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Trombose: desinformação é o maior problema



Trombose: desinformação é o maior problema

Os meses de setembro e outubro registram datas sobre a trombose. No dia 16 de setembro foi celebrado o Dia Nacional de Combate e Prevenção à Trombose. Nesta semana, dia 13 de outubro, o calendário reservou o Dia Mundial da Trombose. Datas que servem para conscientizar, alertar e informar as pessoas sobre a doença. Em Fernandópolis, o médico angiologista e cirurgião vascular Renato Luchiari Baraldi, que também atende na rede pública no Cisarf – Consórcio Intermunicipal da Região de Fernandópolis -, em entrevista à Rádio Difusora FM por ocasião do Dia Nacional de Combate e Prevenção à Trombose, lembrou que trombose é um tema que preocupa bastante a população e que há muita desinformação, principalmente após a Covid-19. A OMS - Organização Mundial da Saúde - estabeleceu uma meta global para reduzir em 25% o número de mortes prematuras por doenças não infecciosas até 2025. Para isso é fundamental focar em medidas para redução da trombose, bem como no esclarecimento à população das suas causas e principalmente prevenção. A trombose é caracterizada pelo desenvolvimento de um coágulo (trombo) dentro de um vaso obstruindo a passagem do sangue. Para o médico, a prevenção está em melhorar a circulação e isso passa por atividades físicas e melhoria da qualidade de vida. Leia a entrevista:

Por que a trombose preocupa tanto a população?
Há muita desinformação sobre a trombose. Trombose vem de trombo que nada mais é que um coágulo sanguíneo que se forma dentro do vaso obstruindo a passagem do sangue. O nosso organismo trabalha de uma maneira dinâmica coagulando o sangue e limpando o coágulo. É característica do organismo formar coágulos, porque senão morreríamos de hemorragia. A formação de um coágulo, um trombo, pode ser uma atitude de defesa do organismo. Vou dar um exemplo: quando você faz um corte na pele, ele só para de sangrar porque houve a formação de um coágulo. Houve uma trombose, entre aspas, naquele lugar. Então a trombose nem sempre é maléfica, mas a doença trombose em si, essa sim é maléfica e perigosa. Quando ela se forma? Quando o organismo, por diversos fatores causa um coágulo que não se dissolve. Esse coágulo se prende na parede do vaso, seja uma veia ou uma artéria, e impede a passagem do sangue. Disso vem as consequências, sintomas e complicações, que podem decorrer do quadro de trombose. 

Quais são cuidados para se evitar uma trombose?
Temos a trombose do sistema venoso, que é a mais comum e que a população está mais habituada a ver e tem a trombose do sistema arterial, que é menos comum, mas ela é mais grave. De um modo geral, tudo que fizer para melhorar o desempenho circulatório, e aqui falamos da trombose das pernas, vai proporcionar uma defesa do seu organismo. Por exemplo, caminhar é um excelente exercício que vai dificultar a formação de coágulos porque vai aumentar a velocidade do sangue que vai agir como agente protetor. Deitar e colocar as pernas pra cima ajuda na prevenção da trombose. Controle da obesidade também é importante, porque há uma alta associação da obesidade com o aumento do risco da trombose venosa profunda e, claro, abandono do vício do cigarro. Nas mulheres, o uso de anticoncepcional tem uma certa relação no desenvolvimento da trombose, não tanto quanto as pessoas pensam, mas tem uma certa relação. Quando ficamos muito parados, isso deixa o fluxo do sangue mais lento e faz aumentar a chance de formar um coágulo. Até mesmo quando vai se fazer uma cirurgia há todo um protocolo de procedimento para o paciente visando diminuir o risco. Já nas tromboses arteriais, os principais fatores de prevenção são: abandono tabagismo, controle rigoroso da hipertensão e diabetes e atividade físicas. 

"As nossas veias são o sistema de irrigação, como um encanamento de uma casa. Se entupir dá problemas"

Quais são os tratamentos disponíveis?
O tratamento estará diretamente ligado com a causa. Vamos falar da trombose venosa (trombose da veia) que é a mais corriqueira. Lembrando que a trombose obstrui o fluxo da veia que tem a missão de carregar o sangue das extremidades em direção ao coração. A artéria leva sangue do coração para as extremidades. Não existe veia artéria, ou é veia ou é artéria. Quais são os sinais em que a pessoa pode suspeitar de uma trombose de veia, a mais comum. Primeiro vai sentir uma dor, normalmente na batata da perna, começa fraca e vai aumentando com as horas. Associada a isso ela terá um inchaço, normalmente numa perna só (nas duas pernas ao mesmo tempo é muito raro). Isso é um sinal de alerta. Geralmente haverá um fator associado para a trombose, por exemplo, uma viagem longa, uma cirurgia de grande porte, principalmente cirurgias ortopédicas. Dor e inchaço na perna que vão aumentando, portanto, são sinais de alerta. Agora, o tratamento vai depender da causa. A trombose venosa, por mais impressionante que ela pareça porque a pessoa vê a perna inchada, não tem alto risco de perda do membro, que é a principal preocupação das pessoas. A gente trata a trombose venosa, não pelo risco em si em relação ao membro, mas pelo risco da complicação principal, que ficou muito famosa por causa da Covid, que é a embolia no pulmão. 

Como ocorre a embolia no pulmão? 
As nossas veias são o sistema de irrigação, como um encanamento de uma casa. O sangue sobe num fluxo continuo, passa pelo coração, é jogado no pulmão que fará o processo de oxigenação, para retornar ao coração. Um coágulo dentro de uma veia pode se desprender e entupir o pulmão. É muito mais grave isso do que só o problema na perna. Por isso que a gente trata a trombose, para evitar complicações locais, que seria a perda da funcionalidade das veias e, principalmente para prevenir a complicação mais grave que é a embolia pulmonar. O tratamento é feito com medicação, os chamados anticoagulantes. Em relação ao tratamento da trombose arterial, normalmente é cirúrgico para revascularização, conhecido popularmente como ponte de safena, que pode ser feita no coração ou na perna. A safena não tem nada a ver com o coração. A safena é uma veia da perna que, por necessidade, foi descoberta que ela poderia ser retirada do local e ser implantada para substituir a veia do coração. 

"A trombose foi associada à vacina contra a Covid, mas estudos demonstram que a chance é muito baixa"

Qual a incidência da trombose?
A incidência da trombose venosa é de cerca de 60 casos para cada 100 mil habitantes por ano. Não é uma doença muito prevalente, mas tem que estar alerta. 

Qual a relação de vacina de Covid e trombose?
Havia tempos atrás um alvoroço na sociedade de que a vacina contra a Covid estava causando trombose. Estudos recentes mostram que o índice de trombose por vacina da AstraZeneca, é de oito casos por 1 milhão de pessoas vacinadas, enquanto se você for ver a estatística de índice de trombose por viagem prolongada, teremos 21 casos por milhão. Por uso de anticoncepcional e outros fatores associados é bem maior que isso. A população em geral tem um índice de trombose de 9 a 11 por milhão. Eu e você temos mais chance de desenvolver trombose do que quem tomou vacina da AstraZeneca. A chance é baixa. 

"Muito cuidado com automedicação. Nada substitui o médico cirurgião vascular para indicar o tratamento correto"

O risco de automedicação nestes casos preocupa?
Infelizmente a população brasileira tem hábito de automedicação. Dizem que de médico e louco todos tem um pouco, no caso, muito mais de loucos, porque existem medicamentos perigosos, principalmente os anticoagulantes. Como as pessoas ouviram falar, pesquisaram na internet, que no tratamento de trombose toma um remédio de nome tal, as pessoas vão a farmácia compram o medicamente e começam a tomar sem saber da indicação. Muito cuidado com automedicação. Todo sintoma pode estar relacionado com uma doença grave ou uma doença simples. Muitos pacientes me procuraram em no consultório ou no ambulatório do Cisarf, onde atendo, com dores na perna achando que ser trombose e não era. Nada substitui o médico cirurgião vascular para indicar o tratamento correto. E Fernandópolis está muito bem servida de cirurgiões vasculares.
 

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