Observatório

O médico e o prefeito



O médico e o prefeito

O médico Alex Garcia Sakata está completando 15 meses de mandato à frente da cidade mais rica da comarca de Fernandópolis: Ouroeste. Ao tomar posse, encontrou uma prefeitura cheia de dívidas, frota sucateada, com protestos de títulos e sem crédito, contrariando a fama de cidade mais rica da região, pelos royalties que recebe da geração de energia da Usina de Água Vermelha. Herança da última gestão. Aos 46 anos, Alex seguiu o pai no interesse pela política. A primeira incursão foi em 2012, quando disputou a prefeitura e perdeu. Como diz nesta entrevista: faz parte do jogo ganhar ou perder. Em 2020, na terceira tentativa conseguiu a vitória em uma eleição histórica em Ouroeste, com quase 80% dos votos dos eleitores da cidade. Em meio aos problemas de gestão, buscou conciliar as funções de prefeito e médico. Sakata conta na entrevista que, após o expediente na prefeitura, veste o jaleco e assume sua jornada como médico na clínica que abriu para atender seus pacientes. É adepto da medicina integrativa, que trata as pessoas em cima dos quatro pilares: boa alimentação, atividade física, controle 
de estresse e sono reparador e a espiritualidade. Leia a entrevista com o médico e prefeito de Ouroeste Alex Sakata:

O senhor está completando um ano e três meses de mandato em meio a pandemia da Covid-19. Qual o balanço?
Enfrentamos toda a dificuldade de um primeiro mandato. Pegamos um município (da gestão anterior ex-prefeita Lívia Luana Costa Oliveira que não concorreu à reeleição) bem degradado, com frota sucateada, dívida gigantesca, sem nome, tínhamos 29 protestos em nome da prefeitura de Ouroeste, quase R$ 5 milhões de restos a pagar para fornecedores e um total de dívida parcelada de R$ 12 milhões. Esse início foi complicado, você entra tendo que fazer a folha de pagamento de janeiro, sem dinheiro em caixa, mas com muito trabalho, responsabilidade, conseguimos regularizar essa situação financeira, com o apoio da Câmara, dos funcionários que abraçaram as causas dessa gestão. Hoje o município de Ouroeste voltou a ter crédito. 

O senhor fez um raio-X das dificuldades que herdou, mas Ouroeste é tida como a cidade mais rica da região noroeste por conta dos royalties da Usina Hidrelétrica de Água Vermelha? O que explica essa situação que relatou?
Esse era o nosso grande questionamento. Por que, um município com uma previsão de orçamento alta, que sempre se concretizou, tinha uma dívida tão grande, devia para fornecedores e perdeu crédito na praça? Isso é falta de gestão. Quando entramos, ninguém queria vender para Ouroeste. Precisava ligar para os fornecedores, pedir crédito e dizer que isso ia mudar. Por isso, digo que tenho orgulho de ser prefeito, de fazer a coisa certa, sanar as irregularidades. Isso se chama responsabilidade com o dinheiro público. Eu estou ali na prefeitura representando uma população, administrando o dinheiro que essa população paga de impostos. Eu tenho uma história, tenho um nome, tenho uma família e vou zelar por isso. Sempre pedi paciência porque ia ser um ano difícil. Era preciso primeiro colocar a casa em ordem. Agora é hora de começar a investir.

"O maior desafio foi reerguer o município. Lá não tem paternalismo pessoal, eu trabalho para a população"

Ouroeste é uma cidade jovem e uma das que mais crescem na região. Qual o futuro que o senhor enxerga para o município?
É inegável o grande potencial de Ouroeste. Nós temos uma usina hidrelétrica, uma usina sucroalcooleira, usina de energia solar, temos um frigorifico, temos a Aromasil, temos empresas instaladas dentro do nosso município que geram empregos. Estamos trabalhando pela regularização do Parque Industrial II ainda sem infraestrutura que se arrasta por longo anos. Conseguimos agora R$ 2 milhões do governo do Estado para implantar essa infraestrutura, regularizar os terrenos e investir em geração de empregos. Ouroeste vai continuar sendo uma das cidades que mais crescem na nossa região. A partir de agora acredito nisso. 

Como consegue conciliar a função de médico e prefeito?
A gente acaba acumulando não só as funções de médico e prefeito, mas também de marido e pai. Como médico, sou funcionário efetivo do município de Ouroeste. Agora estou no cargo de prefeito e fiquei sem um local para atender meus pacientes. Foi quando decidi abrir minha clínica para, fora do expediente da prefeitura, poder atender os pacientes, mas isso acabou crescendo. A minha jornada começa às cinco horas da manhã, quando me levanto, faço o café, realizo as atividades físicas e depois vou para o Paço Municipal. Após o expediente na prefeitura, vou para a clínica e chego em casa por volta das 9 horas da noite e é hora de dar atenção para a esposa e para os filhos. Essa é a rotina.

"Ouroeste vai continuar sendo uma das cidades que mais crescem na nossa região. A partir de agora eu acredito nisso"

Quando surgiu o interesse pela política? 
Eu cresci no meio. Meu pai foi vereador, candidato a prefeito e dentre os meus irmãos, quem sempre se ligou na política fui eu. Sempre gostei muito desse clima da política. Depois que me formei médico, comecei a trabalhar em Ouroeste em 2005, logo prestei o concurso e me efetivei no cargo de médico. Em 2012, fui candidato a prefeito pela primeira vez e perdi a eleição, o que faz parte do jogo, ganhar ou perder. Mas foi nesse ano que plantei a primeira semente. Perdi na época a eleição para o Tião Geraldo, que é um grande amigo, hoje parceiro. Em 2016, fui candidato a vice-prefeito, perdemos a eleição e em 2020, a gente percebia a vontade popular, tanto que fomos eleitos com quase 80% dos votos. Eu tenho orgulho de ser prefeito de Ouroeste, muito orgulho. Há dificuldades? Sim, mas é gratificante, quando se trabalha com responsabilidade, honestidade. O maior desafio, foi pegar o município daquela forma e poder reerguê-lo. Não tem paternalismo pessoal, eu trabalho para a população. 

Como médico, o senhor diz que trabalha com a medicina integrativa. Dê detalhes?
Vou começar com uma historinha rápida. Há sete anos, eu era um verdadeiro lixo metabólico. Falo isso porque, mesmo como médico, não dormia direito, era obeso, sedentário, tomava só refrigerante, fumava, bebia minha cervejinha. Resumindo: estava caminhando para desenvolver uma doença. Tinha muitos sintomas, tomava remédio para ansiedade, remédio para dormir, para dor crônica, muita indisposição, pouca energia. Foi quando conheci um cara chamado Dr. Lair Ribeiro. Me interessei, fiz minha pós-graduação, mudei meu estilo de vida e comecei a tratar as pessoas de uma forma diferente, com uma medicina integrativa, que analisa a pessoa como um todo. É como uma orquestra. Procuro tratar as pessoas em cima dos quatro pilares da saúde. O primeiro é a boa alimentação, o segundo pilar a atividade física, o terceiro o controle de estresse e sono reparador e o quarto pilar, a espiritualidade, a religiosidade. Se alguém quer saber se é saudável, busque os quatro pilares. Comecei a trabalhar com essa medicina e focar muito na questão da obesidade. E obesidade já é considerada uma doença desde 2013 e fator de risco para as principais doenças que mais matam. Emagrecimento não é só estética, é uma questão de saúde pública. 

"Uma pessoa que come fora da caixinha da sociedade, é criticada e acaba sendo julgada como chata, a errada"

Quem procura o senhor como médico, chega lá em que situação?
É impressionante como a população está adoecendo. Quando falo dos pilares, realmente assusta. A rotina acaba levando as pessoas para alimentos que não são alimentos de verdade, não são alimentos saudáveis, que são o primeiro pilar. A partir do primeiro pilar é que buscamos uma atividade física. Não podemos ter uma alimentação ruim e fazer atividade física achando que está tudo bem e não está. Muitas vezes estamos aumentando o fator de risco das pessoas. Mudar estilo de vida não é simples, precisamos de ajuda profissional.

A educação alimentar desde a infância seria o caminho?
Ajudaria muito, mas existe uma coisa que é uma briga gigantesca do poder econômico que reúne a indústria alimentícia e a indústria farmacêutica. É uma situação complicada. Veja, uma pessoa que come fora da caixinha da sociedade, ou seja, tem uma alimentação saudável, é criticada. Eu passei por isso. O fato de mudar meu estilo de vida, por uma decisão pessoal, você acaba sendo julgado como chato, como o errado. Mas, não ando em rebanho. Não é porque todo mundo faz, que vou fazer. Eu tive a decisão de escolher um estilo de vida diferente e, posso falar, não me arrependo. Hoje sou uma pessoa que não tomo nenhum tipo de medicamento, tenho uma rotina diária bem apertada, mantenho isso todos os dias e não tenho nenhum tipo de sintoma. 

A medicina integrativa é a medicina do futuro?
Aposto muito nisso. Isso vem crescendo muito. No exterior, nós temos especializações em relação a isso. No Brasil está chegando agora. Nos grandes centros vem sendo mais difundida. Será sempre uma grande briga. Imagina falar que o gluten faz mal à saúde, que o leite de vaca faz mal à saúde. Mas, não sou eu que falo isso. É a ciência que mostra. Respeito a opinião de todos, cada um tem o livre arbítrio para escolher sua decisão, mas precisamos cuidar melhor da nossa saúde. Preciso envelhecer de uma forma legal. 

Quem são os pacientes que o senhor atende? O que eles buscam?
A maior parte dos meus pacientes está buscando qualidade de vida, saúde, e, por incrível que pareça, a primeira coisa a fazer é emagrecer, tratar a obesidade. Nós temos 70% da população acima do peso, temos que reduzir isso. A grande maioria vai melhorar já com o emagrecimento. Tenho pacientes que buscam performance, idosos que buscam qualidade de vida, reduzir medicamentos, melhorar dor crônica. Então é uma gama de pacientes que vai se beneficiar com tudo isso.

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