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“O que seria de nós sem as vacinas?”



“O que seria de nós sem as vacinas?”

A indagação foi feita pela enfermeira responsável pelo Programa de Imunização da Secretaria de Saúde de Fernandópolis, Kelgissane Bruzzão Franco da Silva, em entrevista à Rádio Difusora FM e CIDADÃO. “As vacinas foram primordiais para controle e erradicação de doenças como sarampo, paralisia infantil, varíola e agora a Covid-19”, responde a enfermeira, que manifesta preocupação com a queda da cobertura vacinal em todas as faixas etárias. Por conta disso, algumas doenças estão voltando, como o sarampo que registrou surto em 2019. Desde que nasce, o ser humano é protegido por vacinas e isso se estende por toda a vida. Nas Unidades Básicas de Saúde são disponibilizados 19 tipos de vacinas que previvem contra várias doenças.  Quebrar resistências é o maior desafio, especialmente entre os adolescentes. Ainda em meio a pandemia da Covid-19, falar sobre vacina é questão de vida. Leia a entrevista:

Quais as vacinas disponíveis hoje na rede pública de saúde?
É importante dizer que vacina é um bem conquistado pela humanidade e disponibilizada gratuitamente à população. Hoje na rede Básica de Saúde temos disponíveis 19 vacinas para todas as faixas etárias, desde o nascimento até a fase adulta e idosos. O Brasil é um dos países que mais vacinam no mundo.

Qual desses públicos é mais arredio à vacina?
São os adolescentes. Para eles, nós temos, por exemplo, a vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano) que é um vírus responsável pelo câncer do colo uterino e de pênis. O HPV é uma Infecção sexualmente transmissível. Tem também a vacina da Meningo ACWY, que protege contra quatro tipos de meningites e infecções generalizadas, causadas pela bactéria meningococo dos tipos A, C, W e Y.  Essas vacinas poderiam ter uma cobertura melhor.

Por que tanta resistência?
É um público mais difícil para o convencimento. Precisamos conquistá-los para serem vacinados. Até os pais encontram dificuldade de convencimento desses jovens. É claro que também temos na cobertura vacinal de criança que fazer busca ativa, mobilizar os pais, mas ainda temos muitas dificuldades com os adolescentes. 

"Hoje na rede Básica de Saúde temos disponíveis 19 vacinas para todas as faixas etárias"

A cobertura vacinal caiu agora na pandemia, ou já vinham notando essa queda?
Essa cobertura vem caindo ao longo dos anos. Com a pandemia, todas as vacinas registraram queda na cobertura. Além de fazer busca ativa com os agentes comunitários, nós também procuramos desenvolver campanhas de informações para esses públicos, principalmente os adolescentes. Muitos dos adolescentes já têm opinião própria, rejeitam a vacina e isso dificulta.

"Vacina é um bem conquistado pela humanidade e disponibilizada gratuitamente à população"

Qual o impacto das redes sociais contra a vacina?
Tem um movimento mundial de pessoas que são contra vacinação e que não levam os filhos para a imunização. Mesmo essa questão estando definida no Estatuto da Criança e do Adolescente e das escolas exigirem a carteira de vacinação, com as vacinas em dia, para matricula escolar no Estado de São Paulo, ainda enfrentamos problemas. Mas, é sempre importante ressaltar o alerta da Organização Mundial de Saúde que a vacinação salva milhões de vidas. É muito importante se vacinar. 

Em 2019 Fernandópolis chegou a registrar um surto de sarampo, depois de muitos anos sem registro da doença. Ascendeu a luz de alerta para os pais?
Sim, foi um alerta, tanto que após esse surto a cobertura vacinal melhorou muito. Com a campanha de vacinação do sarampo, o Estado de São Paulo que chegou a registrar muitos óbitos em 2019, teve uma queda em 2020 e zerou as mortes por sarampo em 2021. Isso por conta do reforço da vacinação. Mas, mesmo assim o Ministério da Saúde e o Estado investem em campanhas. Neste mês mesmo desenvolvemos a campanha de sarampo para os profissionais de saúde e crianças. 

A vacina da Pólio é o grande exemplo de uma doença erradicada e que já está com registro de casos em vários países?
Já tivemos vários casos, mas os países mais endêmicos são Afeganistão e Paquistão que tem o poliovírus em circulação e isso é um alerta. A globalização tornou tudo muito rápido, inclusive a disseminação de vírus. Veja o que ocorreu na pandemia do coronavírus. Por isso temos que reforçar a campanha de vacinação contra a pólio para que ela não volte. É bom lembrar que criança com dois, quatro e seis meses toma a vacina da pólio e depois tem o reforço com um ano e três meses e depois com quatro anos. Quem vai viajar para o exterior já está tomando a vacina da pólio, principalmente quem vai para país de risco. E quem volta de um país de risco também toma a vacina para entrar no país. É muito importante que isso seja reforçado porque a pólio traz sequelas. O que seria de nós sem as vacinas? Vamos lembrar do sarampo, da varíola, que está aí de novo no noticiário. Hoje já temos casos de varíola do macaco que é um pouco diferente da varíola humana. Mas, a vacina da varíola foi primordial para erradicação no país. Nós erradicamos a varíola em 1980 no Brasil e desde então não se tem mais essa vacina. Graças aos estudos e a ciência, a tecnologia das vacinas melhorou muito nos últimos anos. 

"Quanto mais pessoas imunizadas contra a Covid, menos doentes e menos transmissão"

Temos duas campanhas no foco, contra a Covid e contra a gripe. Como anda a resposta para essas vacinas?
Até agora estávamos com a vacina da Influenza (gripe) para os grupos com comorbidades, profissionais de saúde, idosos, entre outros. Desde quinta-feira, a vacina da gripe foi liberada para todas as pessoas acima de seis meses. E a vacina da Covid já liberamos a quarta dose (a segunda dose adicional) para público acima de 40 anos.

Ainda tem gente que reclama da reação das vacinas?
Numa visão geral, a vacina pode ter um evento adverso, seja ele leve, moderado ou grave. Nas vacinas de rotina, as reações adversas são menores. No início da campanha de vacinação contra a Covid nós tivemos muitas notificações, mas de casos leves (dor no local da vacina, febre, dor no corpo) que são eventos esperados. Os eventos graves são raros. A reação é um evento muito menor que uma reação da doença, da Covid. A prevenção é melhor caminho. 

Nesse momento em que a curva de casos de Covid aumenta é que se mede o efeito da vacinação?
É bom que se diga que não existe vacina 100%. Mas, a vacina evita que a pessoa, se for contaminada, tenha um evento mais grave e precise ser hospitalizada em um leito de UTI, ser intubada ou mesmo ir a óbito. Estamos vivendo uma nova onda de covid e, não fosse a vacina, nós teríamos muito mais internações e mais óbitos. É até difícil imaginar como estaríamos nessa pandemia sem a vacinação. Seria o caos. Por isso é muito importante falar das vacinas, para conscientizar a população para a importância da imunização e evitar doenças que são preveníveis pelas vacinas. 

A chamada imunidade de rebanho, podemos dizer, já foi alcançada com a vacinação da Covid?
Na Covid, como são muitas as variantes e as vacinas foram feitas em cima das primeiras que surgiram, ainda temos um passo muito grande a ser dado em relação a essa imunidade de rebanho. Mas, é lógico, quanto mais pessoas imunizadas, menos pessoas doentes e menos transmissão.

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