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Teoricamente sem intervenção, Santa Casa faz transição cautelosa



Teoricamente sem intervenção, Santa Casa faz transição cautelosa

Desde julho, o juiz Vinicius Castrequini Bufulin levantou a intervenção judicial da Santa Casa que vigorava desde fevereiro de 2020, mas o hospital ainda cumpre uma fase de transição para ser devolvida à gestão da sociedade fernandopolense. 
Esta semana em entrevista à Rádio Difusora FM, o provedor da Santa Casa Marcus Chaer estimou prazo de quatro meses para completar o processo. Ele diz: “Teve muita determinação do juiz da intervenção que ainda são válidas. São determinações de afastamentos, de mudanças e levam um pouco mais de tempo para ocorrer e não apenas em uma reunião, por exemplo, que se resolve. São mudanças que devem ser muito bem estruturadas no processo de transparência que se exige e que o hospital não tinha. É um processo cauteloso”. 
“A parte boa da intervenção foi que afastou os maus interesses. Por outro lado, assustou pessoas com boa índole, com boa intenção de ajudar. Esse momento que estamos vivendo, creio ser necessário para uma nova etapa. Se tudo correr bem, 
der certo, acredito que o hospital tenha um futuro positivo 
pela frente”, afirma nesta entrevista.  Leia:


Qual é o status administrativo da Santa Casa atualmente?
Teoricamente sem intervenção. Por ordem do juiz Vinicius Castrequini Bufulin solicitamos a presença dos irmãos e compusemos o conselho administrativo no intuito de que a gente possa fazer mudanças e melhorias e retornar o hospital para as mãos da sociedade novamente e sair definitivamente da ação do Ministério Público e Poder Judiciário. 
 

A Santa Casa, então, como estabelece o estatuto da irmandade já tem diretoria composta?
Teoricamente, sim e não. Vou explicar. Teve muita determinação do juiz da intervenção que ainda são válidas. São determinações de afastamentos, de mudanças e levam um pouco mais de tempo para ocorrer e não apenas em uma reunião, por exemplo, que se resolve. São mudanças que devem ser muito bem estruturadas, como a própria mudança da diretoria, etc. Já vinha dizendo até antes da intervenção acabar, que deveríamos fazer muitas mudanças estatutárias, incluindo processo de compras baseado na publicidade e transparência que o hospital não tinha e hoje tem. Uma das mudanças é que esse processo seja incluído no estatuto, a mesma coisa também com o processo seletivo para contratações. Antes tinha muito apadrinhamento e hoje queremos o processo seletivo vigente também vá para o estatuto. São mudanças que levam mais tempo e estudo. A própria profissionalização da diretoria que começou conosco, apesar de defeitos, e que busca seguir critérios de Hospital de Catanduva que também profissionalizou a diretoria (remunerada) por meio do estatuto. Não cabe mais como as Santas Casas de outrora em que o provedor vai lá uma vez por semana para assinar papeis. Na minha visão isso não funciona mais. Na Santa Casa, ainda temos muitos desafios e correções a serem feitas. O que já foi feito trouxe resultados. São novos tempos e que exige dedicação exclusiva. 

"A parte boa da intervenção foi que afastou os maus interesses, mas assustou pessoas com boa índole"

A profissionalização da gestão é caminho sem volta?
A partir do momento dessa profissionalização, você, embora esteja sobre regras do estado, município e união, tem que prestar contas de suas ações. Percebemos que os deputados quando veem a Santa Casa num caminho de gestão mais profissional, acabam mais empenhados em destinar emendas para custeio de equipamentos para que a gente possa, por exemplo, conseguir o credenciamento do SUS para cirurgias cardíacas. São ações mais profissionais. Não que não se possa ter essa figura pública do provedor, porque sabemos que se trata de um hospital muito importante para a sociedade, não só do município, mas da região. Não vejo como um provedor possa agir sem entender o que está acontecendo e assinar contracheque, prestação de contas, documentos. Estamos falando de um hospital muito grande e que exige muito de quem está na gestão. É o CPF da pessoa que está ali.
 

Esse processo para ser finalizado deve se prolongar por mais quanto tempo?
Acredito que mais uns quatro meses. É que toda mudança tem que ser cautelosa e bem-feita. É natural a dificuldade para o ser humano sair da zona de conforto, de um comportamento de vários anos que era tido como normal. Mas, a mudança gera oportunidade. E essa é a oportunidade de profissionalizar o hospital e, claro, isso gera estresse.

"Toda mudança tem o lado positivo. É natural a dificuldade para o ser humano sair da zona de conforto"


Em outra entrevista você falava da dificuldade de trazer os irmãos de volta e formar a diretoria e conselhos. Como está agora?
Isso não é de agora, dessa gestão, do período da pandemia, do pós intervenção. Temos atas no hospital, citando genericamente, de 2015 pra cá. Temos cerca de 280 irmãos e o comparecimento médio era de 15 pessoas nas reuniões de irmandade, inclusive extraordinárias, que são as mais urgentes. É até complicado saber se todos estavam presentes. Percebe-se a diminuição da presença desses irmãos, gente que se afastou. pelos escândalos que afetaram muito. Acredito que a intervenção tenha efeito também no afastamento. Acho que muita gente de bem e pessoas com interesses questionáveis, ficaram um pouco assustados com a ideia. Ainda temos um acompanhamento bem em cima do Ministério Público até para evitar e afastar eventual interesse escuso dentro do hospital. Apareceram alguns irmãos interessados em ajudar de fato e essas pessoas, de acordo com o estatuto, passaram a compor o conselho. Nada mais justo, por exemplo, de que a Volfer – associação de voluntários da Santa Casa – também estar representada no Conselho. A maior dificuldade foi para compor o Conselho Fiscal, principalmente por pessoas técnicas. A ideia de um conselho de administração e conselho fiscal em uma empresa é que eles auxiliem a gestão. Acredito que a irmandade deva passar por mudanças a exemplo do que aconteceu em outras Santas Casas. Estamos falando de quase 300 irmãos onde apareciam apenas 15 durante cinco, sete anos. Isso tem que ser revisto. É momento de autocritica. 


Neste cenário, qual o futuro da Santa Casa?
Quando a gente fala da boa política, da boa sociedade, bons empresários, pessoas com bons interesses em relação ao hospital, acho que a Santa Casa tem futuro e não tem que se desvencilhar disso, da irmandade, das pessoas. Desde que isso venha sem trocas, sem favores, sem interesses escusos. A parte boa da intervenção foi que afastou os maus interesses. Por outro lado, assustou pessoas com boa índole, com boa intenção. Esse momento que estamos vivendo, creio ser necessário para uma nova etapa. Se olharmos para Catanduva, para o próprio HB, eles cresceram fazendo essa parceria com pessoas profissionais à frente e a sociedade como um todo dando o suporte. Seguiram o caminho que estamos querendo implantar aqui. Se tudo correr bem, der certo, acredito que a Santa Casa tenha um futuro positivo pela frente.  
 

"Não podemos andar pra trás. Hoje, estamos caminhando devagar, a passos de tartaruga, mas pra frente"

Sobre a possibilidade da gestão da Santa Casa ser assumida por outro centro hospitalar caso, por exemplo, do Hospital de Base. Existe essa possibilidade?
O juiz interventor, nas decisões, até disse que procurou o HB e o hospital do Frei de Jaci (Associação e Fraternidade São Francisco de Assis na Providência de Deus), instituições profissionais muito fortes. Não descartaria, mas não há nenhuma conversa neste sentido. Mas, se for para o bem da população, se for para profissionalizar e ajudar na questão de dívidas, a gente precisa dessa mudança. O que sou contra, e isso é um pensamento meu, é que a Santa Casa ande para trás. Acho que o hospital não pode dar um passo atrás. A busca de um grande complexo, como HB e do Frei, creio que seria um passo à frente. Hoje, estamos caminhando devagar, a passos de tartaruga, mas pra frente. 
 

A Santa Casa já absorveu no caso da disputa pela gestão do AME e Lucy Montoro?
Ainda está na Justiça. Não entramos na Justiça contra o HB. Nossa ação foi contra a decisão do Estado de ter dado a vitória para o HB, porque no nosso entender apresentamos a melhor proposta. Agora o HB está no AME e Lucy fazendo um bom trabalho? Sim, acredito que esteja fazendo um trabalho espetacular. Não tenho dúvidas disso. Tenho ótima relação com o HB e temos uma parceria de construção com eles.
 

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