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“Sim, a leishmaniose é um problema de saúde pública”



“Sim, a leishmaniose  é um problema de saúde pública”

Não bastasse o mosquito da dengue que há décadas tira o sono do fernandopolense e já infectou milhares de pessoas com a dengue, inclusive com casos de óbitos, temos que nos preocupar também com o mosquito palha, que é o transmissor da leishmaniose visceral que tem infectado cães e humanos. Enquanto o aedes aegypti prolifera em recipientes que acumulam água, o palha, da leishmaniose, prolifera em matéria orgânica acumulada no quintal. O mosquito palha chegou a Fernandópolis pelo trem, por isso os bairros à margem da ferrovia são os locais com maior índice de cães positivados. Entre março e julho foram notificados 194 casos, 97 esperando resultado, 54 eutanásias, 13 em tratamento e 30 negativos. O Centro de Controle de Zoonoses de Fernandópolis integra a “Semana Estadual de Conscientização sobre a gravidade da Leishmaniose e as boas práticas ambientais para a prevenção”, que ocorreu de 7 a 11 de agosto. Mas, o trabalho em Fernandópolis é o ano inteiro, diz a coordenadora do CCZ – Centro de Controle de Zoonoses – a veterinária Daiane Fázzio, com visita dos agentes de vetores para coleta de exames casa a casa. Fernandópolis está entre as cidades classificadas como “prioritária” para ações de controle da leishmaniose, ou seja, a cidade tem um número elevado de casos positivos em cães e registra casos positivos também em humanos. A entrevista, a seguir, é uma forma de alerta:

A semana foi toda voltada para a Leishmaniose que atinge o cão e o ser humano, para alertar sobre o controle do mosquito palha que é o transmissor da doença. E isso depende da população?

Sim. O controle da leishmaniose depende da população, porque o mosquito palha prolifera em matéria orgânica, folha seca, fezes de animais não recolhidas. Essa parte da limpeza do quintal depende muito dos munícipes. Mesmo tendo agentes que passam para orientar é necessário que a população colabore para o controle do mosquito palha que é o vetor de transmissão da doença.

"Infelizmente o mosquito Palha que transmite a leishmaniose está repetindo a história do mosquito da dengue que chegou para ficar"

Temos o mosquito da dengue há décadas e não conseguimos nos livrar dele. É a história que se repete agora com o mosquito palha?

Infelizmente se repete sim. E o controle do mosquito palha é um pouco mais difícil em relação ao aedes aegypti que é o transmissor da dengue. Eliminar os criadouros do mosquito da dengue em locais que acumulam água, por exemplo, é mais fácil do que eliminar todo o tipo de matéria orgânica, lixo, resto de alimento, manter o ambiente do animal limpo, o que demanda mais trabalho.

Podemos dizer que a doença transmitida pelo mosquito palha é hoje um problema de saúde pública?

Sim. A leishmaniose é um problema de saúde pública. Há alguns anos somos município prioritário, ou seja, temos cães positivos para leishmaniose e temos casos humanos também positivos. Então, é uma preocupação muito grande na questão da saúde pública.

Além da conscientização, o que está sendo feito para controle da doença?

Nós temos a equipe da leishmaniose, formada por agentes de vetores, que faz a coleta de exames casa a casa em bairros específicos. Através desses exames a gente consegue mensurar a quantidade de cães positivos que tem no município, além de orientar a população sobre a limpeza e os cuidados com os animais, fazendo um trabalho de conscientização também nas escolas e unidades de saúde. É bom lembrar que os agentes comunitários de saúde também já foram orientados sobre a leishmaniose e como eles podem orientar o tutor sobre os cuidados e como identificar alguns sinais no animal quando está doente. Tudo já vem sendo feito há algum tempo.

"A gente sabe que o trem trouxe o mosquito palha para nossa cidade e aquela área à margem da ferrovia é onde temos mais animais positivos"

A partir da coleta de exames, tendo casos positivos, quais são as medidas?

O Estado oferece a eutanásia gratuitamente que é feita aqui no Centro de Controle de Zoonoses em caso do animal positivo. O cão tem que ser positivo em dois exames, no teste rápido que é feito por nós. Depois essa amostra de sangue é enviada para o Instituto Adolfo Lutz de Rio Preto que fará a contraprova. Através desse segundo exame poderemos confirmar se o animal é positivo ou não para a leishmaniose. A partir daí o tutor é orientado sobre autorizar a eutanásia que é gratuita, ou optar pelo tratamento que é preconizado pelo Ministério da Saúde e que no caso é particular.

O CCZ tem encontrado dificuldades para eutanásia de animais contaminados?

Não temos encontrado muita dificuldade para orientar o tutor sobre a eutanásia. A maioria dos tutores entendem a situação e entregam os animais, muitas vezes por medo de se infectar com a doença. O Ministério da Saúde permite o tratamento, desde que o animal seja encoleirado com a coleira repelente para que o mosquito palha não tenha acesso ao animal e transmita a doença para outro animal e ser humano. Que seja o tratamento correto, através de uma medicação que é autorizada pelo Ministério da Saúde e que elimina praticamente a carga parasitária do animal evitando a transmissão.

"Os cães em situação de abandono são uma preocupação de saúde pública, pelo aumento populacional e na transmissão de doenças"

Na comparação com o ano passado, como está a situação da leishmaniose em Fernandópolis? Casos estão aumentando ou diminuindo?

Nós estamos com uma quantidade equivalente ao do ano passado. No ano passado tivemos cinco casos positivos em humanos e este ano nos tivemos dois casos. No caso de animais, os números no período de 27 de março a 27 de julho são os seguintes: foram 194 caso registrados; 97 aguardam resultado; 54 eutanásias; 13 recusas com o tutor assumindo o tratamento do animal e 30 casos com resultado de contraprova negativo.

Qual região da cidade apresenta maior índice de contágio?

Em cães, o maior índice de cães positivos está ocorrendo nos bairros em torno da ferrovia. A gente sabe que o trem trouxe o mosquito palha para nossa cidade, só que hoje acreditamos que, pela quantidade de área verde naquele local e a dificuldade de eliminar matéria orgânica, aquele é o local com mais animais positivos para a doença.

Cães em situação de abandono preocupam?

Os cães em situação de abandono são uma preocupação de saúde pública, tanto na questão do aumento populacional, porque a maioria não é castrada, como na transmissão de doenças, entre elas, a leishmaniose. Podemos ter um animal positivo perambulando pelas ruas e infectando os mosquitos pelo bairro onde passa, daí ocorrendo a transmissão da doença.

Como veterinária, o que sugere à população para proteger o animal de estimação e a si mesma?

O animal de estimação deve ter um acompanhamento veterinário, independentemente de ter sintoma de doença, sempre com a coleira repelente para o mosquito, mesmo ele sendo negativo, o que vai impedir que o Palha transmita para ele a leishmaniose. Em caso de qualquer sintoma da doença, procurar o atendimento veterinário. Identificando algum sintoma da leishmaniose, como o crescimento das unhas, feridas, queda de pelo ao redor dos olhos, pode procurar o Centro de Controle de Zoonoses para fazer o exame. Para proteger a população é o uso de repelente e a limpeza dos quintais, manter a casinha do cachorro limpinha, recolher as fezes todos os dias, eliminar pontos de matéria orgânica no s quintais, para eliminar o vetor, que é o mosquito que transmite a doença para o animal e para o humano. O animal é mais uma vítima, igual o ser humano. É bom frisar que o animal não é o causador da doença. Então, temos que controlar o vetor para evitar que o animal e as pessoas fiquem doentes.

SERVIÇO:

Sintomas da Leishmaniose Visceral

Animais: Emagrecimento; queda de pelos; crescimento das unhas; descamação da pele; fraqueza; feridas no focinho; orelhas; olhos e patas.

Humanos: Perda de peso; fraqueza; anemia; aumento do fígado e baço; sangramentos em casos mais graves.

Prevenção

Mantenha a casa e o quintal sempre limpos, livres de materiais orgânicos e resíduos de alimento. Nos animais é indicado o uso de coleira repelente. Use produtos repelentes de insetos nos ambientes.

O CCZ de Fernandópolis fica na Av. Litério Greco, 300 - Bairro Brasilândia. Informações pelo 3462-3341.

 

 

 

 

 

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