Esse é o nome do projeto que a nutricionista Camila Tazinaffo Gonçalves colocou em prática em dezembro para o atendimento dos primeiros pacientes. A ideia, que Camila define como necessidade de ajudar pessoas, surgiu em meio a pandemia do coronavírus. “Quando vi as pessoas, não só ganhando peso, mas perdendo emprego e se vendo numa situação bem difícil, senti necessidade de ajudar e a única forma era fazer o que sei, fornecendo meu trabalho gratuito para essas pessoas que precisam, não só oferecendo o atendimento, como também fornecendo a suplementação que é muito cara”.
O desejo virou realidade. O projeto foi colocado em prática e tem a parceria da Secretaria de Saúde de Fernandópolis e empresas para o atendimento e acompanhamento gratuito de pessoas que aguardavam na fila de espera do SUS por atendimento nutricional.
“O objetivo é melhorar a qualidade de vida com nutrição funcional, que vai além do tratamento da perda de peso ou de algumas doenças”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO. Leia:
Qual o objetivo do projeto “Nutrindo Vidas” em parceria com Secretaria da Saúde?
O objetivo é melhorar a qualidade de vida com nutrição funcional, que vai além do tratamento da perda de peso ou de algumas doenças. Trata as emoções, os sinais e sintomas, através de rastreamento metabólico.
Como nasceu esse projeto?
Senti a necessidade de realizar esse projeto por conta da pandemia, quando vi as pessoas, não só ganhando peso, mas perdendo emprego e se vendo numa situação bem difícil. Senti necessidade de ajudar e a única forma era fazer o que sei, fornecendo meu trabalho gratuito para essas pessoas que precisam, não só oferecendo o atendimento, como também fornecendo a suplementação que é muito cara. Entrei em contato com algumas farmácias com as quais trabalho há algum tempo e o Sato que também fornece o que preciso para os pacientes que geralmente compram muito lá. E todos os parceiros, sem exceção, aceitaram o pedido de doação de fornecer tudo de graça para esses pacientes que realmente precisam. Realizamos algumas reuniões em meu consultório e definimos como seria. O desejo era atender pessoas que realmente não tinham condição. Como já fui secretaria de Saúde em outro município, sabia por onde começar, ou seja, a Secretaria de Saúde seria a melhor forma de buscar esses pacientes. Procurei o secretário Ivan Veronesi que imediatamente deu todo o respaldo para iniciar esse projeto. Demorou um pouco pelo trâmite do processo político (eleições) e conseguimos começar em dezembro e já estamos atendendo os primeiros pacientes.
"Buscamos os pacientes que estão na fila de espera no SUS aguardando encaminhamento"
As pessoas que aguardam esse acompanhamento nutricional só precisam perder peso ou possuem outros problemas associados? Quais?
Eu priorizo os pacientes que possuem várias patologias associadas a perda de peso ou não. Todos os tipos de patologias, desde câncer, doenças auto imunes, síndrome metabólica ou até uma simples alteração em exame laboratorial como colesterol alto ou diabetes, etc.
Como esses pacientes chegam até você para o acompanhamento?
Os pacientes atendidos por mim são aqueles que estão na fila de espera no SUS, passaram por uma Unidade Básica de Saúde e estão aguardando encaminhamento. Pego todos os prontuários que estão na fila e faço uma seleção a cada mês levando em conta as patologias associadas.
O que avalia no paciente a partir da primeira consulta?
Avalio a real necessidade do paciente ter sido encaminhado para nutricionista e junto a isso as patologias associadas, a ansiedade, muita vezes a falta de sono, o estresse do dia-dia. Avalio todos os sinais e sintomas que o paciente apresenta e também exames laboratoriais, se houver. Realizo um exame no consultório com todos os pacientes, que é a bioimpedância para verificar a composição corporal de gordura, massa muscular, metabolismo, hidratação e idade metabólica.
Você atende nesse projeto, pessoas que não tem condições financeira para atendimento particular. Como trabalha a montagem de plano alimentar levando em conta essa realidade?
Tento adequar o mais próximo possível a realidade e hábitos alimentares de cada um, sempre com várias opções, para que não fique difícil para ninguém seguir o plano alimentar.
"A ansiedade extrema ou a ociosidade causada pela covid-19, estão levando a um aumento do peso corporal"
Como é tratada a questão emocional, muitas vezes associada ao ganho de peso?
Uso estratégias como atividade física, dependendo do caso, e cada caso é de uma forma. As vezes uma simples caminhada já ajuda muito, e outros tenho que usar suplementação, que é fornecida gratuitamente pelos parceiros do projeto, sem custo nenhum para o paciente.
Os resultados que podem influir na melhora da qualidade de vida começam a aparecer em quanto tempo?
Com 30 dias já podemos ver melhoras.
O isolamento social, por conta da pandemia da Covid-19, levou muita gente a descontar na alimentação? Qual foi o impacto disso?
Quase 90% dos pacientes que me procuram hoje para consulta é por consequência do isolamento social, da ansiedade extrema, ou da ociosidade causada pela covid -19, levando a um aumento do peso corporal. Todo este processo gerado, causa preocupação pois aumenta o grupo de risco para doença.
O fato da obesidade ser um fator de risco para o coronavírus, fez aumentar a procura por atendimento nutricional?
Sim, muito. Posso dizer que desde maio de 2020 a procura aumentou muito. As pessoas estão mais preocupadas com a saúde, chegam já no processo de ganho de peso e ansiedade descontrolada.
Em que momento acende o sinal de alerta para a pessoa buscar ajuda profissional?
A partir do momento que percebem que não conseguem voltar sozinhos ao peso habitual.
As crianças e adolescentes na pandemia, são as que mais estão compensando o isolamento social na alimentação?
"Deem aos filhos comida de verdade, que vem da terra, comida que estraga, diminuam os pacotes"
Atendo desde criança até idosos, no consultório, e vejo que o grupo que mais ganhou peso nesta pandemia foi dos adultos, embora tenho visto que as crianças também, mas os pais ainda estão protelando a saída dos filhos de casa. Depois que começou a pandemia não tenho atendido tantas crianças.
Qual conselho dá aos pais neste momento?
Tentem fazer o máximo de atividade dentro de casa (jogar bola, andar de bicicleta, pega-pega, esconde-esconde), que tentem colocar os filhos para brincar e diminuam a interação com jogos virtuais, os quais as crianças passam a maior parte do tempo sentadas sem gastar energia. O importante também é colocar regras na alimentação dos pequenos, não comprando alimentos que não são saudáveis como refrigerante, salgadinhos, bolachas recheadas, sorvete...Peço sempre para que os pais pensem: “ O filho come o que o pai compra, se não comprar, não vai comer”. Então se come errado a culpa é dos pais que compram e não dos filhos! Que tenha substituição dos alimentos. Que comam comida de verdade, comida que vem da terra, comida que estraga, e que diminuam os pacotes, as comidas que tem gosto de comida, parecem comida, mas não são comida.