A pandemia do coronavírus que atingiu o Brasil no final de março não afetou apenas a saúde e economia. A vida de milhares de estudantes, da pré-escola às universidades, foi atingida em cheio. De um dia para outro, a rotina escolar foi alterada dramaticamente. As escolas fecharam, os colegas ficaram em casa e os professores saíram das salas de aulas e foram para a tela do celular ou do computador.
O dirigente regional de Ensino, professor Cândido José dos Santos, fez uma avaliação do impacto da pandemia na vida de 9 mil alunos da rede estadual de ensino que frequentam as 25 escolas na área de abrangência da Diretoria de Ensino de Fernandópolis. Ele relatou que 96% dos alunos estão participando das atividades propostas.
“Infelizmente temos 4% (cerca de 350 alunos), que, na verdade, não temos certeza se estão acompanhando as aulas online. São 4% que não estão entregando nas escolas as atividades propostas pelos professores”, explanou.
O impacto negativo da pandemia na educação só poderá ser superado no final do ano que vem, diz o dirigente de ensino. Nesta entrevista ao CIDADÃO ele fala do rigoroso protocolo que está sendo preparado para volta as aulas, agora prevista para 7 de outubro. Leia a entrevista.
O governo anunciou retorno às aulas de maneira presencial para 7 de outubro. Como essa volta está sendo preparada?
Estamos na expectativa, trabalhando para que possamos estabelecer um protocolo com bastante segurança para esse retorno às aulas assim que tivermos uma liberação por parte do Comitê de Combate à Covid-19.
"Eu sempre coloco para os diretores de escolas que não podemos deixar nenhum aluno para trás"
Desde o início da pandemia, com o fechamento das escolas e a adoção de aulas remotas, que balanço pode ser feito?
Nós temos duas ações: uma a nível central que vem sendo desenvolvida pela Secretaria de Estado de Educação através do Centro de Mídia, com uma plataforma criada onde os estudantes podem acessar aulas, sem cobrança de dados móveis por uso de aplicativo, onde eles conseguem assistir aulas. Outra alternativa é a transmissão dessas aulas pela TV Cultura, que na nossa região pode ser sintonizada no canal 4.3. E aqui na Diretoria de Ensino nós coordenamos junto às 25 unidades escolares, um trabalho por um maior engajamento de nossos alunos e de seus familiares neste processo de ensino e aprendizagem que está ocorrendo durante essa pandemia. Certamente, não com a mesma qualidade e eficiência que teríamos em sala de aula. Mas estamos buscando amenizar os prejuízos que os alunos possam ter durante esse período. Os dados nos mostram que aqui na nossa região, dos quase 9 mil alunos matriculados, estamos tendo em torno de 96% deles participando das atividades propostas não apenas pelo órgão central, bem como as propostas pela escola. Temos, por exemplo, professores dando aulas utilizando-se de redes sociais, enfim, estamos tentando de todas as maneiras manter a participação dos alunos, inclusive encaminhando material impresso para aqueles que não tem acesso a internet ou que não possua um aparelho que permita acesso ao aplicativo ou alguma forma de aulas remota. Eu sempre coloco para os diretores de escolas que não podemos deixar nenhum aluno para trás.
Sobre esses 4% de alunos que não participam das aulas remotas, qual o contato que a Diretoria de Ensino e as escolas têm com esses eles?
Infelizmente temos esses 4% que, na verdade, não temos certeza se estão acompanhando as aulas online. São 4% que não estão entregando na escola as atividades propostas pelos professores e com isso não temos condições de fazer uma avaliação de como está a aprendizagem. Nossas equipes, nas escolas, estão fazendo contato com as famílias, estimulando a participação, porque uma das nossas grandes preocupações é que haja uma grande evasão escolar em virtude do desestimulo dos alunos neste período de pandemia. Em alguns municípios temos contado com o apoio muito forte do Conselho Tutelar para minimizar os prejuízos. Nós temos alunos que tem apresentado desinteresse, uma boa parte destes 4% são alunos do EJA – Educação de Jovens e Adultos – e tem também aqueles alunos que têm dificuldade de conexão. Estamos trabalhando nos dois casos para envolver 100% dos alunos e evitar que eles percam o interesse de retornar a escola. Estamos preocupados com o aumento da evasão escolar que aqui na nossa região vinha reduzindo nos últimos anos. Na questão da aprendizagem, quando tivermos o retorno, faremos uma avaliação para todos, para diagnosticar quais as habilidades estão em defasagem, oferecendo oportunidade de recuperação porque, como disse, não podemos deixar ninguém para trás.
O governo trabalha com a data base de retorno as aulas em 7 de outubro, mas admite a partir de setembro aulas de reforços nas escolas nas regiões que estiverem na fase amarela. A Diretoria de Ensino trabalha com essa expectativa?
Esta semana fizemos uma reunião com os diretores e estamos trabalhando com a possibilidade de que na próxima atualização do Plano São Paulo no dia 21, nossa região passe para a fase 3 (amarela). Se isso acontecer, passa então a contar o prazo de 28 dias o que permitiria que nós pudéssemos oferecer atividades de reforço e recuperação para os alunos a partir de 21 de setembro.
"O protocolo para volta as aulas é para garantir a segurança sanitária de todos. Nada é mais importante do que a vida"
O retorno das aulas deve ocorrer mediante um protocolo de segurança bem rigoroso para resguardar a segurança de alunos, servidores e professores?
Sem dúvida, teremos um protocolo muito rígido que terá que ser seguido à risca, inclusive com a recomendação aos familiares que, no momento do retorno, façam a aferição da temperatura do seu filho evitando mandá-lo à escola se estiver em estado febril. O nosso protocolo prevê que para entrada na escola haja a aferição da temperatura tanto dos alunos, quanto dos profissionais da educação. Também haverá todo um protocolo de higienização e o aluno terá que se dirigir para a sala de aula, não podendo ficar no pátio ou corredores fazendo aglomeração. A quantidade de alunos que vamos receber diariamente vai girar entre 20 e 35% o que significa que deveremos ter entre 10 a 12 por dia em cada sala de aula para respeitar o distanciamento de dois metros. Os alunos deverão usar máscaras, os profissionais usarão máscara e protetor facial. As escolas já estão recebendo os materiais para esse momento. Fizemos uma grande compra de termômetros infravermelho para ser utilizado na entrada da escola, álcool em gel, papel toalha, sabonete líquido, copos descartáveis e máscaras. Tudo isso para garantir a segurança sanitária de nossos alunos e servidores. Nada é mais importante do que a vida.
Como os professores estão participando desse momento na escola?
Neste momento, os professores estão fazendo um trabalho remoto, desde que fechamos as escolas no dia 23 de março. Nós, inclusive já fizemos um levantamento de quais são os profissionais de grupo de risco e, tanto esses profissionais, quanto os alunos, deverão permanecer em suas casas em atividades remotas, mesmo com a volta das atividades presenciais no mês de outubro. Outra coisa importante a destacar é que mesmo nas atividades de reforço a partir de setembro, a decisão de encaminhar os filhos às escolas será da família. Ela vai decidir se acha suficiente o protocolo desenvolvido para garantir a segurança que ela deseja para seu filho.
"Acredito que ao final dessa pandemia, a sociedade irá valorizar muito mais a educação"
Na sua avaliação, qual será a educação que vai emergir do pós pandemia?
Penso que o prejuízo foi muito grande, nós avaliamos que só vamos conseguir superar os impactos negativos na aprendizagem dos alunos ao final do ano de 2021, então, será um trabalho que vai muito longe, até conseguir superar isso. Para se ter uma ideia, em 2009, quando nós tivemos a gripe suína (H1N1) nós tivemos só 15 dias de interrupção das aulas que junto com o período de férias escolares em julho e isso trouxe um impacto negativo de quase 6% na aprendizagem dos nossos alunos. Que dirá esses meses todos que estamos vivendo com a pandemia do coronavírus, o impacto deverá muito maior. Tem esse lado negativo, porém, penso que nós também teremos uma lição positiva de tudo isso. Penso que tanto a família, como principalmente o aluno que se viu obrigado a ficar longe da escola por esse período, passarão a valorizar muito mais a escola, valorizar os professores, os profissionais da educação, e valorizar os estudos. Sempre digo que a educação é o único caminho para que possamos ter cidadãos de bem no futuro, cidadãos que possam trabalhar, fazer o bem para nossa sociedade, ser nossos futuros líderes, governar esse país, o estado, nosso município com sabedoria, ética, fazendo o bem da maioria da população. Então, a educação é o caminho para isso. Acredito que ao final dessa pandemia, a sociedade irá valorizar muito mais a educação.
O retorno, quando ocorrer, será para todas as escolas, públicas ou privadas?
Sim, escolas estaduais, municipais ou privadas terão que seguir a mesma data de retorno e protocolo, porque todas elas estão ligadas ao sistema estadual de educação. A regra vale para todas as escolas.