comprovar a necessidade porque a meta é que todos os alunos estejam no ensino integral. O noturno é uma exceção para aqueles que necessitem trabalhar. Conforme estudo recente da USP fazendo um comparativo entre os alunos do ensino integral e do ensino regular, ficou demonstrado que os alunos do tempo integral tiveram desempenho 60% maior que os alunos que frequentam em tempo parcial. Por isso nossa luta para que todos os alunos sejam atendidos no ensino integral.  

"Universalizar o ensino integral nas escolas da rede estadual em Fernandópolis foi o grande desafio"

Além da novidade do ensino integral, o ano foi também de retomada das aulas presenciais após dois anos de pandemia. Foi possível compatibilizar tudo isso?
Sim, os professores tiveram que se esforçar muito ao longo do ano, mas a verdade é que os prejuízos causados pela parada durante os anos de 2020 e 2021 por conta da pandemia, vão demorar um pouco mais para serem recuperados. Estudos mostram que houve uma regressão na aprendizagem dos nossos alunos equivalente a sete anos na parada pela pandemia. Precisamos entender que em educação não é igual uma obra que você para e retoma do ponto que parou. Na educação é diferente. Cada dia que o aluno fica fora da escola representa um atraso de 3 a 4 dias. A parada na pandemia foi desastrosa para a educação no Brasil e no mundo. Durante o ano desenvolvemos diversos programas buscando diminuir esses prejuízos. 

O senhor também teve muitas dificuldades nos últimos anos em relação ao transporte de alunos da zona rural. Como está a situação?
Infelizmente é uma situação muito difícil não só para a Diretoria de Fernandópolis, mas para o estado todo. É algo que envolve valores muito altos. Aqui tivemos problemas em virtude de empresa ter sido sancionada, depois houve problemas na licitação e o Tribunal de Contas mandou parar o processo licitatório em razão de recursos de algumas empresas. O Tribunal determinou mudanças no edital que foram feitas e que, ao meu ver, acabaram beneficiando as empresas de transporte, não o erário público, mas o Tribunal decide e temos que cumprir. Nós iniciamos no último dia 8 de dezembro mais uma licitação que está em curso. Esperamos que esse processo seja homologado antes de 28 de janeiro, quando termina o contrato emergencial, para que a gente inicie o ano letivo em fevereiro com o transporte licitado e resolvido. 

"O transporte de alunos é um investimento alto. É dinheiro público, dinheiro do povo e precisamos zelar"

Quantos alunos são transportados e quanto isso custa ao Estado?
Atualmente estamos pagando em torno de R$ 500 mil a cada mês para realização do transporte. São necessários em torno de 40 ônibus para transportar cerca de mil alunos no município de Fernandópolis. É um custo elevado. A nossa função, enquanto Diretoria Regional de Ensino, a partir do momento que a habilitação for homologada é acompanhar a execução desse transporte para que o serviço seja o melhor possível para atender os nossos estudantes. É dinheiro público, dinheiro do povo, e precisamos zelar para que o serviço seja feito conforme estabelecido em contrato. 

Como estão os preparativos para o próximo ano letivo? 
O ano letivo deve começar no dia 6 de fevereiro. Até lá as escolas passarão por readequação de sua estrutura. Todas elas estão com recursos em caixa para fazer as mudanças necessárias no período de férias para a volta às aulas. 

E sobre a climatização das salas de aulas?
Nós estamos no momento em que a concessionária de energia elétrica vem realizando serviços na área externa para adequar sua rede de distribuição para atender à necessidade das escolas tendo em vista a climatização. Acreditamos que até maio ou junho do ano que vem esteja tudo pronto, tanto na infraestrutura externa, quanto interna, para que consigamos universalizar a climatização. Devemos lembrar que em nossas escolas 80% das salas já estão climatizadas. Nós fomos climatizando as salas até o onde a nossa rede suportava. O fato é que a rede externa de distribuição de energia da concessionária Elektro também precisou ser readequada porque não estava em condições de atender a demanda das escolas sob risco de queda de energia na região das escolas. 

"A interferência política diminuiu e a gestão passou a ter um caráter mais técnica"

Estamos no final do ano e teremos a troca de governo no dia 1º de janeiro. Já houve algum contato da nova equipe de governo com o senhor?
Não. Neste momento, o novo secretário de Educação Renato Feder já anunciado pelo futuro governador do Estado Tarcísio de Freitas, vem participando de reuniões com a equipe de transição tomando ciência do quadro geral da educação no Estado. Esse contato com as Diretorias de Ensino neste sentido, por hora, ainda não aconteceu. Creio que após a posse, o novo secretário deva chamar os dirigentes regionais de ensino para uma reunião, quando deve colocar suas diretrizes e definir aqueles que ficarão ou que serão substituídos como já ocorreu em outras gestões. Na última troca de governo, nós tivemos mudança na secretaria e o secretário na época chamou todos os 91 dirigentes de ensino, submeteu todos a uma avaliação e aqueles foram bem avaliados na capacidade de liderança e gestão pela equipe que assumia naquele momento foram mantidos. Foram dois terços mantidos e apenas um terço foi trocado. Acredito que a próxima gestão deve ir mais ou menos pela mesma linha, já que nós estamos passando por um momento que se requer profissionais nos cargos. A interferência política diminuiu e a gestão passou a ter um caráter mais técnico. Não temos mais, como foi no passado, uma grande interferência da política. Logicamente a política tem sua força, não podemos negar, temos deputados federais, deputados estaduais, prefeitos, todos eles têm seus interesses, mas o governador eleito já anunciou que quer uma equipe técnica e ele frisou isso quando anunciou Renato Feder como Secretário da Educação.

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