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Triagem por foto acelera tratamento de câncer de pele



Triagem por foto acelera tratamento de câncer de pele

O cirurgião plástico Humberto Faleiros, que atende no Hospital de Amor em Fernandópolis, implantou procedimento que tem ajudado a acelerar o atendimento para tratamento de câncer de pele. Desde que foi convidado para assumir o ambulatório de prevenção no Hospital de Amor, o cirurgião percebeu que os casos de câncer de pele, as lesões malignas, não estavam chegando para atendimento. Cerca de 80% dos casos atendidos eram de lesões benignas. Significava que, quem precisava do atendimento, estava ficando para traz, sem atendimento precoce que poderia evitar sequelas de grande porte. Foi então que decidiu implantar o sistema de triagem de casos por fotografia. Segundo Dr. Humberto Faleiros, após meses de preparação, treinamento de pessoal, o sistema foi implantado e deu certo: hoje 90% dos casos atendidos são realmente de câncer acelerando o atendimento desse paciente. O cirurgião plástico Humberto Faleiros, que comanda a Clínica Perfille de Cirurgia Plástica em Fernandópolis, é também médico do Hospital do Amor e professor do curso de Medicina da Universidade Brasil, contou detalhes desse trabalho durante entrevista no programa “Crias da Casa” da Rádio Difusora FM. Ele falou também de procedimentos estéticos e da telemedicina que chegou para ficar. Leia a entrevista:

Como a triagem por fotografia está ajudando na identificação do câncer de pele na Unidade de Prevenção do Hospital de Amor de Fernandópolis?
Essa unidade do Hospital de Amor de Fernandópolis é a única de todo o complexo da Fundação Pio XII de Barretos que atua especificamente na prevenção. Fui chamado para organizar a área do câncer de pele. Abrimos o ambulatório e comecei a perceber que 80% das consultas eram lesões benignas, um cisto, uma verruga. Percebi que não podia ser porta aberta, porque as pessoas com câncer de pele estavam ficando para traz. Então criamos um projeto de triagem por fotografia. Usamos um trabalho do Dr. Carlos, que é médico da prevenção de Barretos que tinha feito sua tese de mestrado sobre diagnóstico de câncer de pele por foto. Pegamos esse modelo, demos uma organizada, preparamos uma apostila com orientações sobre como a pessoa tinha que tirar a foto da lesão. Treinamos as agentes de saúde, as enfermeiras das UBSs. Isso levou cerca de seis meses para ser colocado em prática, período em que visitamos mais de 50 cidades. 

Qual foi o resultado desse trabalho?
Isso melhorou o nosso ambulatório, porque hoje 90% dos casos atendidos são realmente de câncer, ou seja, estamos atendendo quem realmente precisa ser atendido. Então veja que saímos de 80% de casos benignos para 90% de casos malignos. O paciente que estava esquecido no sitio ou na periferia que não ia na UBS ou quando ia não tinha vaga e mesmo quando era atendido pelo médico era encaminhado para o AME e perdia-se muito tempo, hoje está sendo atendido com maior rapidez. Abreviamos isso. As pessoas são atendidas, operadas em menos de 6 meses. Conseguimos fazer um atendimento precoce com maior índice de sobrevida, menor índice de sequelas. O câncer de pele não é tão mortal, mas ele causa muitas sequelas. A pessoa, por exemplo, tem um tumor no nariz, se for grande, tem que tirar o nariz. Então se tiver uma triagem rápida e um diagnóstico precoce você cura aquilo em 100% e as sequelas são mínimas. 

"Com a triagem por foto, conseguimos fazer um atendimento precoce com maior índice de sobrevida, menor índice de sequelas"

Como é o acesso a esse programa?
Dentro da nossa Unidade de Prevenção aqui em Fernandópolis nós temos a parte de fotografia também. A pessoa que tem uma lesão que acha meio estranha é só procurar a unidade, o pessoal fará uma foto da lesão e encaminha para a triagem. Vamos analisar a foto e a pessoa será chamada se houver alguma suspeita. Caso haja necessidade de uma intervenção cirúrgica de pequeno porte, com anestesia local ela é feita aqui mesmo no ambulatório. 

A fotografia pode ser comparada a telemedicina?
Sim.  Isso é telemedicina também. Isso fez com que a gente criasse a consulta online. Lá em 2016 comecei a perceber que os pacientes tinham que retornar de longe para realizar uma checagem de exame. Temos paciente do Mato Grosso, por exemplo, que demorava dois dias para chegar aqui, ficava 10 minutos sentado na minha frente para checar um exame e depois enfrentava mais uma longa viagem de retorno. Passamos a atender por vídeo. Criamos um sistema de telemedicina. Entendo que temos que usar os recursos que a tecnologia nos oferece para o bem da humanidade. É um procedimento em ambiente fechado com todos os registros de segurança. A segurança se dá em três fases: pelo acesso, pela transmissão dos dados e pelo armazenamento. Isso foi essencial na pandemia da Covid. Antes havia restrições à telemedicina, a maioria da classe era contra, mas com a pandemia, houve uma necessidade e procedimento foi incorporado no atendimento médico. Como já tinha uma bagagem de atendimento, não tive problemas. Atender por vídeo é diferente, exige uma curva de aprendizado e como começamos antes já tinha um conhecimento avançado. Hoje já temos também a telepropedêutica que é o exame físico visual. Você tem que criar uma série de perguntas novas, criar uma maneira de fazer o exame físico visual. As grandes universidades estão criando a cadeira de telepropedêutica para ensinar o estudante de medicina a trabalhar com isso. Foi uma forma que conseguimos manter o atendimento durante a pandemia. A consulta online é parte do atendimento. Se o médico notar a necessidade do exame físico presencial ele irá convocar o paciente. Hoje temos um índice de resolutividade gigantesco, com 99%. Raramente temos que convocar o paciente para o presencial. Atendemos pacientes do mundo inteiro, do Japão, Estados Unidos, Holanda, Vietnã, Jordânia e, claro, do Brasil inteiro. Antes a pessoa tinha que se deslocar para Fernandópolis. Já estamos profissionalizando esse procedimento, incluindo parceria com rede hoteleira para receber paciente quando vem para cirurgia. 

"O cirurgião tem que ter uma visão harmônica do que é bonito.  Muita gente tem uma expectativa fantasiosa"

Quando se fala em cirurgia plástica, predomina o interesse pela estética?
Sim, a estética domina. Houve muito avanço na tecnologia. Hoje o foco é na segurança, na prevenção de trombose, embolia, infecção. Na parte técnica, também houve evolução principalmente em aparelhos de lipoaspiração, para tratar flacidez de pele. Mas, na cirurgia plástica o que prevalece é o bisturi e a técnica do profissional. A visão harmoniosa que o cirurgião plástico tem que ter. Temos que dominar a técnica e estar preparado para o plano B, C, alguma intercorrência e tem que ter uma visão harmônica do que é bonito.  Muita gente tem uma expectativa fantasiosa. O que a gente faz é conscientizar a pessoa sobre o procedimento. Indicamos a cirurgia quando temos convicção que vai melhorar bastante. Então, como lidamos com expectativas e temos que ser sincero com os pacientes.

"Ainda tem na sociedade aquela coisa de achar que cirurgia plástica é uma futilidade. Falta empatia para entender a dor da pessoa"

Ainda existe estigma contra a cirurgia estética?
Ainda tem na sociedade aquela coisa de achar que é uma futilidade e sempre a pessoa ouve que não precisa, vai correr um risco desnecessário. Só que muitos não conseguem identificar a dor que a pessoa sente com algo estético que a incomoda. Falta empatia. Atendo pessoas diariamente que choram ao relatar o sofrimento. Pessoas que retardam ou adiam a cirurgia em cinco ou dez anos e depois quando fazem o procedimento, chegam à conclusão que perderam 10 anos da vida.

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