A Brasilândia é um marco civilizatório na nossa história. Como os historiadores costumam lembrar, foi lá que tudo começou, em 1938. Ali nasceu o primeiro aglomerado urbano que mais tarde, na união com Vila Pereira, fundada em 1939, daria origem a Fernandópolis. Com uma história carregada de simbolismos, o bairro da Brasilândia é um marco quando o assunto é tradição. E nada representa mais a Brasilândia que o seu clube de futebol, o Brasilândia EC. que está completando este ano 57 anos. Fundado em 1965, o clube amador é um dos mais antigos da região e raro exemplo de clube amador que tem sua própria praça esportiva, o Estádio Antonio Sérgio Buosi, encravado ao lado do trevo de entrada para o bairro. É história viva do esporte amador de Fernandópolis. Não existe na região nada similar. A cada ano, o BEC, famoso na região, se renova e segue sua história de longevidade. Se o clube ganha fama pela longevidade, o maior campeonato da região, batizado como a Libertadores do Futebol Amador, segue colecionando história. A edição que está em andamento e se estende até meados de maio/junho, é a 37ª realizada de forma ininterrupta. A única interrupção foi a pandemia da Covid-19, que suspendeu o campeonato de 2020 que foi concluído em dezembro de 2021. Para manter a tradição e fazer história é preciso ter pessoas comprometidas. E isso não faltou ao Brasilândia EC ao longo de 57 anos. Atualmente quem está na presidência do clube é Marco Antonio Bortoluzzo, de família tradicional do bairro. Em entrevista à Rádio Difusora FM e CIDADÃO, fala desse clube movido por uma paixão. Leia a entrevista:
A Copa Brasilândia está inserida no contexto de Fernandópolis com uma das mais longevas tradições no esporte. Conta um pouco dessa história?
São 35 anos de história. A Copa Brasilândia nunca falhou, são 35 anos seguidos e cabe a nós neste momento manter essa tradição, com a nossa equipe, já que ninguém faz nada sozinho. É a competição que mantém a história no futebol amador de Fernandópolis e região. A Copa Brasilândia é tão importante que foi batizada pelos clubes de Libertadores do Futebol Amador, por ser uma competição muito forte, por reunir equipes em busca do título e por uma premiação de R$ 15 mil ao time campeão e R$ 5 mil ao vice, mais troféus. Ela representa uma das mais importantes competições amadoras do interior do estado. É uma Copa conhecida não só aqui no estado de São Paulo, mas a nível de Brasil e até no exterior.
No período da pandemia, como ficou a Copa?
Começamos o campeonato em 2020 e precisamos paralisá-lo em março quando foi decretada a pandemia da Covid-19. Falaram quarentena e a gente foi ficando nessa quarentena e só depois de 1 ano e 8 meses, retornamos para terminar o campeonato que já havíamos começado. O campeonato foi finalizado no dia 12 de dezembro de 2021, com título ficando para um time de Votuporanga que venceu o Brasilândia nos pênaltis por 8 a 7. O jogo foi muito difícil e terminou 1x1. Mesmo o Brasilândia sendo o organizador da Copa, não tem essa de ter privilégios. É isso que dá credibilidade a competição e atrai tantos times. A gente organiza o evento sem torcer pela camisa. Fazemos o campeonato para a região, quem ganhar leva. Colocamos arbitragem de primeira, tudo muito organizado.
"Para manter a tradição e fazer história é preciso ter pessoas comprometidas"
Nos últimos anos, os times amadores tradicionais desapareceram, mas o famoso BEC permanece?
Estamos comemorando 57 anos de fundação. Isso graças às pessoas que passaram pelo clube e deram sequência ao trabalho. É como uma prova de bastão, um vai passando para o outro a missão de tocar o time e manter a tradição. O Brasilândia sempre alternou nas conquistas da Copa Brasilândia. Ganhamos 2017, 2019 e por pouco não levamos o de 2020.
Esse ano a competição está em andamento?
Iniciamos a Copa no dia 6 de fevereiro, com dois jogos por rodada. Já estamos na segunda fase do torneio. Das 32 equipes que começaram a competição, sobraram agora 16 equipes e para a próxima fase sobrarão apenas oito. É o sistema de mata, perdeu está fora, que é a tradição. A Copa começou com 16 equipes. Era uma pressão grande de outras equipes que queriam participar e resolvemos então elevar o número para 32 e aumentamos a premiação. É mais complicado para organizar o torneio, são muitos times, muitos interesses que precisam ser acomodados e a pandemia prejudicou muito. E com prêmio de R$ 15 mil na disputa, é claro que todos querem levar o título e o prêmio. Dai a disputa é ferrenha.
"O que acontece em Fernandópolis é que não temos mais camposde futebol de várzea"
Como conseguem organizar um evento desse porte, diante do custo que representa?
A gente passa o chapéu. A prefeitura ajuda um pouquinho, o empresariado gosta da Copa e temos vários deles que são cativos há muitos anos. É juntando um pouco de cada um para conseguir manter essa tradição de 35 anos. As equipes garantem com a taxa de inscrição a estabilidade ao campeonato. A renda na bilheteria é fraca, a arbitragem é cara. Procuramos fazer tudo de forma profissional, para ter o menor número de erro possível. Temos uma equipe bem entrosada na organização.
O futebol amador perdeu muita força em Fernandópolis e região. Como você avalia?
O que acontece em Fernandópolis é que não temos mais campos de futebol de várzea. Campo de futebol em condições de mandar jogos é o do Brasilândia e o Estádio Municipal Claudio Rodante. Os demais não oferecem condições. Faço até um apelo para o pessoal cuidar disso. O que está acontecendo? Votuporanga que não tinha tradição, que nunca ganhou Copa Brasilândia, agora já conseguiu o título no ano passado e hoje eles participam com três times. A gente precisa de olhos voltados para o esporte amador, especialmente no futebol, amador e profissional. O Brasilândia vai seguir seu caminho, organizando os campeonatos como sempre fez.
"O Brasilândia é de 1965 e na região não tem um time amador com tanta tradição e história"
Manter o Estádio Antonio Sérgio Buosi na Brasilândia tem muito custo?
Temos um zelador, uma pessoa está com a gente há muitos anos, dedicada e cuida daquilo com muito amor. A gente tem que manter o patrimônio. Tivemos problemas com os banheiros e todos já foram arrumados. Sempre tem o que se fazer, o que reparar no estádio. Temos poço semi-artesiano, mas precisamos colocar uma caixa d´água maior para abastecer os vestiários. Sempre estamos investindo. Temos a intenção de fazer uma nova entrada, mais moderna. É caro, mas estamos correndo atrás com a diretoria e sempre precisamos arregaçar as mangas para dar conta de manter esse patrimônio que é a história do clube. Pegou, tem que fazer.
Com 57 anos, o Brasilândia é o time mais tradicional da região...
O Brasilândia é de 1965 e na região não tem um time amador com tanta tradição e história. O Brasilândia sobreviveu as diversas fases do futebol amador, da época quando tinha ainda o Vasco da Gama, Moveis Dourado, Hawai e tantos outros adversários fortes. Depois foi minguando, o pessoal partiu para o minicampo, fica mais fácil montar time nas empresas. Mas, o BEC permaneceu com sua história, sua tradição. O time mantém atividade o ano inteiro. A Copa Brasilândia acaba em junho, depois vêm os outros campeonatos e vamos disputando e conquistando títulos. Como o nosso sistema é livre, a gente vai pegando jogadores de todos os lados. Essa base que temos este ano na disputa, tem vários jogadores de Fernandópolis e alguns de fora.