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O novo comandante da Polícia Civil



O novo comandante da Polícia Civil

Desde segunda-feira, 1º, o delegado Edson Satoru Sakashita, 53 anos, é o novo Delegado Seccional de Fernandópolis, substituindo o delegado Oreste Carósio Neto que comandou a seccional por cerca de 10 anos. Já cumprindo o protocolo para a aposentadoria, Dr. Oreste, com folha de serviço de 45 anos na Polícia Civil vai integrar a equipe de delegados do Deinter-5 em Rio Preto. “É uma grande responsabilidade suceder o Dr. Oreste, mas conheço bem os novos companheiros de trabalho. Estou me preparando desde 2019 para assumir esse cargo e a oportunidade chegou”, disse em entrevista à Rádio Difusora FM e jornal  CIDADÃO. Natural de Santa Albertina, ingressou na Polícia Civil há 27 anos. Sakashita também foi candidato a deputado estadual nas eleições de 2018, pelo então PHS (Partido Humanista da Solidariedade), hoje Podemos. É primo do empresário que dá nome a uma rede de supermercados. Diz que vai focar seu trabalho na gestão de pessoas. Leia a entrevista:

Estava no radar assumir o cargo de delegado seccional em Fernandópolis?
Essa pergunta eu tinha respondido lá atrás, para mim mesmo. Eu tinha expectativa de que essa oportunidade poderia aparecer e me preparei. Desde 2019, buscava me preparar para esse cargo. O delegado de Polícia quando ascende uma função de chefia, antes ele precisa passar por um treinamento especifico e, neste caso, fiquei um ano na Academia de Polícia em São Paulo, fazendo um preparo exaustivo para assumir essa função de tamanha importância na hierarquia da Polícia Civil. 

O foco era a região?
Na estrutura da Polícia Civil, a gente não consegue direcionar a nossa vontade para uma Seccional especifica. A administração nos prepara para assumir um cargo de gestão e vai eleger a região que se encaixa no perfil do gestor. E aqui vai meus agradecimentos ao Dr. Cavalcanti (José Luiz Ramos Cavalcanti) nosso diretor no Deinter 5 em São José do Rio Preto que entendeu por bem me colocar à frente da Delegacia Seccional de Fernandópolis. 

"Eu tinha expectativa de que essa oportunidade poderia aparecer e me preparei muito"

Conte-nos um pouco de sua trajetória na Polícia Civil...
Assumi em1995, portanto, há 27 anos atuo como delegado de polícia. Falo com orgulho que a minha função, toda ela, foi na atividade fim da polícia Judiciária. Aprovado em concurso, tendo passado por treinamento, você toma posse e assume uma delegacia em qualquer município no Estado de São Paulo. Uma vez na delegacia você fará o trabalho de polícia judiciária, que é a investigação, atendimento ao público e elucidação do crime, para pacificar a sociedade. Minha carreira toda, exceção no início quando é obrigatório passar um tempo em São Paulo, tive a sorte de vir para a região de Jales. Passei por todas as delegacias da região e, quando digo todas, foram todas mesmo, incluindo DIG, DISE, Delegacia da Mulher. Por incrível que possa parecer passei por todos os municípios das regiões de Jales e Santa Fé do Sul. Naturalmente a gente vai desejando ascensão na carreira e por conta disso fomos atrás de cursos de capacitação e aperfeiçoamento para gestão pública na Polícia Civil que é o cargo que eu estou hoje. Na estrutura da Polícia Civil no passado, Fernandópolis chegou a ser sede da Regional de Polícia, na época do Dr. Renato Góes, a gente ombreava com São José do Rio Preto. Com a extinção dessas regionais, veio o Departamento (Deinter) em Rio Preto e aqui ficou sendo uma Delegacia Seccional, tal como Jales e Votuporanga.

Muito se fala da falta de pessoal na Polícia Civil. O que fazer?
É um desafio enorme assumir este posto. Mas, eu me preparei para isso, sei que o mundo corporativo já empresta conceitos básicos para a administração pública, ou seja, temos que fazer o mesmo resultado ou talvez melhor por conta da chegada da tecnologia. E nós da Polícia Civil estamos antenados para essa evolução tecnológica, essa nova forma de pensar a gestão pública com um todo. É a era da tecnologia e precisamos dela para suprir o RH (Recurso Humano) que outrora foi muito pesado para a administração pública e que precisou enxugar, como fez o mundo corporativo. 

"Hoje temos a tecnologia a nosso favor. A Delegacia Eletrônica está na palma da nossa mão"

É um luxo hoje exigir um delegado de polícia para cada cidade?
A figura do delegado sempre foi imprescindível em qualquer comunidade, não tenho dúvida. Não só a figura, mas a função do delegado, enquanto pacificador social, é muito importante. Os tempos são outros. Os recursos são escassos e as demandas aumentam assustadoramente. Embora importante, o Estado não consegue prover todos os municípios. Mas, vejam só, embora não tenham o delegado fisicamente na cidade, a tecnologia permite que estejamos lá 24 horas e aí entra a modernidade. Já temos um desafio pela frente que é colocar um delegado full time em todos os municípios, não fisicamente, mas online. Um cidadão em São João das Duas Pontes, por exemplo, quer falar com o delegado, até então ele precisa fazer o agendamento com o colega que está escalado lá uma ou duas vezes por semana. Com a tecnologia, vamos colocar um link de forma que o delegado aqui na nossa sede, na Seccional, vai conversar com essa pessoa, com câmera 360°, com toda estrutura de captação de voz e imagem para que o cidadão lá na ponta possa ter esse contato com a autoridade policial.

E nas demais funções, investigador, escrivão?
Mesma coisa. Todos pensam que só o delegado tem a importância na Polícia Civil. Essa é uma ideia equivocada, porque tal qual o delegado, o escrivão de polícia, o investigador ou agente policial desenvolvem um trabalho de suma importância. Lá na ponta a gente consegue ainda manter um servidor qualificado para fazer pelo menos o primeiro encaminhamento analisando se é caso de falar com o delegado ou não. Muitas vezes a pessoa precisa apenas de uma orientação sobre o caminho a ser trilhado. Hoje já temos a tecnologia a nosso favor. O Estado implementou a Delegacia Eletrônica, que está dentro da nossa casa, na palma da nossa mão. Todos temos um celular e podemos acessar a Delegacia Eletrônica (www.policiacivil.sp.gov.br) e fazer o boletim de ocorrência. É muito fácil, o manuseio é intuitivo, não precisa ser expert. Colocamos lá uma delegacia especializada para casos de violência doméstica. A Polícia Civil tem que estar antenada com essa animosidade que existe na sociedade e lá no site tem a Delegacia da Diversidade para quem foi vítima de algum tipo de preconceito. E tudo isso na palma da mão. Os casos chegam e um delegado vai analisar a ocorrência e adotar as providências cabíveis. Isso é muito prático. 

"A segurança pública é dever do Estado, mas também responsabilidade do cidadão"

Saiu um dado esta semana de que menos de 40% dos crimes são solucionados no Brasil. Como avalia?
Nós temos  dados do Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) alimentado com todos os dados do Brasil. Esse índice 40% de esclarecimento de homicídios, com certeza, fica aquém se comparado com uma Polícia de Primeiro Mundo. Mas, a gente trabalha o tempo todo, e agora estamos aqui para fazer a gestão na Delegacia Seccional de Fernandópolis, para aumentar o índice de esclarecimento, principalmente de crimes que estavam preocupando a comunidade, que são os roubos que aumentaram ao longo do primeiro semestre. A polícia precisa estar antenada para verificar essa tendência do crime. Se formos analisar a nossa média e peço permissão para falar da região de Jales, onde estava até ontem, veremos que a média de esclarecimento de homicídio é de 100%, levando em conta os anos de 2021 e 2022. Não temos nenhum caso de autoria desconhecida. Se os acusados não estão presos, é porque conseguiram algum tipo de benefício da lei para responder em liberdade. Se será condenado ou não, sai da nossa esfera. Nós da polícia legalista, respeitamos a lei. Vamos trabalhar aqui para atingir esse objetivo. O crime contra a vida sempre foi nosso foco lá e será aqui também.

Qual o maior desafio como delegado seccional?
O desafio maior que é o de qualquer gestor de corporação, a gestão de pessoas. Policiais são pessoas selecionadas no contexto da sociedade. Delegado e policial civil não são nenhum ET. Pessoal pensa que delegado é extraterrestre. Esse policial saiu do seio da comunidade. O delegado Seccional de Fernandópolis é de Santa Albertina, minha terrinha. Tenho orgulho disso. Os policiais são selecionados naquele contexto social em que estão inseridos, porque eles conhecem a região, inclusive no aspecto cultural. Por isso nossas seleções hoje, exceção ao cargo de delegado, são regionais, exatamente com essa ideia de distrito. Por isso temos que estimular nossos jovens a ingressar na carreira policial e permanecer na região. 

Como encontrou a equipe na Delegacia Seccional?
Quando recebi esse desafio e sabendo que iria substituir o do Dr. Oreste que comandou essa Seccional por cerca de 10 anos, já sabia que receberia uma equipe equilibrada, uma gestão equilibrada e, graças a Deus, encontrei em Fernandópolis uma estrutura física bem montada e uma equipe motivada. Estamos recebendo várias viaturas para equipar todas as delegacias com viaturas O KM. Sei que o nosso desafio, no sentido de gerir a Polícia Civil, é cuidar também da saúde mental dos nossos servidores policiais civis. É a tônica do mundo hoje lidar com a ansiedade e depressão, que não é particularidade dos policiais. Intensifica por conta da especificidade do nosso trabalho desgastante e de risco. Nós da gestão pública precisamos também atuar para atacar esse problema também. É um compromisso que estamos fazendo porque, antes de ser delegado, ser jurista, temos uma preocupação com a área da mente humana. A segurança pública é dever do Estado, sim, mas a segurança pública também é de responsabilidade do cidadão. Por isso conclamo a todos para, junto com a Polícia Civil, nos ajudem a fazer uma segurança responsável. Queremos criar canal local de disk denúncia, porque é importante ter o apoio da população. A polícia não tem bola de cristal e a população precisa nos ajudar. Vamos procurar o prefeito André Pessuto, o presidente da Câmara Gustavo Pinato e os vereadores para nos ajudar a fazer essa gestão de qualidade. Se a gente acertar, não será o delegado Sakashita que acertou, mas sim a população e com isso todos nós ganhamos.

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