Observatório

“Temos que estar alerta com a leishmaniose”



“Temos que estar alerta com a leishmaniose”

Fernandópolis está entre as cidades classificadas como “prioritária”   para ações de controle da leishmaniose, ou seja, a cidade tem um número elevado de casos positivos em cães e registra casos positivos também em humanos. O Centro de Controle de Zoonoses de Fernandópolis desenvolve a campanha de Prevenção a Leishmaniose que será concluída neste sábado, 14. “A prevenção ainda é a melhor opção, por isso estamos realizando um amplo trabalho para que as pessoas possam estar atentas em caso de sintomas em humanos ou em animais e também sobre as melhores formas de evitar a contaminação”, disse médica veterinária, Daiane Keli Faria Penariol Fazzio, responsável técnica do CCZ nesta entrevista ao CIDADÃO. Ela reforçou a importância do teste rápido para detecção da doença nos animais que é disponibilizado gratuitamente no Centro de Controle de Zoonoses. A leishmaniose é uma doença transmitida pelo mosquito palha e tem o cão como hospedeiro e pode também contaminar o ser humano. No ano passado, a cidade registrou 321 cães positivados, a maioria já com sintomas da doença, e dois casos em seres humanos. Não há cura para os animais e o protocolo disponibilizado pelo governo é a eutanásia, embora o tutor do animal possa optar pelo tratamento que é particular. A entrevista, a seguir, é uma forma de alerta: 

Qual o propósito da Semana de Conscientização da Leishmaniose?
Lembrar a população da importância das medidas de controle da leishmaniose, porque para os cães ela não tem cura. Por isso, a melhor medida ainda é a prevenção.

Quais medidas preventivas podem ser adotadas no dia a dia?
Precisamos adotar medidas para eliminar o vetor, que é o mosquito conhecido como “palha” que é quem transmite a leishmaniose. No caso, manter sempre os quintais limpos, livre de restos de alimentos, matéria orgânica. Verificar o local onde os pets ficam que deve estar sempre limpo, sem fezes, para evitar a proliferação do mosquito. É importante lembrar que os cães precisam ser testados. O nosso Centro de Controle de Zoonoses oferece o teste gratuito para os munícipes de Fernandópolis. Os animais também precisam ser encoleirados com a coleira repelente a base de deltametrina que afasta o mosquito e evita a contaminação.

"Hoje somos município prioritário porque temos um número elevado de casos positivos em cães e casos positivos em humanos"

Há muito se fala de leishmaniose em Fernandópolis. Qual a situação atual?
Hoje somos município prioritário porque temos um número elevado de casos positivos em cães e temos casos positivos também em humanos, que é baixo, mas já nos coloca na condição de município em situação de alerta. No ano passado registramos 321 cães positivos detectados aqui no teste rápido e confirmados com o exame Elisa pelo Instituto Adolfo Lutz. Foram também registados dois casos da doença em humanos da leishmaniose visceral. E isso é motivo de preocupação.

A pandemia da covid-19 de certa forma impactou a atenção sobre essa doença?
É, em meio a toda essa preocupação da pandemia, a população pode ter se esquecido um pouco da importância de manter essa atenção para o controle do mosquito transmissor da leishmaniose. Mas, as pessoas ficando um pouco mais em casa podem cuidar melhor do quintal e muitas pessoas têm trazido seus animais aqui para teste da leishmaniose que pode ser feito de segunda a sexta-feira das 8 às 11 horas no Centro de Controle de Zoonoses. Não precisa fazer o agendamento. O resultado sai em uma hora, mas a pessoa não precisa esperar. A gente avisa por telefone. 

Ainda existe resistência pela procura do teste nos animais?
Geralmente quando procuram pelo teste é porque o animal já apresenta sintomas da doença, como o crescimento exagerado da unha, lesão de orelha, de focinho, em volta dos olhos, um problema de pele que não melhora, mas os animais, sem sintomas, também precisam ser testados e estes são os que não chegam até nós.

"As pessoas ficam muito impactadas. É um sofrimento entregar o animal para a eutanásia"

No exame positivo para a leishmaniose, qual o protocolo a ser seguido?
O plano estadual oferece gratuitamente a eutanásia dos animais positivos com a leishmaniose, mas o proprietário também tem a opção do tratamento. Só que o tratamento é particular e precisa ser comprovado para o Centro de Controle de Zoonoses. A pessoa assinará um termo de recusa da eutanásia e compromisso do tratamento. Depois ela, periodicamente, informará a gente sobre a situação do tratamento.
Os pets ocupam uma posição de membro da família e o diagnóstico positivo impacta a todos. É um drama, não...
Sim, muito. As pessoas ficam muito impactadas, é um sofrimento entregar o animal para a eutanásia. Mas, precisamos entender que esse animal é um reservatório, neste caso tendo o mosquito, ocorre a transmissão. Se o dono do pet quiser fazer um tratamento ele precisa encoleirar esse animal para afastar o mosquito e não acontecer a transmissão, tanto do animal para outro animal, como para humanos. 

Nesse tempo no CCZ, qual o nível de preocupação em relação a essa doença?
É alto. Nós já somos um município que não tem apenas casos em animais. Temos casos também em humanos. Então temos uma contaminação ativa entre cães e humanos.

"O teste da leishmaniose pode ser feito gratuitamente de segunda a sexta-feira das 8 às 11 horas no CCZ"

A questão de animais abandonados aumentou em decorrência da pandemia?
Infelizmente esse número aumentou bastante, tanto na questão do abandono quanto nos casos de maus tratos com várias ocorrências. Temos um número grande de animais que foram recolhidos, foram tratados e estão disponíveis para a adoção responsável.

Como a pandemia afetou o trabalho de vocês com a castração de animais?
Durante a pandemia apenas reduzimos a quantidade de cirurgias para evitar aglomeração de pessoas. Mas, o serviço continua funcionando e estamos realizando em média 20 procedimentos por semana. Para a castração, a pessoa pode fazer o agendamento por telefone (3462-3341) e, não havendo vaga, entra na lista de espera. É um serviço que não pode parar, o município está muito carente desse trabalho de castração tanto dos animais com donos, quanto dos animais errantes. 
Há pelo menos dois anos não se realiza a tradicional campanha de vacinação contra a raiva. Alguma perspectiva para esse ano?
Este ano também não haverá campanha de vacinação antirrábica de cães e gatos. A vacina só pode ser obtida em clinicas particulares. A gente espera que no ano que vem volte a campanha novamente. 

Isso causa alguma preocupação?
Por enquanto não, já que não temos confirmação de casos de raiva em animais na área urbana, mas infelizmente se demorar muito tempo para retornar com as campanhas de vacinação pode ser que aconteça, mas aguardamos que no ano que vem retorne normalmente.

Qual a mensagem que deixa aos fernandopolenses?
Fica o alerta para que as pessoas mantenham os quintais sempre limpos, árvores podadas, sem restos de fezes e de alimentos, manter galinheiros e abrigos de animais afastados da casa e sempre limpos. Observar sinais e sintomas da doença em animais e nos humanos.

Observatório