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“O coronavírus é um problema do desequilíbrio ambiental”



“O coronavírus é um problema do desequilíbrio ambiental”

Nesta sexta-feira, 5, comemorou-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. A programação ambiental que mobilizava estudantes durante toda a semana em atividades ambientais não pôde ser realizada este ano por conta da pandemia do coronavírus. As ações ficam para quando o vírus não representar mais risco para os estudantes. Em entrevista ao CIDADÃO e Rádio Difusora, o professor e secretário do Meio Ambiente Luis Sérgio Vanzela fez um diagnóstico positivo das ações ambientais em Fernandópolis, abordou os esforços para desassoreamento da represa e anunciou a liberação da licença ambiental para a construção da segunda represa, entre a Avenida Augusto Cavalin e Teotonio Vilela. O professor não tem dúvidas que a pandemia do coronavírus é fruto do desequilíbrio ambiental. “É uma interação, seja por alimentação ou qualquer outra forma, que não deveria ocorrer, mas que ocorreu e por esse motivo gerou a mutação de um vírus que antes só acometia animais silvestres e passou a acometer o homem em função dessa interação gerada por conta desse desequilíbrio ambiental”, disse. Leia a entrevista:


Qual o conceito de meio ambiente integrado ao nosso dia a dia?
Ambiente envolve um conceito que não é só físico, mas inclui, por exemplo, o patrimônio cultural, as relações humanas. Tudo isso faz parte do meio ambiente. Nós vivemos em um meio ambiente urbano que foi modificado e que temos que ter resiliência, uma gerência de tal forma que consigamos ter um mínimo de qualidade de vida, como se estivéssemos em um ambiente natural.


Até que ponto o meio ambiente contribui para essa pandemia do coronavírus que assola a humanidade?
O coronavírus é um problema ambiental que está afetando a área da saúde. O que costumo dizer para meus alunos é que quando um ser vivo tem uma superpopulação e começa a interagir com outros seres vivos, essa interação pode ser positiva ou negativa. Não tenho dúvida que o coronavírus é um problema de desequilíbrio ambiental. É uma interação, seja por alimentação ou qualquer outra forma, que não deveria ocorrer, mas que ocorreu e por esse motivo gerou a mutação de um vírus que antes só acometia animais silvestres e passou a acometer o homem em função dessa interação gerada por conta desse desequilíbrio ambiental. Se tivéssemos uma quantidade populacional adequada no planeta atualmente, acredito que ninguém precisaria se alimentar de coisas que geram risco para a saúde humana. 

Não estamos perfeitos, mas caminhamos para ter uma qualidade ambiental em um nível bem mais alto que outras cidades!

Chega nesta época do ano e já começamos ver a onda de queimadas que castigam a cidade. Como conter essa prática?
Nossa estação meteorológica da Universidade Brasil registrou uma mínima da umidade relativa do ar de 18%, um valor considerado critico pela Organização Mundial de Saúde e, em termos de risco de incêndio, também já representa alto risco. Tem um dado que aponta que mais de 95% dos incêndios são provocados. Chega nessa época de baixa umidade, uma grande deficiência hídrica no solo, menos chuva, que coincide com a vegetação que cresceu na estação das chuvas já estar seca, o que torna propício para que os criminosos ambientais ajam, provocando queimadas que são ações induzidas. Fizemos uma pesquisa com alunos do mestrado relativo ao período de 2016 a 2018, onde constatamos que, no nosso município, tivemos mais de 300 focos de incêndios a partir de dados do Inpe. Mais de 60% deles ocorrem no período de junho a setembro. Esse ano, observamos que houve uma antecipação dessas ocorrências que geralmente ocorrem entre as 16 às 18 horas. Temos feito fiscalização e temos conseguido fazer autuações quando realizamos o flagrante. Estamos levando para a Câmara uma nova lei de vegetação urbana que vai tentar conter as queimadas pela prevenção e não pela punição. Essa lei demonstra como deve ser feito o manejo do terreno urbano para que se evite incêndio. Nesta lei, por exemplo, estamos propondo que entre um lote e outro exista uma asseiro de um metro para evitar propagação de fogo de um terreno para outro. Isso é prevenção. 


Quando falamos sobre o meio ambiente, no caso de Fernandópolis, qual avaliação pode ser feita sobre o estágio que já atingimos?
É complicado responder. Se fossemos escolher um índice objetivo para medir isso, poderíamos pegar, por exemplo, o Município Verde/Azul onde aparecemos entre os 10 melhores do ranking. Não estamos perfeitos, mas estamos caminhando para ter uma qualidade ambiental em um nível bem mais alto em relação aos outros municípios.

Um ponto positivo e um negativo do nosso meio ambiente?
Hoje Fernandópolis está “top” na questão do manejo de resíduos sólidos. O município dispõe de locais para ser feito o descarte adequado de todos os tipos de resíduos sólidos. Neste ponto, atingimos nível que poucos municípios têm. Uma coisa que ainda tira o sono é o córrego da Aldeia. Ali fizemos um levantamento da qualidade de todos os mananciais e concluímos que 70% deles estão com qualidade ambiental altamente degradada. E isso é uma ação que vem lá de trás, dos primeiros loteamentos e a própria ocupação rural.

Até o final do ano teremos a represa desassoreada e outra construída o que dará aquela região grande potencial turístico e de lazer
 

Na bacia do córrego da Aldeia tem dois projetos importantes: o desassoreamento da represa e a construção de um lago na área abaixo, entre as avenidas Augusto Cavalin e Teotônio Vilela a partir de uma PPP – Parceria Público Privada. Fale desses dois projetos?
Tivemos uma primeira licitação para contratar máquinas para o desassoreamento da represa atual, mas ela não prosperou. Estamos finalizando novo estudo e em breve teremos um novo edital para contratação e acreditamos que agora as empresas vão se interessar pela execução do serviço. Ainda esse ano a nossa represa estará desassoreada e terá de volta seu espelho d´água original que tinha em 1979, de quase 5 hectares. O enchimento posterior não deve demorar. Além de todas as obras de infraestrutura que a Prefeitura está realizando nos bairros no entorno da represa, estamos com um projeto para fazer o reflorestamento de quatro hectares acima da represa, substituindo a canalização do leito pela recuperação das Apps. Já sobre a área abaixo da Avenida Augusto Cavalin, temos uma notícia muito boa que foi a aprovação do licenciamento ambiental do projeto de uma represa (Parceria Público Privada com o Grupo Arakaki). Agora a fase é de contratação das empresas que vão começar a fazer o trabalho. O prazo também é até 31 de dezembro. Acreditamos e vamos trabalhar nisso para que até o final do ano tenhamos as duas represas. O projeto prevê que a Avenida Valério Angeluci, atrás do Shopping seja prolongada e passe por sobre a barragem da nova represa e vai sair na frente da FEF. Essa foi uma ação muito importante conduzida pelo prefeito André que vai permitir, com essa represa, reconstruir a ponte da Avenida Teotônio Vilela apenas com aduelas, restabelecendo o trânsito no local. Essa vai ser uma região que no futuro terá grande potencial turístico e de área de lazer.
 

Sobre Parques Ecológicos, o que está sendo pensado?
Nos grandes centros, os fragmentos de vegetação nativa foram virando parques para serem preservados. São unidades de conservação. Nós temos grandes fragmentos de vegetação nativa na área rural e quando a urbanização chegar lá poderão ser transformados em parques. Vou citar um exemplo. Protocolamos com apoio do Zeca Cáfaro e da família, no Instituto Florestal o pedido para transformar um fragmento de 150 hectares de mata nativa da Fazenda Jagora em RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural – e junto também o pedido para que se fizesse a exploração de ecoturismo do local. Aquele fragmento vai ser transformado em uma unidade de conservação e vai ser um Parque. A diferença é que a nossa área urbana não chegou até ele que fica a 8 km. A Mata do Jardim Paraíso (onde está a nascente do córrego da Aldeia) também é um grande projeto e para que possamos transformá-la em um parque ela tem que estar ambientalmente bem preservada. Nós temos o projeto para restaurar quatro hectares dela, que vai aumentar sua área e a ideia é chegar até perto da represa que será desassoreada. Hoje temos um problema que esperamos controlar em breve, originário da chamada poluição difusa, ou seja, aquela poluição que vem na água da chuva. É um local que, após esse projeto de restauração, deve ser transformado em unidade de conservação. 

No meio ambiente os projetos são de longo prazo, que transcende décadas e precisa de continuidade
 

Hoje Fernandópolis tem um Plano de Arborização. Como esse plano deve mudar a cidade de patamar na questão ambiental?
Hoje podemos dizer que Fernandópolis tem cerca de 50 mil árvores na área urbana. Parece um número grande, mas cálculos que fizemos para cobrir 20% da área urbana vamos precisamos plantar mais 57 mil árvores. É um trabalho árduo e para atingir essa meta o plano estipulou 12 anos de forma sustentável. Para isso precisamos plantar em média 12 árvores por dia. Mais do que plantar é conscientizar a população da importância da arborização urbana. Se a gente cumprir a meta desse plano, vamos ter uma redução de custo com serviços ambientais, que é o serviço que a natureza faz de graça e que, quando destruímos, temos que pagar. Para isso temos que ter a natureza para fazer esse serviço. É um plano audacioso, mas não impossível de executar. 

A natureza não dá saltos e os projetos precisam ter continuidade, o que nem sempre acontece por conta de mudança de gestão. Como proteger os projetos para que tenham continuidade, independente da gestão que assume?
No meio ambiente não dá para começar um projeto e no meio do caminho, por mudança de gestão, abandoná-lo. No meio ambiente são projeto de longo prazo, que transcende décadas. O trabalho de recuperação do Córrego da Aldeia, da nascente na Mata do Paraíso até sua foz no Córrego das Pedras, que estamos apenas no primeiro passo, é um projeto para 10 a 20 anos. A garantia de continuidade desses projetos é que sejam feitos em parceria com o Ministério Público que tem sido grande parceiro desde o início da gestão do prefeito André e tem nos dado apoio. O desassoreamento da represa tem dinheiro aprovado pelo Ministério Público para o Fundo Municipal de Meio Ambiente. Hoje, todas as decisões sobre meio ambiente são tomadas pelo Conselho Municipal do Meio Ambiente que é formado por pessoas de vários segmentos da comunidade.
 

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