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“Não vejo a hora de levar meu filho para tomar a vacina”



“Não vejo a hora de levar meu filho para tomar a vacina”

A frase é do médico infectologista Mauricio Favaleça. Ele foi a primeira pessoa de Fernandópolis a ser vacinada no dia 20 de janeiro de 2021, abrindo oficialmente a campanha de imunização contra a Covid em Fernandópolis. Um ano depois, o médico vive agora a expectativa de aguardar o momento de levar o filho de 5 anos para ser imunizado.

“Para aqueles que me perguntam (sobre a vacinação de crianças) eu digo que não vejo a hora de levar meu filho que tem cinco anos para tomar a vacina.  Estamos aguardando chegar a hora dele, assim como tenho orientado todos que perguntam”, diz sem titubear.

O médico, que está na linha de frente de combate a Covid desde o início da pandemia em 2020, ao lado do médico Márcio Gaggini, exalta a vacina como forma de controle sobre a doença. Nesse período de alto contágio, ele lembra as regras de prevenção: máscara, álcool em gel, distanciamento e vacina para quem ainda não tomou nenhuma dose ou está com o calendário atrasado. “A nossa recomendação é que tome a vacina, evite correr risco de desenvolver a forma mais grave da doença”, diz nesta entrevista. Leia:

O senhor foi a primeira pessoa em Fernandópolis a receber a vacina contra a Covid no dia 20 de janeiro de 2021. Como avalia a chegada da vacina na luta contra o coronavírus?

Dentro desse um ano, houve uma expansão muito grande da vacinação no país, primeira e segunda doses e já iniciando a dose de reforço. Agora um novo salto, com vacinação infantil. Foi uma coisa que evoluiu muito neste último ano no controle da doença. Tivemos um período muito duro no ano passado, com número muito alto de casos graves e de óbitos, quando a gente ainda estava iniciando o processo de vacinação. O que vimos no segundo semestre foi uma melhora nos índices de casos, internações e de óbitos e agora no início deste ano temos novamente o aumento de casos devido às variantes do vírus, porém em um perfil diferente onde estamos registrando grande número de diagnóstico diário maior do que em outros períodos da pandemia, porém com  porcentagem de hospitalização muito menor, com menos casos graves e óbitos, graças a vacinação.

A vacinação fez muita diferença no controle da doença, principalmente, de casos graves e óbitos

Quando começou a vacinação, em algum momento o senhor se questionou sobre a eficácia dessa vacina?

Em momento algum, porque a vacina chega pra gente após estudos, comprovações por especialistas na área. Não pensamos duas vezes em nos vacinar e indicar a vacinação. Nós temos um país aonde a vacina sempre foi um ponto forte em termos de aceitação. Foi graças a isso que conseguimos melhorar a situação e reduzir os casos mais graves. Passados dois anos, a gente ainda tem muita coisa a conhecer da pandemia. Já vivenciamos muitas experiências, mas a cada variante do vírus a gente vai apreendendo algumas coisas. Mas o que vemos é que a vacinação fez muita diferença no controle da doença e, principalmente de casos graves.

Existem questionamentos sobre mudança no DNA da pessoa que toma vacina. Como o senhor avalia quando se coloca a segurança da vacina em dúvida?

As vacinas têm mecanismos diferentes de produção e ação em nosso organismo e, na verdade, todas estão aí para ativar o nosso sistema imunológico. Então a vacina não vai alterar a genética da pessoa. Toda vacina tem seu efeito colateral, dor no braço, febre ou outro mal-estar, mas temos que colocar na balança do risco benefício e o benefício da vacinação é muito grande, nós conseguimos controlar e erradicar muitas doenças através da vacinação, doenças que deixavam sequelas graves. Nós tivemos momentos muito difíceis durante a pandemia. Agora estamos passando por um momento difícil pela alta taxa de contágio, mas no início da pandemia vivemos momentos difíceis por conta do medo que tomava a todos nós do que poderia acontecer, era uma doença nova. Enfrentamos depois uma nova onda, a pior de todas,  em 2021, com muitos casos graves e uma demanda grande por serviço hospitalar de urgência, emergência, que precisou se adequar para dar conta da demanda. A pandemia mostra que nunca devemos baixar a guarda, esse vírus cada vez mostra para a gente o quanto ele tem potencial de transmissão e por isso devemos manter os cuidados de uso de máscara, distanciamento, higienização e se expor ao menor risco possível.

Se a vacina está aí, aprovada pelos órgãos regulamentadores, foi bem estudada, temos que usar essa arma

Já temos cerca de 90% da população imunizada o que reflete agora nos casos menos graves. O que o senhor diria as pessoas que ainda não tomaram vacina?

A nossa recomendação é que tomem a vacina, evitem correr risco de desenvolver a forma mais grave da doença. É claro que a doença varia em cada organismo, não dá para prever, tem aqueles que não sentirão nada e aqueles que ficarão mais graves. Quem já tomou as duas doses, tome a dose de reforço e, agora, estamos com a campanha iniciada para as crianças.

Fala-se muito da imunidade de rebanho após essa explosão de contágio pela variante ômicron. Acredita que isso pode indicar que esse período mais tenebroso passe em breve?

Pelo que já vimos da pandemia, temos períodos na qual aumenta-se a incidência da doença e isso vai depender de cada região e do grau de vacinação e exposição, mas o pior período dura de seis a oito semanas, depois a gente começa a ter uma desaceleração e posteriormente dependerá sempre das variações do vírus que a gente tiver. Temos agora essa variante com alta transmissão e esperamos que em um ou dois meses essa curva de novos casos comece a reduzir.

Nós estamos vivenciando a pior pandemia e acredito que trouxe para todos nós, seres humanos, muitas reflexões

Vamos ter que aprender a conviver com esse vírus por um bom tempo?

Com certeza, teremos que aprender a conviver com a doença, tomando os cuidados, mas esse vírus ainda estará presente por muito tempo, entre nós.

A vacinação das crianças ainda ocorre em meio a dúvidas. O que o senhor diria aos pais?

Para aqueles que me perguntam eu digo que não vejo a hora de levar meu filho que tem cinco anos para tomar a vacina.  Estamos aguardando chegar a hora dele, assim como tenho orientado todos que perguntam. Devemos lembrar que conseguimos controlar e até erradicar muitas doenças através da vacina. Se a vacina está aí, já foi aprovada pelos órgãos regulamentadores, foi bem estudada, temos que usar essa arma. Vamos ter a exposição das crianças nas escolas agora. A minha orientação é, vamos vacinar.

Como médico infectologista, da linha de frente da Covid, o que representa comemorar um ano da vacinação?

É comemorar o avanço da ciência que em tão pouco tempo descobriu uma vacina para controle de uma doença, principalmente dos casos graves, diminuição de mortalidade, de internações, então isso traz uma esperança muito grande para outras doenças que a gente ainda não tem vacina, isso abre um campo de esperança para todos. A pandemia representa para nós profissionais da saúde, um grande aprendizado profissional de viver uma pandemia que se tinha conhecimento apenas por livros. E nós estamos vivenciando a pior pandemia e acredito que trouxe para todos nós, seres humanos, muitas reflexões sobre o que de fato temos que dar valor. A pandemia trouxe aprendizado na área profissional, mas especialmente na área pessoal.

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