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Oito anos do projeto que está empenhado em salvar vidas



Oito anos do projeto que está empenhado em salvar vidas
Na Foto, Cláudio Azevedo, fundador do Projeto Seja um Herói

Fevereiro é um mês especial na luta contra o câncer.  O mês leva a cor laranja de alerta para a importância da conscientização sobre Leucemia e a doação de medula óssea. É também o mês que carrega o Dia Mundial do Câncer e aniversário de fundação da AVCC (4 de fevereiro) e o Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantil (15 de fevereiro).

Para os fernandopolenses, fevereiro tem algo mais: é o mês em que o projeto Seja um Herói – Salve Vida – está completando oito anos. O projeto, todos sabem, nasceu da luta de Claudio Azevedo em busca de uma medula compatível para salvar seu filho. O projeto não conseguiu salvar João Pedro, mas virou uma missão de vida.

Hoje, oito anos depois, Claudio conta que o projeto já conseguiu cadastrar quase 40 mil doadores de medula e alguns milagres: “Já temos cinco doadores. Quando isso acontece é uma alegria imensa”, conta nesta entrevista ao CIDADÃO onde convida o leitor para também ser um Herói. Leia:

O projeto Seja um Herói – Salve Vidas está completando oito anos e virou uma missão em sua vida?

Sim. O projeto começou na necessidade da gente buscar uma medula para o João Pedro, que ele precisava. Neste mês de fevereiro está completando oito anos da primeira campanha realizada. Mesmo naquele momento que buscávamos doadores para encontrar uma medula compatível para o João, nós recebíamos pedido de ajuda de outras famílias. Então, a campanha nunca foi só voltada para o João porque cada doador que a gente conseguia entrava no cadastro nacional de medula óssea. Então qualquer pessoa cadastrada no Redome (Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea) pode ajudar uma pessoa em qualquer parte do mundo. Quanto mais pessoas cadastradas, maior a chance de encontrar um doador compatível.

Qual a probabilidade de encontrar um doador compatível?

A probabilidade hoje no cadastro nacional é de um doador a cada 100 mil cadastrados. Quando a gente olha o cadastro internacional é de 1 em 1 milhão. Com o projeto “Seja um Herói” a gente conseguiu quebrar essas barreiras e estigmas. Quanto maior o número de pessoas entrando no cadastro de doadores, esse banco vai sendo alimentado. Paralelamente nós temos o Registro Nacional de Receptor. Hoje no Brasil nós temos 850 pessoas esperando por um transplante. São mais de 80 tipos de doenças que comprometem a medula óssea e que precisam de transplante. A gente dá ênfase na leucemia, porque passamos por isso, sabemos da dificuldade que representa encontrar um doador compatível. É uma nova chance de vida para quem espera na fila. Quando isso acontece é uma alegria imensa. Então, o projeto que começou com o João está hoje com o Fernando, um menininho de Araçatuba. Em 2017 a gente fez uma campanha para o Mateus, irmão gêmeo do Fernando, infelizmente em 2018 ele acabou falecendo por causa da leucemia. Três meses depois, a família descobriu que o Fernando tinha a mesma doença. Imagina o choque para a família. O Fernando tratou, estava em manutenção, em janeiro teve a recaída e agora só o transplante. O vídeo do pai, o Edson, viralizou nas redes sociais e recebi muitos pedidos para ajudar e estamos empenhados em ajudar. Todo dia tem alguém precisando.

"Quanto mais pessoas cadastradas, maior a chance de encontrar um doador compatível"

Com o projeto você virou uma referência nacional na busca por doadores de medula?

Diariamente tenho recebido contato de pessoas do Paraná, da Bahia, de várias partes do Brasil. Temos outras pessoas também neste trabalho, caso do Rosemberg que trabalha em um laboratório nos Estados Unidos que é para o cadastro de medula óssea. A gente vai trocando informações. Tem a Kátia Garcia, do Paraná, uma pessoa que passou pela luta e comanda o projeto Leucemia Zero no Brasil, o capitão Anderson em Rio Preto que passou pela leucemia e hoje faz um trabalho similar. A gente vê que em algum lugar do Brasil tem alguém trabalhando pela causa. Nessa pandemia tive a oportunidade de falar de forma online sobre o assunto em cinco estados, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia e Paraná, onde fizemos um trabalho com uma faculdade de Medicina, com cerca de 400 alunos. E após isso foram feitos 230 cadastros. Somos referência porque buscamos conhecer sobre o assunto e conhecemos o outro lado e nós não queremos que quem precisa passe pela dor como passamos.

Nesses oito anos, trabalhando para manter vivo o projeto Seja um Herói, tem ideia de quantas pessoas se cadastraram como possíveis doadores de medula?

Nesses oitos anos foram mais de 50 mil doações de sangue na campanha junto com o Hemocentro e quase de 40 mil cadastros de medula óssea. A gente tem uma média de quase cinco mil cadastros/ano. Antes, o Hemocentro fazia uma média 500, 600, 700 cadastros por ano. Nesse período da pandemia, infelizmente não pudemos fazer as campanhas e houve uma queda acentuada. Em 2019 tivemos 3,2 mil cadastros e em 2020 foram 680. Então, quando você sai de dentro do Hemocentro e leva a equipe para instituições de ensino, fábricas, conseguimos mobilizar mais. Na semana que antecede uma ação, a gente faz uma campanha de esclarecimento para a pessoa entender que ela está ali para fazer o cadastro de medula óssea para alguém que pode estar do outro lado do mundo.

"Nesses oitos anos do projeto foram quase 40 mil cadastros de medula óssea"

O resultado desse trabalho está nos números de doadores...

No projeto hoje temos cinco doadores, quatro deles nós fizemos matérias e uma, a pessoa não quis se revelar. Nós temos o Marcelo Silva, que é empresário de Fernandópolis, o Murilo que é fernandopolense que se cadastrou numa campanha que realizamos na faculdade. Tem em Rodrigo de Guarani d´Oeste que foi compatível com uma criança do Canadá e tem o Caio de Santa Fé que participou da campanha e foi compatível com uma pessoa de São Paulo. Se pegarmos os 40 mil cadastros e colocasse a média de probabilidade, não teria nem meio doador, mas temos cinco doadores. Por isso a nossa luta para aumentar o número e ter maior a diversidade de pessoas no banco, porque isso representa maior chance de alguém que precisa encontrar o doador. Já pensei em parar, mas hoje não penso mais nisso. Vamos continuar porque sempre tem alguém esperando uma oportunidade. Foi o caso da fernandopolense Lilian Lima (enfermeira) que descobriu a doença e conseguiu um doador compatível e está bem, cerca de 200 dias pós-transplante. Isso é gratificante, saber que do outro lado alguém teve uma nova chance. Infelizmente não conseguimos achar a medula compatível para o João, mas em oito anos de mobilização o projeto Seja um Herói fez a diferença para muitas pessoas, através de uma doação de sangue ou de uma medula. E isso depende de um ser humano. Por isso, precisamos continuar mobilizando as pessoas.

Ainda existem estigmas que atrapalham a doação de medula?

Sim, são mitos criados e que atrapalham muito. As pessoas confundem medula óssea com medula espinhal, e acreditam que podem ficar paraplégica. São medulas distintas. A medula óssea é encontrada no interior dos ossos, os ossos chatos como do da bacia, contém as células-tronco, onde produz o nosso sistema imunológico. A medula espinhal é sistema nervoso. Uma coisa não tem nada vez com outra. Não risco nenhum.

Tanto a doação de sangue, quanto de medula, o próprio organismo repõe automaticamente?

Na doação de sangue, são 450 ml colhidos, o que corresponde a 8% do total de sangue que temos no organismo. Em 24 horas, todo o conteúdo doado foi renovado. Em 60 dias, o sistema imunológico está reposto e a pessoa já está apta para outra doação. A doação sistemática ajuda o organismo acelerar a renovação do sistema imunológico e isso vai refletir na saúde do doador. Ser doador de sangue é salvar vidas e isso é 100% garantido. No caso da medula óssea, a recuperação é rápida. No projeto, procuramos combater os mitos, as fakes news que repercutem mais que uma notícia verdadeira.

"Qualquer pessoa com bom estado de saúde, de 18 a 54 anos, pode ser herói de alguém"

Quem pode se candidatar a doador de medula óssea?

Qualquer pessoa com estado de saúde, de 18 a 54 anos. Ela vai preencher os dados, assinar um termo de consentimento para ser inscrito no Redome, retirar 5 ml de sangue para o exame HLA, que traça o perfil genético. Feito isso, o cadastro é enviado para o Redome onde fica até os 60 anos de idade. Se for compatível com alguém vai iniciar o processo de doação. É bom lembrar que o SUS cobre todos os custos para o doador. Viagem, hospedagem e alimentação é coberto pelo SUS com direito a acompanhante Quando a pessoa recebe a ligação e aceita fazer a doação, ela passará uma bateria de exames até chegar o momento da doação, isso tudo ocorre entre 90 e 120 dias.

Qual a importância do janeiro laranja?

É de alerta e combate a leucemia. O câncer acontece o ano todo, mas nesse mês é desenvolvido um trabalho de orientação e conscientização para incentivar mais pessoas a fazerem o cadastro para doação de medula óssea. Ser doador é ser um herói. Está salvando vidas. Isso é muito gratificante. No site www.sejaumheroi.com.br temos todas as informações para ser doador de sangue e de medula óssea.

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