Viko Tangoda é reconhecido nacionalmente por sua sofisticação gastronômica, versatilidade, criatividade, carisma e qualidade em servir. O chef, duas vezes reconhecido como o “Banqueteiro do Ano”, prêmio da revista gastronômica Prazeres da Mesa, é fernandopolense. Nasceu em Fernandópolis, em 1965, na casa onde morava aos fundos da Sapataria Autora do seu avô Antonio Barbieri na Rua Brasil, onde por muito tempo funcionou uma lotérica. Saiu daqui com 14 anos para estudar em São Paulo, onde iniciou o curso de eletrotécnica que abandonou na metade, chegou a montar uma oficina de costura com a mãe aqui na cidade, mas o destino, a gastronomia, já estava marcado. “Venho literalmente da roça, de uma família festeira e que sempre gostou de receber”, relembrou o filho do casal Olívio Martins Fernandes e Kiyoko Tangoda Martins, na entrevista que concedeu à Rádio Difusora FM e ao jornal CIDADÃO para falar de suas origens. Na sua memória, os sabores da terra, as canjas servidas nas madrugadas pós baladas ou mesmo o Bauru do Murari. Viko, cujo nome de batismo é Olívio Tangoda Martins, esteve recentemente na cidade para o sepultamento do pai. “Eu admiro muito a cidade, minha raiz. Visitar a cidade é muito dessa coisa de retomar as suas origens, sua cultura e isso pra mim é muito importante”. No momento, Tangoda foi indicado para o Prêmio Melhores da Gastronomia dos Prazeres da Mesa 2023, novamente como melhor banqueteiro. A votação vai até o dia 7 de junho. “Conto com o voto dos fernandopolenses para buscar esse prêmio pela terceira vez. Mas, só a indicação já é um prêmio”, disse. Leia a entrevista:
Relembre sua história em Fernandópolis?
Eu nasci em 1965 em Fernandópolis, o meu avô paterno Antonio Barbieri era o dono da sapataria Aurora. A família do meu avô era toda de Fernandópolis, da minha mãe, a família Tangoda também tinha várias pessoas na cidade. Eu tenho na infância uma recordação de sempre estar celebrando alguma coisa, a nossa casa sempre recebia muitas pessoas, me lembro das épocas natalinas, festas de réveillon, com leitões, cabritos, carneiros, frangos. São recordações que não tem preço. Lembro que minha avó Maria fazia um chouriço, então são memórias que marcam. Antes da pandemia, em 2019, estive na Espanha, na Anduluzia, apesar de japonês, meus avós eram espanhóis e a outra parte, da minha mãe, japonesa. Estava em Sevilha e tinha num bar de tapas um chouriço com arroz. Era uma coisa que nunca mais tinha comido e viajando entendi a origem do prato da minha vó Maria. De Fernandópolis trago recordações muito legais. Resolvi sair para estudar muito cedo, hoje penso, como era criança, tinha 14 anos de idade. Sou muito grato a São Paulo que me deu oportunidades, mas Fernandópolis me deu um conceito de receber como carinho. Estava num churrasco na casa de um amigo em São Paulo e aqui é o almoço. Aí eu disse vamos fazer como no interior, o churrasco é para durar o dia todo, comendo carne, tomando uma cerveja e muito bate papo. É um jeito muito interiorano de receber que carrego comigo.
Qual era o seu espaço aqui em Fernandópolis?
Nasci no centro da cidade, na Rua Brasil, numa casa aos fundos da Sapataria Aurora que era ali onde depois foi a lotérica. Depois mudamos para a Avenida 10 (Avenida Ângelo Mioto) a uma quadra do CPP. O CPP era o meu território, cresci ali, mas a minha infância mesmo foi lá no Tênis Clube. Depois construiu o CPP e virou a piscina de casa. Já adolescente, frequentava as matinês do Tênis Clube e da Casa de Portugal, enfim, a gente curtia muita discoteca na época principalmente no Tênis.
"Nasci no centro da cidade, na Rua Brasil, numa casa aos fundos da Sapataria Aurora"
Como surgiu o interesse pela gastronomia, dela se tornar sua profissão?
Acho que ela já fazia parte de mim. Eu nunca pensei, na verdade, em cozinhar, trabalhar com eventos, com festas. Isso foi uma coisa que aconteceu naturalmente. Mesmo aqui em São Paulo, na casa de amigos, em república de estudante na época, ninguém cozinhava absolutamente nada. Comida não era importante. Eu sempre fazia um patezinho, coisa simples. Estudei eletrotécnica e, determinado momento, resolvi parar e montei em Fernandópolis, com a minha mãe, uma oficina de costura. Eu morava em São Paulo, mas a gente trabalhava em Fernandópolis. Eu ia para a cidade com muita dificuldade, sentava na máquina, costurava, pregava botão, passava, dobrava e voltava para São Paulo, vendia, comprava tecido, voltava, produzia, foi uma época bem difícil. Me recordo até hoje que não tinha carro e viajava de ônibus clandestino. Apesar das dificuldades, foi uma época de muito aprendizado. Foi bem por um tempo e aí vieram os planos econômicos e uma amiga minha aqui em São Paulo falou que as minhas roupas eram legais, mas que eu cozinhava melhor do que costurava. E perguntou por que não fazia alguma coisa na gastronomia. Sou grato até hoje a ela, porque deu o start para ter um olhar para comida, que era uma coisa que fazia naturalmente. Ela indicou uma pessoa para conversar, fui e comecei a trabalhar. Foi onde aprendi a trabalhar com festas.
Podemos dizer que é um autodidata na gastronomia?
Sim, sou autodidata. Eu sempre fui uma pessoa muito curiosa, sempre que vou fazer alguma coisa, gosto de pesquisar. Comecei a viajar para entender a gastronomia. Minhas opções de viagem sempre têm a ver com a cultura gastronômica do lugar, que me acrescente alguma coisa. Mesmo quando não tinha dinheiro nenhum, eu economizava muito e gastava num dia no melhor restaurante para entender o que estavam fazendo de muito bom, de inovador. Era um investimento.
"Estamos concorrendo novamente ao Prêmio Melhores da Gastronomia dos Prazeres da Mesa e peço o voto dos fernandopolenses"
Como foi seu primeiro trabalho como chef?
Eu diria que não tive um primeiro trabalho. Fui aprendendo muitas coisas de eventos e não apenas de cozinhar. Além de curioso, sempre ouvi muito. A pessoa fazia um comentário, eu tinha ouvidos para ouvir. Não ouvia como crítica, mas como uma informação. Minhas grandes experiências foi quando comecei a fazer Fórmula-1 há 20 anos e o carnaval no Rio de Janeiro, no camarote da Brahma, que reunia artistas, todos os famosos, na época em que o carnaval tinha glamour. Foram os grandes desafios onde mudamos de patamar. Eram eventos de muitos dias para 3 a 4 mil pessoas por dia e a gente tinha que servir uma comida de qualidade para um público que era exigente, não só no quesito sabor e textura, mas no quesito sanitário também. Veja, aqui em São Paulo temos um, projeto social que já completou quatro anos e durante a pandemia distribuímos 500 mil refeições gratuitamente. Agora mesmo iniciamos uma parte desse projeto que é de qualificação e o primeiro curso na comunidade do Jardim Imperial é justamente falando de boas práticas em manipulação de alimentos. Isso, desde o início, sempre foi muito importante para mim.
"Eu admiro muito a cidade, as minhas raízes. É muito dessa coisa de retomar suas origens, sua cultura"
Ser reconhecido como banqueteiro do ano estava nos seus melhores sonhos quando ingressou na gastronomia?
Não, nunca pensei que chegaria neste momento. Deixa contar uma coisa, esse ano estamos concorrendo novamente ao Prêmio Melhores da Gastronomia dos Prazeres da Mesa (www.prazeresdamesa.com.br) e por isso peço o voto de todos os fernandopolenses, por favor. Tem muita gente com trabalhos inovadores e estar indicado para o prêmio é uma honra, porque é uma indicação que vem dos profissionais da gastronomia. Esse reconhecimento já é um prêmio e muitas vezes acho que nem mereço a indicação, mas fico muito honrado. Agora dependo da votação popular e conto com os fernandopolenses.
Você ainda tem vínculos com Fernandópolis? Qual a última vez que esteve por aqui?
Eu estive em Fernandópolis na Páscoa por uma situação, infelizmente, muito triste. O meu pai faleceu e eu estive para o sepultamento. Mas, eu tinha estado um ano antes e tenho parentes muitos queridos em Fernandópolis. Eu admiro muito a cidade, as minhas raízes. É muito dessa coisa de retomar suas origens, sua cultura. Isso pra mim é importante. Fernandópolis é meu berço, minha história, apesar de uma parte da adolescência e já não estar na cidade, mas é obvio, que os vínculos permanecem, as festas, as férias, os amigos, as noitadas, as canjas deliciosas, o Bauru do Murari, o cachorro quente. Como esquecer, são memórias, sabores, inesquecíveis.
Fernandópolis cresceu muito na questão gastronômica e hoje só perde para Rio Preto. O que você diria para esses chefs fernandopolenses?
Em Fernandópolis a gente come bem e barato, coisa de interior. A dica é que procurem sempre se aprimorar e ir mais fundo do que executar uma simples receita. Quando aprendia uma receita, queria sempre entender porque acontecia daquele jeito. Não se trata apenas de saber executar uma receita, mas a busca pelo saber do porquê das coisas te torna efetivamente um chef cozinheiro. A dica é procurar conhecimento.
Você é mais espanhol ou japonês?
Sou muito dos dois, mas sou muito fernandopolense.
Onde encontrar o Tangoda em São Paulo?
Aqui em São Paulo nós temos uma rotisserie, a Moma Deli Gourmet, na Vila Inglesa, com produtos prontos para consumo, passando pelos resfriados e ultracongelados.