O advogado João Paulo Sales Cantarella, 46 anos, foi o vereador mais votado nas eleições de 15 de novembro. Saiu das urnas com 936 votos e é um dos oito novatos que vão formar na nova Câmara de Fernandópolis a partir de 1º de janeiro. Aliás, caberá a ele presidir a sessão solene para a posse dos eleitos. Ele é do MDB, partido que integra a base de apoio do prefeito reeleito André Pessuto.
É um novato na Câmara, mas chega com uma vasta bagagem de conhecimento no campo administrativo que adquiriu ao longo de 25 anos na área pública, como advogado de prefeituras e também procurador concursado da Câmara de Ouroeste. Por isso já fala em buscar o equilíbrio.
“Há uma balança que é difícil de ser equilibrada, que é da administração e da política. Às vezes, quando a gente é muito administrador, a parte política fica apagada. E quando é muito político, a parte administrativa tende a falhar. Eu pretendo buscar esse equilíbrio, da parte técnica com a parte política, sempre fazendo o que é certo”, diz.
Ele sabe dos desafios que terá pela frente, mas coloca os princípios que norteiam sua vida como baliza para sua atuação. “Quero fazer diferente como político. É um passo que estamos dando, mas quero viver e assumo isso como ministério da minha vida”, diz nesta entrevista ao CIDADÃO:
Como surgiu o desejo de se colocar na disputa por uma cadeira na Câmara?
Eu trabalho na área pública já tem mais de 25 anos. Sou formado em Direito e toda a minha parte de estágio, antes mesmo de me formar, foi voltada para a área pública. São mais de 25 anos atuando com prefeituras, com câmaras, essa é minha vida. Na verdade, 90% da minha atuação profissional é dentro da área pública. Aqui na região, acho que atuei em quase todos os municípios, seja para refazer a Lei Orgânica, estatuto do servidor, plano de carreira de professores. Então, a área pública é minha vida. Do ano passado pra cá surgiu esse desejo no coração, de sair da parte técnica e partir para o trabalho no campo político, de rua mesmo. Fui também dirigido por uma palavra, como evangélico a gente coloca tudo na presença de Deus e creio que houve, sim, o direcionamento de Deus na minha vida para esse momento. Ai vieram os amigos incentivando para entrar na política e isso também pesou. Mas, foi principalmente o apoio daqueles que caminham comigo, minha família, minha esposa, meus filhos, meus pais, o que mais pesou na decisão de encarar esse desafio.
Você disputou por um partido que tinha os chamados “pesos pesados” da política e sabia que o jogo seria disputado?
Sim, tudo que vou fazer peço a orientação de Deus. Conversei com vários presidentes de partidos, recebi algumas propostas, analisei o grupo, independente da quantidade de voto, que fosse formado de pessoas que poderiam fazer a diferença por Fernandópolis. Eu encontrei isso no MDB. Confesso que não olhei a questão de quantidade de votos. Olhei a qualidade das pessoas que estavam no grupo, dirigindo o partido.
"É um novo passo que estamos dando, mas quero viver e assumo isso como ministério da minha vida"
Você relatou sua experiência na área pública como técnico. Agora você vai para a Câmara como político. O que a cidade pode esperar do vereador João Paulo Cantarella?
Primeiro, quero dizer que também sou servidor público. Sou procurador da Câmara de Ouroeste, estou lá há 16 anos, como servidor efetivo, concursado. A Câmara é o meu dia a dia, meu feijão com arroz, então, acredito que posso contribuir muito dentro dessa área, de conhecimento, de análise de projetos, de fiscalização. Mas, nessa caminhada, assumi o compromisso com a população de estar junto. Não prometi nada. Em cada porta que bati, em cada empresa, a minha palavra era que estaria junto, ia comparecer, ia retornar, que as portas do meu escritório no Edifício Atlantis estariam abertas para receber e ouvir a população em cada problema pontual do bairro, do posto de saúde, da escola. Conhecer isso foi importante, porque a gente que vive muito a parte técnica, atrás da cadeira, de resolver na caneta, é uma coisa, quando saímos pra rua e começamos a ver a necessidade, a dificuldade, as vezes problemas que não são difíceis de resolver e que poderíamos intervir, resolver, então, foi esse compromisso que assumi, de lutar por cada circunstância que apareça, dentro do que é função do vereador. Serei um vereador receptivo, que a população poderá procurar e que vai lutar, dentro do que é correto e pode ser feito.
E o político, como será?
Confesso que é tudo meio novo. Como técnico, diria que estou aprendendo um pouco essa parte política. Apesar da vivência com políticos todos os dias, com prefeitos, com vereadores, secretários, essa parte ainda estou conhecendo, quero fazer diferente como político. É um passo que estamos dando, mas quero viver e assumo isso como ministério da minha vida. Hoje, graças a Deus, sou realizado profissionalmente, tenho meu escritório aqui em Fernandópolis, que é referência na área pública, o meu trabalho em Ouroeste. Não dependo financeiramente da política, mas é o que quero viver e assumo pra mim agora, verdadeiramente, para ser um ministério.
Esse conhecimento técnico vai ajudar no seu lado político?
Sim, não tenho dúvida disso. Isso vai agregar ao meu trabalho. O que pretendo, é trazer um pouco da área técnica para a área política. Há uma balança que é difícil dela ser equilibrada e eu tenho falado sobre isso nessa caminhada, que é administração e política. Às vezes, quando a gente é muito administrador a parte política fica apagada. E quando é muito político, a parte administrativa tende a falhar. Eu pretendo buscar esse equilíbrio, da parte técnica com a parte política, sempre fazendo o que é certo. Olhar politicamente o que é correto, o que pode e o que não pode ser feito. É difícil neste momento, porque até hoje vivi de pareceres. Chega o projeto, a gente olha a parte técnica e dá o parecer jurídico da situação, sem se envolver na questão política, se vai ser bom ou ruim, mesmo que legal, estando tudo certo, se aquilo vai atingir a população de uma forma boa ou ruim. Já dei pareceres em projetos com o coração apertado, porque tinha certeza que aquilo, apesar de certo juridicamente, talvez traria um dano grande para a população. Mas, essa parte política não era minha atribuição. Acredito que posso fazer a junção dessas duas coisas, da legalidade do projeto e se vai ser bom o ruim para a população. Ai entra o equilíbrio.
"Fiquei muito feliz com os eleitos, se você olhar, tem pessoas com desejos novos, de lutar, de trabalhar pela cidade"
Essa renovação da próxima Câmara com oito vereadores de primeiro mandato, foi um recado da população cobrando uma nova postura dos legisladores? Enxerga assim?
Sem dúvida, em muitas portas que bati ouvi o recado da renovação. Quem estava na Câmara, era porque a população tinha escolhido, mas eu entendo que é um tempo de renovação, tempo novo, de pessoas novas. Fiquei muito feliz com os eleitos, se você olhar, tem pessoas com desejos novos, de lutar, de trabalhar pela cidade.
Você disse que não fez promessas. Mas, entre a promessa e a realidade, o conhecimento da função de vereador ainda representa uma distância grande?
Às vezes a gente vê muita promessa, porque é mesmo um desejo do candidato. Ele não está mentindo, não é uma invenção dele. É um desejo de fazer, buscar e criar, ele está entrando para lutar por isso, mas o que vimos nesses 25 anos em que atua no setor público, é que isso é normal, porque é a vontade, o sonho dele, porque entende a dificuldade que a pessoa enfrenta no posto de saúde, na segurança pública, na educação. O que acontece é que muitas vezes falta o conhecimento sobre até onde pode ir, o que é função do vereador e o que é função do executivo. Resumindo, vereador não pode fazer projeto que custe 1 real para os cofres da prefeitura. Por isso, a gente vê muita gente frustrada no cargo. Isso ocorre com os prefeitos, acham que vão entrar e mudar o mundo e o vereador não é diferente. Tenho até um curso preparado que apresento nas Câmaras em início de mandato, exatamente para explicar qual é a função do vereador, o que pode e o que não pode fazer. E tem o lado da população, que muitas vezes cobra algo do vereador que não é competência legal dele.
Tem uma polêmica antiga na Câmara sobre o recesso de julho. O que pensa disso?
Eu entendo que, principalmente esse recesso do meio de ano, não deveria existir. É o meu pensamento pessoal, mas é algo constitucional, que não está só na Lei Orgânica ou no Regimento Interno. Quando a constituição foca nisso, ela olha para o congresso, a necessidade dos deputados e senadores virem para suas bases, o que não é o caso dos vereadores. Como técnico, se chega um projeto desse para dar parecer eu digo que tem seguir a simetria da constituição. Agora, tem o lado político. Por isso, disse sobre o equilíbrio da balança. Mas, quero deixar claro meu posicionamento sobre o recesso de meio de ano, não sou favorável a ele, mas entendo, como técnico, a questão constitucional.
"Não sou favorável ao recesso de julho, mas entendo, como técnico, que a questão é constitucional"
A sua mensagem aos eleitores?
É de gratidão. Sou grato, porque entendo que essa eleição foi algo preparado por Deus na minha vida. Agradeço cada voto que recebi e vou retribuir com trabalho, sinceridade, honestidade. Como cristão, vivo de princípios, de família, lealdade, de fidelidade, de amor ao próximo. Meu desejo é viver esses princípios, honrar o meu Deus, honrar a família, honrar a todos que confiaram em mim. A partir de agora, não são apenas os que votaram em mim, mas eu tenho um compromisso com a população e de desejo de ser o elo entre a dificuldade da população e o órgão público. Vou trabalhar e muito...