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“O agro grita por socorro”



“O agro grita por socorro”

Na quarta gestão à frente do Sindicato Rural de Fernandópolis, o engenheiro agrônomo Marcos Mazeti, com larga experiência de atuação no setor, como ex-secretário municipal de Agricultura e diretor da Faesp/Senar, diz que o agro grita por socorro para os políticos, independentemente de cor partidária, com cobranças de políticas sérias para o setor que sustentou o país durante a pandemia da Covid-19. “Respeitamos todos, mas defendemos as pautas do agro, independente de pessoas. Agora é unir forças para que possamos cobrar e aplaudir o que for bom”, disse Mazeti durante entrevista na Rádio Difusora FM no programa “Crias da Casa” em janeiro. Leia a entrevista:

Quantos anos à frente do Sindicato Rural?
Estou na quarta gestão. O saudoso Rui Okuma (falecido no cargo de prefeito em 2006) era presidente e foi eleito prefeito e fiquei como interino. Depois com o apoio do Paulo Okuma, Luiz Arakaki e com os diretores todos, continuamos à frente do sindicato. Em nossa gestão conseguimos realizar o sonho da sede nova, uma estrutura moderna para atender bem o produtor rural na prestação de serviços.

Qual a área de atuação do sindicato?
Nós temos hoje em torno de 400 associados que pagam mensalidades, mas o Sindicato Rural representa legalmente todos os empregadores e produtores rurais independentemente do tamanho de sua propriedade, mas que tenham trabalhador contratado. O Sindicato engloba Fernandópolis e municípios que são extensão de base casos de Macedônia, Meridiano e Pedranópolis. O Sindicato Rural é a casa do produtor, que representa o empregador rural. Quem representa o trabalhador é o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, temos também o da Agricultura Familiar. Com a extinção da contribuição sindical, o sindicato cobra uma mensalidade para a prestação de serviços aos associados. Além dos serviços prestados, nós temos a capacitação e treinamento de trabalhadores e produtores com os cursos do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), temos também a parte de representação no debate de dissidio coletivo do trabalhador, além de representação nas pautas do setor, sempre buscando parcerias na cidade e região. No momento que estamos vivendo, o produtor precisa estar unido e ter representação para defesa do interesse comum da classe.

"O produtor precisa estar unido e ter representação para defesa do interesse comum da classe"

Como avalia a situação do agro em nossa região?
O agro é tudo. O momento que passamos na pandemia da Covid-19 mostra a importância do agro. Foi o produtor rural que garantiu o produto na gondola do supermercado. Ele continuou trabalhando e não houve desabastecimento. Além da Covid, que foi um momento difícil para todos, o produtor enfrentou uma seca muito forte, sem precedentes na região, com graves prejuízos. O produtor rural teve que enfrentar ainda a elevação do custo para produção com a matéria prima (adubo, fertilizante, combustível) subindo muito e não ocorrendo repasse para o produto. O produtor trabalhou no vermelho e muitos buscaram recursos através de financiamentos, créditos, e estão com propriedades hipotecadas com dividas para pagar. O produtor ficou na luta, mas não teve o reconhecimento dos nossos governantes na forma que teria que ter. Falo de política para o setor, uma garantia de renda, acesso a recursos de financiamentos com juros subsidiados. O produtor não recebeu essa resposta. Posso dizer que todos, pequenos, médios e grandes produtores sofreram e ainda sofrem. 

A citricultura volta a ganhar força na região?
Nós temos a família Okuma há mais 50 anos exportando limão de Fernandópolis para todo o Brasil e outros países. Hoje na citricultura, Fernandópolis foca mais na produção de fruta de mercado. Nosso clima é diferenciado e temos uma laranja que se adapta às nossas condições climáticas, resultando numa fruta mais doce. Há cerca de 15 anos chegamos a ter mais produtores. Veio a crise no setor da citricultura que afastou muita gente, mas hoje vemos que o pessoal está voltando, mas procurando áreas onde é possível fazer irrigação para não ficar refém da chuva que sofreu mudanças na região. Vemos a possibilidade de a região trabalhar mais na produção de limão, ponkan e laranja. O grupo Okuma vem investindo em tecnologia, com pomares irrigados com pivô central. É uma estrutura diferenciada. A saída é investir em tecnologia para aumentar a produção. Pegando hoje os 12 municípios da região de Fernandópolis, a produção é grande. Só do Okuma saem três carretas a cada dois dias para abastecer os grandes centros. É um setor que gera muito emprego. Na região são mais 5 mil empregos diretos. Hoje nós temos também a agroindústria avançando com as usinas de Açúcar e Álcool e Frigoríficos. Mas, a gente lembra que tem muita seringueira, principalmente no Distrito de Brasitânia de onde saíram mudas para todo o Brasil.  

"O momento que passamos na pandemia da Covid-19 mostra a importância do agro"

E como o agro está suprindo a mão de obra?
Podemos dizer que perdemos a força da produção de leite no nosso município e região por falta de mão de obra. Não foi pela tecnologia. Há muita dificuldade para repor mão de obra. Por isso estamos notando a mudança da característica do produtor, não é somente aquele que vive da propriedade, mas um profissional liberal, médico, dentista, empresário, que tem uma propriedade que recebeu de herança ou comprou e ele investe em determinados setores para melhorar a renda. E aí enfrenta a dificuldade da mão de obra. 

O sindicato investe em cursos para formação de mão de obra?
Sim, retomamos os cursos com o Senar agora na segunda quinzena de janeiro. Temos vários cursos que abrem leque, inclusive, para o turismo rural. Vemos o prefeito investindo no turismo rural como forma de geração de emprego e renda para quem está no campo. Essa aproximação da cidade com o campo é fundamental. E o turismo rural chega para suprir essa lacuna e representa oportunidade.

"Muitos produtores foram para o arrendamento de terra para plantio de cana para salvar a propriedade"

Como observa a expansão da cana na região?
Muitos produtores foram para o arrendamento de terra para plantio de cana para salvar a propriedade, para não vender a propriedade para quitar dívidas. A Usina chegou para assumir a propriedade, arrendando as terras para plantio dcana, pagando a dívida e descontando na parcela do arrendamento. Isso fez com que muitas famílias continuassem com suas propriedades. A cana é uma alternativa de renda, mas ao mesmo tempo a gente precisa buscar alternativas para agregar valores, através de produção orgânica, turismo rural, hortifrúti. 

As fazendas solares de produção de energia são alternativas?
Sim, já temos muitos proprietários trabalhando com projetos com investimentos que chegam a R$ 10 milhões. Muitas propriedades em um raio de até 9 km do ponto de distribuição (subestação) estão sendo procuradas para implantação das chamadas fazendas solares. A distância influencia na instalação. 

Como buscar o apoio do sindicato rural?
O produtor deve procurar o Sindicato Rural, disponibilizamos vários cursos sem custo nenhum, com fornecimento de material didático, alimentação e com instrutores capacitados. Hoje temos a chegada de mulheres em muitas atividades como de tratorista, sangria de seringueira que tem envolvido famílias inteiras na obtenção de uma boa renda. 

O que esperar para este 2023?
Não poderia deixar de colocar aqui nosso grito de socorro para os nossos políticos, independentemente de cor partidária. Que possam olhar e fazer políticas sérias para o setor porque o produtor precisa se manter no campo, ele precisa produzir alimentos, mas ele precisa ter renda. Precisamos de política agrícola série, com plano safra que pense em seguro rural, preço mínimo olhando para a agricultura familiar, para o pequeno, médio e grande produtor. A agricultura é uma só, todos produzem alimentos. Nós contamos com os políticos, principalmente o nosso deputado federal Fausto Pinato que tem uma atuação forte em defesa do agro. Pedimos socorro a ele, que continue atento e defenda o agro, assim como os deputados estaduais (Carlão Pignatari, Analice Fernandes, Itamar Borges). É o nosso grito, representando o produtor e em nome da entidade. Respeitamos todos, mas defendemos as pautas do agro, independente de pessoas. Vamos nos manter unidos para que possamos cobrar e aplaudir o que for bom.

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