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“Programa Melhor em Casa traz dignidade para o paciente e família”



“Programa Melhor em Casa traz dignidade para o paciente e família”

Os municípios estão enfrentando uma nova realidade. A população está envelhecendo e exigindo novos serviços, principalmente na área de saúde. Para atender uma demanda crescente, a Secretaria Municipal de Saúde implantou o programa “Melhor em Casa”, disponibilizado pelo Ministério da Saúde. Conhecido pela sigla AD – Atenção Domiciliar – o programa disponibilizaatendimento a pacientes acamados, em suas diferentes necessidades. O objetivo: evitar internações desnecessárias.Para explicar o programa, a Rádio Difusora FM e o jornal CIDADÃO reuniu o secretário de Saúde do Município Ivan Veronesi, a enfermeira e gerente do programa Antonilce Pansani e a médica Maire Lemes. Estima-se que Fernandópolis tem entre 3 e 4 mil pessoas acamadas e o objetivo é nutrir as famílias com informações sobre como cuidar desses pacientes. “Isso traz dignidade para o paciente e família”, diz a enfermeira Antonilce. Leia e entrevista:

Qual o objetivo do programa “Melhor em Casa”?
Ivan Veronesi - O projeto Melhor em Casa estava no nosso radar. Já existe em alguns municípios e nós buscamos conhecer os pontos positivos e negativos para trazer esse projeto para Fernandópolis. Junto com nossa coordenadora de projetos Adriana Gomes analisamos e decidimos com o apoio do prefeito, implantar esse projeto em Fernandópolis. Buscamos trazer a enfermeira Antonilce, que esteve à frente da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) durante a pior fase da pandemia, para gerenciar esse projeto. Ela tem o perfil que a gente buscava. Montamos a equipe multidisciplinar com nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicóloga, técnica de enfermagem, médica e enfermeira. É um programa que traz resolutividade para aquela pessoa acamada, antecipando sua alta hospitalar e reduzindo o risco de infecção hospitalar. Não se trata de um serviço de Home Care com atendimento 24 horas. Iniciamos o programa com uma equipe limitada que faz a orientação aos familiares. E o trabalho é feito com base em pré-agendamento. 

Já tem pessoas recebendo essa assistência do “Melhor em Casa”?
Antonilce Pansani – Sim, já estamos com mais de 30 pacientes recebendo a assistência no domicilio de orientação para a família sobre como cuidar desse paciente. São pacientes acamados, alguns com sondas e que precisam de cuidados dos familiares. Mas, se precisar de avaliação médica, de aplicação de medicamento endovenoso ou antibiótico a gente vai até a residência, para evitar que esse paciente tenha que ser levado para a UPA. O projeto é de orientação às famílias sobre como cuidar desse paciente. É um impacto grande para a família e essa orientação vem trazer um pouco mais de tranquilidade para os familiares sobre como lidar com esse paciente acamado. Quando o paciente recebe alta hospitalar, é feita a notificação e a equipe faz o agendamento para a visita. 

Quando a médica é acionada no programa?
Dra. Maire Lemes – Nós trabalhamos junto com a equipe. Os encaminhamentos que recebemos vêm da Santa Casa, da UBSs e da UPA, identificando o paciente, expondo os problemas e as necessidades. Todos os encaminhamentos são avaliados e fazemos uma consulta médica no domicilio, para avaliar a condição clínica do paciente e a condição sócio econômica da família. Feita essa consulta, se o paciente for elegível ao programa, iniciamos o acompanhamento, montamos um plano terapêutico que inclui receita médica, sessões de fisioterapia, orientações e consulta da enfermeira, sempre voltado à orientação em relação aos cuidados. Quando esse paciente se estabilizar e a família se sentir segura para cuidar, recebe alta do programa para que possamos atender todos os acamados de Fernandópolis que hoje são em média cerca de 3 a 4 mil pessoas. O intuito é facilitar a vida dos pacientes com a equipe presente no domicilio, porém, essa equipe precisa trabalhar com agendamento e a família precisa estar empenhada em aprender a cuidar do paciente. A demanda por esse serviço é grande e é necessário esse comprometimento familiar, que tenha um cuidador responsável. 

"Um paciente acamado gera insegurança e deixa a família desorientada. O nosso papel é orientar essas famílias"

Qual a maior dificuldade da família quando recebe um paciente acamado para ser cuidado em casa?
Dra. Maire – Quando é um paciente que não tinha nenhum problema de saúde, totalmente independente e ele vem para casa na condição de acamado, dependendo das pessoas para atividades básicas, é um impacto grande. A dificuldade é em tudo, no banho, na higiene, curativo, dieta, mudança de decúbito, e principalmente a insegurança na medicação. A família fica desorientada diante do quadro, as dúvidas são para ações simples, mas que geram essa insegurança. Com as visitas, eles vão aprendendo como lidar com esses pacientes e ganhando maior confiança. As orientações vão desde como se colocar o lençol na cama, o colchão mais apropriado, a dieta e por isso temos na equipe a nutricionista que vai passar toda a orientação. São ações que ajudam e muito as famílias, com resultados positivos para o paciente acamado refletindo numa necessidade menor de deslocamento para atendimento na UPA. Evitar a reinternação desse paciente é a meta do programa e para isso é necessário o envolvimento da família. Na Santa Casa e na UPA a gente vê apenas o paciente. Nesse programa, a gente vê o todo, como está o cuidador que é muito abalado pela situação, o ambiente e os procedimentos que precisam ser adotados. A ida da equipe ao domicilio garante maior dignidade para o paciente e cuidador. 

Os pacientes atendidos no programa são mais idosos ou pessoas que tiveram alguma intercorrência e acabaram acamados?
Antonilce – A maioria (dos pacientes) é idosa. São poucos os pacientes numa faixa etária menor que 70 anos. Mas, temos jovens paraplégicos, vítimas de acidentes, e no caso, o sofrimento é grande, já que se tratava de uma pessoa totalmente ativa que colaborava na renda da família. É onde entra o trabalho da psicóloga para dar assistência à família e ao paciente. O paciente idoso exige mais atenção e dependendo do quadro, a família encontra muita dificuldade, principalmente, se necessitar realizar a aspiração ou curativos de feridas. 

"A maioria (dos pacientes) é idosa. Mas, temos jovens paraplégicos, vítimas de acidentes, onde o sofrimento é grande"

Qual a diferença do médico do PSF e esse programa Melhor em Casa?
Dra. Maire – Os dois médicos precisam se comunicar, porque o paciente fica sob os cuidados de ambos, do médico do Programa Saúde da Família que atende no postinho que abrange aquela comunidade no entorno e do médico do programa Melhor em Casa. A diferença é que o médico do Melhor em Casa vai atender os pacientes mais complexos, que são os acamados, que usam traqueostomia, oxigênio, e até aqueles que usam respirador domiciliar. É uma complexidade um pouco maior e que precisa de uma visita com pouco mais de frequência. Os PSFs abrangem uma população maior e as vezes não dá conta de fazer visitas semanais. Por isso a comunicação entre o programa e Unidade de Saúde é importante porque o paciente nunca deixará de pertencer aquela unidade.

Esse programa vem de uma certa forma evitar que o município sofra tantas ações judiciais para disponibilizar serviço home care a pacientes?
Ivan Veronesi – Na verdade, esse programa veio para dar essa estrutura para nossa população, na linha do home care. Infelizmente os municípios não têm condições de prestar esse tipo de serviço, o home care na essencia. Então o Ministério da Saúde lançou esse programa, o Melhor em Casa, para que os municípios disponibilizem esse serviço de orientação à população e de acompanhamento domiciliar das pessoas acamadas.  

"O mundo está mudando e precisamos fazer as adaptações necessárias para atender melhor a população que está ficando idosa"

A informação é melhor ferramenta para essas famílias que precisam aprender a lidar com esse tipo de situação?
Ivan Veronesi – Sem dúvida. É isso que o programa busca levar para essas famílias, informações para aprender a lidar com essa situação. É importante frisar que esse programa dispõe de um protocolo que preconiza o que é disponibilizado à família, com início, meio e fim. É claro que vai depender do tipo de paciente, seja aquele acamado que precisa de um acompanhamento maior, ou aquele que está no pós-operatório e que em pouco tempo já retoma sua independência. Por isso, neste início, estamos indo com cautela para que possamos prestar o melhor serviço. Hoje esse nosso programa já é referência na região. O prefeito André Pessuto entendeu essa necessidade e apoiou a iniciativa. A Adriana Gomes já está com outros projetos, inclusive o Saúde na Hora, com algumas unidades básicas permanecendo abertas até às 19 horas. O mundo está mudando e precisamos fazer as adaptações necessárias para atender melhor a população que está ficando idosa. Essa é uma tendência e precisamos nos preparar. Então esse programa vem para atender uma necessidade no pós pandemia, onde temos muitos pacientes com sequelas severas.

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