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“Não compactuamos com policial desonesto e criminoso”, diz comandante do 16º BPMI



“Não compactuamos com policial desonesto e criminoso”, diz comandante do 16º BPMI

O Tenente Coronel Valdeci Silva Junior, 50 anos, está no comando do 16º Batalhão da Polícia Militar com sede em Fernandópolis, responsável pelo policiamento em 49 cidades onde moram cerca de 500 mil habitantes. Ele assumiu o comando no ano passado, mas acabou se afastando porque precisou se desincompatibilizar do cargo para disputar as eleições municipais. Foi candidato a vice-prefeito em sua cidade natal, Barretos. Como não se elegeu, reassumiu o posto em janeiro. 
A influência para entrar na Polícia Militar veio do pai. “Sou filho de soldado da Polícia Militar”, diz. Ele ingressou na Academia da Polícia Militar do Barro Branco aos 18 anos de onde saiu em 1993.  Foi promovido a tenente Coronel em 2019 e foi para Rio Preto, posteriormente veio para Fernandópolis. Diz que procura administrar o Batalhão como uma empresa, “naquele jargão, fazer mais com menos”. 

Simplicidade é sua marca, tanto que dá preferência ao uniforme operacional, de policial pronto para atuar. Nesse período à frente do Batalhão precisou enfrentar 
um caso de grande repercussão, a morte de uma pessoa durante abordagem da Polícia Militar em Fernandópolis. Abriu inquérito policial militar para apurar o caso e avisou: “Findo o inquérito, onde todas as provas serão reunidas, serão remetidas à Justiça Militar do Estado que é competente para estar julgando o caso”. Ele considera o caso, que envolveu um policial do BAEP de Rio Preto que estava trabalhando em Fernandópolis, como isolado. “Fernandópolis não tem histórico desse tipo de ocorrência”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO. Leia:

O senhor assumiu o comando do 16ª BPMI no ano passado, se afastou no período das eleições e reassumiu o posto em janeiro. Esse tempo já foi suficiente para conhecer toda a área do Batalhão que é bastante extensa?
No ano passado eu trabalhava na cidade de Rio Preto, chefiava o Estado Maior da Polícia Militar e nós tínhamos o coronel José Wilson comandando o policiamento aqui em Fernandópolis. Ele recebeu o convite para trabalhar na região dele em Ribeirão Preto e, fui convidado para vir fazer um trabalho aqui em Fernandópolis. No ano passado trabalhamos por cerca de 3 meses, depois me desincompatibilizei porque participei de campanha política em Barretos, fui candidato a vice-prefeito, não fomos eleitos, então retornamos em janeiro para continuar o nosso trabalho aqui em Fernandópolis. A nossa região é muito grande, temos 49 municípios com cerca de 500 mil habitantes. Sempre que possível tenho procurado visitar as cidades, as sedes de companhias e grupamentos da Policia Militar. Procuro dialogar com os prefeitos, mas confesso que tenho muito a conhecer. 
O senhor tem uma estratégia de ação para marcar sua passagem pelo 16º BPMI?
Como já fui chefe do setor de comunicação social do Batalhão de Barretos, me preocupo muito com a imagem da Polícia Militar. Gosto que a PM seja vista como uma parceira, que os nossos policiais sejam vistos como amigos. Essa é a imagem que quero trabalhar para a nossa Polícia Militar como órgão de segurança pública em quem a população pode confiar. Obviamente temos as metas estabelecidas pela Secretaria da Segurança Pública para todos os Batalhões do Estado inteiro e nós, graças ao trabalho dos nossos policiais que diuturnamente estão nas ruas, independente da Covid, temos feito a nossa parte. Posso falar que em termos de resultado, a Polícia Militar em Fernandópolis andou muito bem. Então isso nos deixa muito feliz. Tem também o lado da imagem institucional que a gente presa muito. É que a pandemia nos impede de muitas coisas, mas gosto de ter o quartel aberto, receber a população, jornalistas, autoridades, que o nosso relacionamento seja o mais estreito possível.

"A nossa população já está sofrida o suficiente para nós termos que administrar uma polícia truculenta, que não conversa"

Desde que chegou o senhor tem visitado todas as cidades subordinadas ao Batalhão. O que tem ouvido dos prefeitos, principalmente das pequenas cidades? 
Tenho tido um feedback muito bacana com os prefeitos da região, inclusive com o André Pessuto, aqui de Fernandópolis. Visitei alguns municípios recentemente sugerindo algumas melhorias na área da segurança que dependem da prefeitura como, por exemplo, a implantação da atividade delegada onde o policial nas suas horas de folga vai trabalhar em prol do município que delegará algumas competências para que o estado fiscalize, onde ele usando equipamento e a estrutura do Estado em prol de um trabalho para o município que ficará responsável pelo pagamento de uma espécie de pro labore para o policial. Ao mesmo tempo que ele vai trabalhar em atividades para a prefeitura, esse policial também estará fazendo o policiamento preventivo ostensivo. Temos um jogo de ganha-ganha. A Prefeitura ganha e o Estado também ganha porque acaba maximizando o policiamento para aquela região. 
Pela sua experiência na Polícia Militar, como qualifica nossa região em termos de segurança?
Em termos criminais e operacionais a nossa área, como um todo, foi muito bem. Conseguimos atingir quase todas as metas da Secretaria de Segurança Pública, mas uma coisa em especial chamou nossa atenção e tem tudo a ver com a pandemia. Infelizmente registramos 30% a mais de ocorrências envolvendo agressões domésticas a mulheres. Isso tem nos preocupado muito porque não temos como atuar dentro do ambiente onde vivem as pessoas. A pandemia tem feito com que as pessoas fiquem mais tempo em casa, maior consumo de bebida alcoólica e tudo isso tem provocado brigas familiares, agressões às mulheres. Temos orientado nossos policiais para terem muita cautela neste tipo de ocorrência, orientando muito bem as partes, para que não tenhamos desdobramentos negativos. 
Na sua opinião, qual a maior preocupação em termos de criminalidade?
Já percebi que o tráfico é bem influente aqui na cidade. No ano passado fizemos uma apreensão grande no aeroporto, cocaína, maconha nós estamos apreendendo praticamente todas as semanas. O tráfico de drogas nos preocupa, porque acaba alimentando outros tipos de crime, como roubo, furto. Estamos atentos a esse quadro, basta ver as apreensões que temos feito. 
O efetivo disponível no Batalhão é suficiente para atender toda a região?
Nós precisamos de mais policiais, mas hoje com o número que temos dá para fazer o necessário, o arroz com feijão. Mas, por outro lado, nós temos outros instrumentos que no passado não tínhamos. Hoje temos um sistema de monitoramento eletrônico, onde o Copom pode detectar a entrada de veículos produtos de furto ou roubo na cidade. Trabalhamos com cartão de itinerário de patrulhamento. Não se concebe mais a ideia do policial entrar numa viatura e sair para um policiamento aleatório. Hoje fazemos um estudo da incidência criminal e quando o policial entra na viatura ele vai cumprir o itinerário de patrulhamento. Focamos nos locais e horários com mais ocorrências policiais. Chamamos isso de policiamento inteligente. Trabalhamos com muitas informações o que permite de certa forma maximizar a mão de obra. Hoje no Batalhão temos 585 policiais para cobrir área dos 49 municípios e nós conseguimos atingir as nossas demandas justamente por conta desse trabalho de polícia inteligente que fazemos.
O que senhor cobra dos policiais que estão na linha de frente, no contato direto com a população?
Como costumo dizer, a Polícia Militar sempre trabalha para 99% de pessoas de bem da população. Pegando por esse prisma, eu quero que o policial seja educado, cortês com a nossa população e, principalmente nesta época de pandemia, quero que ele seja um orientador. A nossa população já está sofrida o suficiente para nós termos que administrar uma polícia truculenta, que não conversa. Não é isso que quero para a minha tropa. Quero que trate bem o cidadão. Por que aquele que está no grupo de 1% que não é do bem, terá o tratamento que a lei impõe. 
O que o senhor não aceita em termos de conduta?
Não aceito desonestidade, policial criminoso. Isso não podemos aceitar, até por conta da missão que temos que é de zelar pela segurança da nossa população. Policial desonesto e criminoso, isso a gente não compactua. 

"(O desfecho com morte em abordagem policial) Foi um caso isolado, não é uma ocorrência típica dos nossos policiais"

Recentemente tivemos um caso de morte durante uma ocorrência policial atendida pela Polícia Militar com grande repercussão. Como isso impacta a Polícia Militar?
Infelizmente nós tivemos essa ocorrência que culminou com a morte do agressor. Isso é o tipo da ocorrência que a Polícia Militar combate diariamente, mas em alguns momentos ela pode acontecer. Eu sempre costumo dizer que o final de ocorrência quem vai ditar é o criminoso ou agressor. Nesse caso específico, quero explicar que, ao contrário do que muitas pessoas pensam, o policial não é de Fernandópolis, ele pertence ao BAEP (Batalhão de Ações Especiais de Rio Preto), ele estava trabalhando na Dejen (Diária Especial por Jornada Extraordinária de Trabalho Policial Militar) que é um outro tipo de trabalho que o policial faz na sua hora de folga só que agora em prol do Estado. Então, esse policial se deparou com uma ocorrência de trânsito e compareceu no local e, segundo populares denunciaram quem seria a causadora do acidente e ele foi até o local onde foi agredido pelo marido da causadora do acidente de trânsito. Ele partiu para cima do policial com uma marreta e o policial não teve outro mecanismo de defesa no momento que não fosse o disparo. Muitos perguntam porque o policial deu dois tiros, porque não atirou na perna? Já tivemos ocorrências no passado em que o policial deu um único disparo acertou o braço ou a perna do agressor e o policial morreu, porque o disparo não foi suficiente para cessar a agressão, o criminoso partiu para cima do policial e de posse de uma faca ceifou a vida dele. Eu também não quero que meu policial, na defesa da sociedade, tombe no cumprimento do seu dever. É por isso que ele treina. O policial é treinado não a matar o agressor, mas a dar dois disparos para que cesse a agressão. Por isso, o disparo de dois tiros. Ele está condicionado para aquilo. Paralelamente a isso, nós treinamos a nossa tropa para que ela faça uso moderado da força. Não é porque você recebeu um tapa na cara, que você vai dar um disparo mortal. Temos que ter um certo escalonamento da força. Você vai usar desde técnicas de imobilização da pessoa, até tiros de borracha, usar as teasers que são aquelas armas elétricas incapacitante neuromuscular. O Estado de São Paulo está adquirindo cerca de 2,5 mil armas de incapacitação neuromuruscular para serem usadas nesse tipo de ocorrência onde o policial preveja que tenha que usar o escalonamento da força. Só lembrando que tudo está sendo apurado por inquérito policial militar, já assinamos a portaria. Findo o inquérito, onde todas as provas serão reunidas, serão remetidas à Justiça Militar do Estado que é competente para estar julgando o caso.
O senhor considera um caso isolado?
É um caso isolado. Fernandópolis, e a própria região, não tem histórico desse tipo de ocorrência. Tivemos esse agora e ainda assim o policial não é nosso, é do Baep, que estava prestando um serviço na nossa cidade. Tudo isso permite que eu diga com bastante tranquilidade que não é uma ocorrência típica dos nossos policiais.

"Eu também não quero que meu policial, na defesa da sociedade, tombe no cumprimento do seu dever"

Como a pandemia impactou o trabalho da PM?
Independente da pandemia, o policial diuturnamente deixa sua casa e vai trabalhar, até porque a atividade policial é extremamente essencial. Pelo fato do policial estar na linha de frente ele também é vítima da contaminação. Para se ter uma ideia, numa conta que fiz em janeiro, estávamos com quase 20% do efetivo contaminado. É um percentual alto o que demonstra que estamos nas ruas 24 horas por dia. Acabamos perdendo um policial por conta da Covid em Cardoso que veio a óbito no mês passado. Agora estamos tomando todos os cuidados. Os policiais dispõem na viatura de álcool em gel, máscara, luva para que ele possa trabalhar de forma mais protegida. Orientamos nossos policiais para que não se exponham de forma gratuita, evitem viagens, festas, para que preservem eles e toda a família. Hoje tem contingente que trabalha na administração do policial. 
Qual a mensagem que o senhor deixa a população? 
Podem contar com a Polícia Militar, podem nos procurar. Quero que a Polícia Militar seja amiga da população. As pessoas podem me acompanhar pelo Instagram (@coronelvaldeci) onde procuramos divulgar as principais ocorrências aqui da cidade, da região toda, dicas de segurança, sobre a pandemia. É mais uma forma de comunicação. Queremos deixar um recado à população de que a Polícia Militar é uma polícia amiga, uma polícia cidadã.

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