Observatório

“Temos que comemorar, estamos vivos”



“Temos que comemorar, estamos vivos”

Na próxima quarta-feira, dia 25, é comemorado o Dia do Feirante.  A data foi instituída em homenagem a primeira feira livre instalada em 25 de agosto de 1914. Em Fernandópolis a Feira Livre existe desde 1975 e, a partir de 2016 vem sendo administrada pela Associação dos Feirantes que tem na presidência Cleber Eduardo Cestari, 38 anos. Para ele, é uma data para ser comemorada, principalmente após um ano e meio de trabalho em meio a pandemia da Covid-19. “Estamos vivos, não tivemos nenhuma morte entre os feirantes nesta pandemia. E nesse período todo, diante de tantas dificuldades, de tudo que passamos, não paramos de trabalhar, de buscar o nosso ganha pão. No dia bom, a gente estava lá, no dia ruim que precisou fechar, ficamos em casa. Mas, sempre todos unidos”, disse nesta entrevista ao CIDADÃO. A pandemia, diz Cleber, impactou, e muito, a vida dos feirantes. Muitos, com medo, desistiram. “Estamos ainda tentando arrumar a casa na expectativa de que a gente volte a normalidade como era antes”. Além da Covid, os feirantes enfrentam as dificuldades impostas pelo tempo seco. Leia a entrevista:

Como vocês feirantes estão atravessando esse período de pandemia?
Graças a Deus, a situação está melhorando, o pessoal está sendo vacinado, os índices de contágio, internação e mortes estão diminuindo, indicando uma situação melhor no país. Podemos dizer que está melhorando. Tivemos muitas dificuldades nesta época de pandemia, no ano passado e este ano tivemos uns três períodos longos com a feira fechada, isso dificultou bastante. Muitos feirantes desistiram por conta de serem idosos, do grupo de risco, muitos pararam de trabalhar por medo. Estamos tentando arrumar a casa, colocando alguns feirantes que estão precisando trabalhar. Hoje a nossa feira, com a graça de Deus. está indo bem, está voltando a normalidade do que era. De uns dois meses para cá melhorou bastante.

"Tivemos muitas dificuldades nesta época de pandemia. Muitos feirantes desistiram"

Antes da pandemia, trabalhavam na feira cerca de 100 feirantes. Como está a situação hoje?
Hoje estamos com quase 80 feirantes, isso porque já conseguimos repor alguns no lugar dos que desistiram. Tinha feirante na fila esperando uma vaga e nós chamamos esse pessoal. Mesmo assim, temos feirantes que não estão indo, continuam inscritos, contribuindo, ajudando a gente, mas por conta da pandemia preferem ficar ainda afastados. Outros por falta de mercadoria, com o tempo seco, escassez de chuva, que é o caso do pessoal que vende milho, pamonha, está bem difícil deles trabalharem, não tem milho. Também quem trabalha com verduras, encontra dificuldades. Pelo menos 20 feirantes estão ausentes por conta da pandemia e da falta de produtos para vender.

Nesse período da pandemia, vocês chegaram a perder algum feirante para a Covid?
Com a graça de Deus, nenhum feirante veio a óbito. Tivemos poucos feirantes contaminados, meu pai foi um deles, em dezembro do ano passado, mas ele se curou. Tivemos poucos casos, acredito que nem 15 pessoas que trabalham na feira contraíram o vírus nesse tempo. O importante foi que todos entenderam a importância de seguir o protocolo sanitário, com uso de máscara, álcool em gel, distanciamento social. Deixamos bem claro para todos que nós precisaríamos ter esse cuidado com as pessoas, com a manipulação dos alimentos e graças a Deus, deu tudo certo.

Qual foi o impacto econômico da pandemia na vida dos feirantes?
Foi muito forte. Muitos tentaram algumas linhas de crédito que teoricamente seriam mais fáceis para a gente e não foi bem assim, tão fácil. Muita gente passou por dificuldades, inclusive conseguimos levantar fundos, montar cestas básicas para atender alguns feirantes em situação difícil. Conseguimos nos organizar e pudemos ajudar as pessoas que não estavam conseguindo trabalhar e não tinham renda para garantir o ganha pão de cada dia. Muitos feirantes se solidarizaram e conseguiram ajudar essas pessoas. 

"Todos entenderam a importância de seguir o protocolo sanitário e por isso tivemos poucos casos e nenhuma morte"

Vocês precisaram também se reinventar nesse período criando algumas alternativas para sobreviverem?
Na época mais difícil, tivemos três períodos muito duros, ficamos praticamente fechados, sem poder trabalhar. Em vários meses só trabalhamos com entrega. No começo, os clientes não podiam nem colocar as mãos nas mercadorias, fechamos tudo, para evitar contato. Foi uma época muito difícil, mas pudemos ver o quanto era importante ter a distância, o cuidado com o alimento, preparo, acondicionamento e trabalhar muito na orientação. Mas, quem vai a feira, gosta de manusear, tocar nos alimentos, é um costume antigo. Pensamos que com a pandemia isso melhoraria drasticamente, que as pessoas deixariam de colocar as mãos nos produtos. Melhorou muito, alguns tem medo de ficar escolhendo, vão lá procuram com os olhos, pegam e colocam na sacolinha. Mas, ainda tem muita gente que fica apalpando os produtos. Falta ainda um pouco de consciência sobre o momento que vivemos.

Você diria que os feirantes fizeram a lição de casa na pandemia, por isso esse baixo número de contaminados e zero morte?
Fizemos a lição de casa, pegamos muito firme na orientação, divulgação dos protocolos, sempre alertando que se tiver alguma irregularidade a Vigilância Sanitária e a Vigilância Epidemiológica vão passar e fechar e a pessoa vai ficar suspensa. Deixamos isso claro, até com um certo medo nas pessoas, porque estamos lidando com um vírus perigoso, maldito, que mata, não é gripe simples, é uma coisa muito perigosa. Então era preciso todos trabalharem de forma correta para podermos continuar funcionando. Desde quando começou a pandemia, fechamos as entradas da feira e colocamos quatro pessoas para pulverizar a mão das pessoas, não deixar ninguém entrar sem máscara. Isso ajudou muito. Mas, tem muita gente que não tem respeito, não tem educação, agride verbalmente as pessoas que cuidam das entradas, falam que querem ver quem vai tirá-los de lá, que pode chamar a polícia. Tem muita gente que não tem consciência, mas são poucos perto dos que seguem os protocolos e ajudam a manter feira aberta. 

"Estamos lidando com um vírus perigoso, maldito, que mata, não é uma gripe simples"

Os números estão melhorando, as pessoas estão sendo vacinadas, mas não dá para abrir mão de todos os protocolos ainda, não?
Não dá para facilitar. No nosso caso, a gente vende pastel, tem outras pessoas que vendem salgados, pamonha, tapioca e outros alimentos. Então a gente deixa o álcool exposto para a pessoa usar e orienta que só tirem a máscara na hora de comer o produto. A dificuldade maior é controlar os jovens. Eles acreditam que são inatingíveis pelo vírus. Muitos deles saem a noite e depois vão para feira comer pastel e chegam lá em turma, já estavam aglomerados e continuam aglomerados. A gente tenta manter a distância, mas são pessoas que acreditam que o vírus não chegará a eles. Eles podem não sentir o vírus, mas se estiverem contaminados vão passar para os pais, avós, tios, podendo adoecer e até morrer. Quantos não morreram assim.

Quarta-feira, dia 25, é Dia do Feirante. Dá para comemorar?
Dá para comemorar sim, graças a Deus. Estamos vivos, não tivemos nenhuma morte entre os feirantes. E nesse período todo, diante de tantas dificuldades, de tudo que passamos, não paramos de trabalhar de buscar o nosso ganha pão. No dia bom, a gente estava lá, no dia ruim que precisou fechar, ficamos em casa. Mas, sempre todos unidos. Hoje a nossa dificuldade é voltar com a feira de terça-feira. Há dois anos ela estava bombando com 43 feirantes trabalhando. Hoje estamos com 14. Muita gente parou, ficou com medo. Agora estamos nos programando para que na primeira semana de outubro a gente retorne com a feira de terça-feira a noite. Será a reinauguração dessa feira noturna que era de muito sucesso antes da pandemia. Já deixo o convite para todos que em outubro estaremos de volta com a feira de terça-feira a noite no mesmo espaço ao lado do Mercadão, com muitos feirantes e grande variedade de produtos. Hoje, na situação econômica que nos encontramos, os mercados, quitandas, pela falta de chuva, escassez de produtos, tudo está com valor muito alto. Na feira, as pessoas têm condições de comprar produtos de procedência e frescos por um preço melhor, competitivo.

Observatório