A Polícia Civil de Fernandópolis tem novo chefe desde o início da semana. O delegado Everson Aparecido Contelli, assumiu o comando da Delegacia Seccional de Fernandópolis substituindo o delegado José Gonzaga Pereira Silva Marques transferido para a Delegacia Seccional de Polícia em São João da Boa Vista. É a segunda troca no comando da Polícia Civil de Fernandópolis pelo governador Tarcísio de Freitas desde janeiro. Em fevereiro, na primeira mudança, saiu o delegado Edson Sakashita transferido para o Deinter de Rio Preto e assumiu José Gonzaga Marques. O delegado Everson Contelli vem do Deinter de Presidente Prudente, onde comandava a Unidade de Inteligência Policial. É autor de livros como “Drones, investigação criminal e segurança pública” em parceria com outros dois policiais; e “Acesso à Justiça Criminal”, além de artigos e capítulos de livros no Brasil e no exterior. Ele é também é o mais jovem delegado a comandar a Seccional de Fernandópolis. Contelli, 48 anos, concedeu entrevista ao jornal CIDADÃO e Rádio Difusora FM. Leia:
O senhor é o delegado mais jovem a assumir a seccional em Fernandópolis. Fale um pouco de sua carreira profissional?
É uma satisfação enorme ser o delegado mais jovem a assumir a Delegacia Seccional de uma região tão próspera como a de Fernandópolis. Estou sendo bem acolhido e estou pronto para colocar em prática o nosso trabalho. Todo delegado de polícia ao longo da carreira passa por diversos cursos na nossa Academia de polícia. Alguns desses cursos são considerados de pós-graduação, a exemplo do curso superior de polícia que trata de sistemas de justiça criminal. Fora da Polícia tenho uma vida acadêmica, sou professor universitário de cursos de pós-graduação, em 2016 conclui Mestrado pela Universidade Estadual do Norte do Paraná, onde tratei do tema “Acesso à Justiça Criminal e Direito Penal Negocial”. Estou concluindo o Doutorado pela mesma universidade, onde pesquiso sobre o custo da investigação.
"Pesquisamos e verificamos que os índices de violência dessa região são bastante controlados"
O senhor vem da região de Presidente Prudente onde era coordenador da Unidade de Inteligência Policial. Como recebeu essa nomeação?
Eu fiquei algum tempo na região de Presidente Prudente, realizamos alguns trabalhos na área da inteligência. Para mim foi uma surpresa, mas recebi com muita alegria essa novidade.
Já consegue ter uma visão do cenário policial da região de Prudente para a região de Fernandópolis?
Sim, as características são distintas. Na região de Presidente Prudente nós temos conflitos agrários e outros tipos criminais. Nessa região, estamos pesquisando e analisando os dados e verificamos, inclusive, que os índices de violência são bastante controlados, assim como na região de Prudente. Mas, pretendemos identificar principalmente aqueles crimes e infrações criminais que causam maior repercussão e insegurança jurídica para, a partir de então, promover o respectivo trabalho.
"Pretendo trazer um estilo de trabalho de resultados dentro da observância das normas constitucionais"
Na unidade de inteligência da Polícia o senhor abordava muito o tema da segurança cibernética. Com a população cada vez mais conectada, esse é o grande desafio da Polícia Civil?
Sim, na verdade, a população, a sociedade está migrando, sai do ambiente real e por várias causas migra para o ambiente virtual, por exemplo, o avanço tecnológico e o próprio impulsionamento em razão da pandemia levou as pessoas para conviver em outro ambiente, o virtual e daí, então, é natural também que nesse ambiente ocorram crimes de maneira que é impossível pensar na investigação sem passar pela investigação cibernética.
Pedofilia, crime de ódio, protestos, viralizam nas redes e impactam a sociedade. É possível controlar?
A Polícia Civil tem várias frentes de enfrentamento especialmente nos crimes relacionados a pedofilia. Já foram dezenas, talvez centenas de operações, inclusive na região de São José do Rio Preto. Podemos dizer que há uma vigilância efetiva sobre o crime de pedofilia.
"É impossível pensar na investigação de crimes virtuais sem passar pela investigação cibernética"
O senhor é um dos autores do livro “Drones, investigação criminal e segurança pública”. Do que trata?
É um recorte sobre a tecnologia também utilizada na segurança. O drone é utilizado no mundo da agropecuária, vistorias industriais, segurança de condomínios e também, a Polícia Civil, há algum tempo utiliza essa tecnologia. Só que toda tecnologia utilizada pode gerar algum tipo de conflito, principalmente, no que toca a produção de provas e questões constitucionais, inclusive de privacidade. Então, até que ponto é permitido levantar um drone e colocá-lo numa residência? Tudo isso nós abordamos no livro, principalmente sobre privacidade e produção de provas e o respectivo impacto na segurança pública.
O senhor tem outras obras lançadas. Quais são?
O livro “Drones” é em conjunto com outros colegas, inclusive um deles, por coincidência é dessa região, Dr. Igor Vinicius Nogueira Jorge, e o outro é Mauro Junior que é investigador de Polícia. Tenho obras individuais como “Acesso à Justiça Criminal” que é fruto do meu trabalho de mestrado e que está na segunda edição esgotada. Temos também o trabalho que trata da questão da violência e a métodos não conflituosos de resolução de conflitos. Participei também de alguns capítulos de livros e artigos no Brasil e fora do Brasil.
Algum projeto que o senhor pretende implantar na Seccional em Fernandópolis?
Alguns projetos têm características únicas, outros são características peculiares à região, mas eu deixo andando alguns projetos na região de Presidente Prudente, mas no momento certo quero trazer para cá, principalmente um projeto que desenvolvemos lá que trata dos órfãos do feminicídio. Na região de Presidente Prudente temos 57 órfãos do feminicídio. E no Brasil, quantos órfãos nós temos? Fazendo a pesquisa, descobrimos que só no ano passado tivemos algo em torno de 2.600 órfãos. Só que é um número de aproximação e o trabalho que realizamos na região de Prudente foi de analisar caso a caso. Então esse número, 57 órfãos são casos reais. Preciso verificar as peculiaridades da região e no momento adequado trazer a debate da sociedade as questões relacionadas a esse ciclo de violência e as formas de enfrentamento. A gente desenvolve um projeto denominado “projeto modular”. Talvez não baste apenas as soluções do presente, mas precisamos olhar o passado e começar a modular o futuro, ou seja, questões relacionadas a educação, desenvolver a cultura da paz e esse debate sobre a compreensão do ciclo da violência doméstica.
Qual o estilo de trabalho que pretende adotar à frente da Delegacia Seccional de Polícia de Fernandópolis?
Pretendo trazer um estilo de trabalho de resultados. É claro, esse resultado não é a qualquer custo, mas dentro da observância das normas constitucionais. Quero discutir bastante com as equipes as questões relacionadas a cadeia de custódia que num ambiente nacional cada vez mais é debatido nos tribunais superiores e, por vezes, alguns inquéritos em âmbito nacional acabam sendo anulados. Trabalhar sempre para manter a sociedade segura e em paz.
Como foi seu primeiro contato com os delegados que compõem a Seccional de Fernandópolis?
Posso garantir que encontrei uma equipe de excelente qualidade, pessoas capacitadas, de um atuar técnico. Estou tranquilo que a nossa equipe, bastante técnica, está motivada.