Pelo menos 1% da população é acometida pela doença de Parkinson, segundo a Organização Mundial de Saúde. Trazendo esse percentual para Fernandópolis, levando em conta população de 71 mil habitantes, chega-se ao número de 700 pessoas atingidas por essa doença neurodegenerativa e que não tem cura.
O mês de abril é conhecido como “Abril Tulipa Vermelha” para marcar o Dia Mundial do Parkinson (11 de abril) para ampliar a conscientização e a compreensão sobre a enfermidade. Em Fernandópolis, foi recentemente aprovado projeto do vereador João Garcia Filho instituindo no âmbito do município o programa Abril Tulipa Vermelha.
“A medicina evoluiu muito. Tem tratamento que, associado a terapias de reabilitação, garantem melhor qualidade de vida”, diz a médica neurologista e neurofisiologista clínica Dra. Francisca Goreth Fantini que abordou o tema em entrevista para a Rádio Difusora FM e jornal CIDADÃO. A médica cita os sintomas da doença e aponta que nem sempre o tremor, o mais conhecido, aparece primeiro. Por isso alerta para outros sintomas que podem ajudar
a diagnosticar a doença o mais cedo possível.
A Organização Mundial de Saúde fala em 1% da população tem a doença de Parkinson. Essa é a realidade?
São dados oficiais, estatisticamente deve ter realmente, muito embora muitos pacientes ainda não tem o diagnóstico. Existem quatro sintomas que caracterizam a doença de Parkinson, predominantemente temos que ter três desses sintomas para fechar o diagnóstico, mas muitas vezes, principalmente nas fases iniciais em que todos os sintomas não estão presentes, faz com que muitas pessoas não tenham ainda sido diagnosticadas.
Quais são os sintomas?
Os sintomas predominantes são tremor, a bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos voluntários), a rigidez e instabilidade postural (é quando o paciente sofre quedas para traz). Mas, inicialmente o paciente nunca tem todos esses sintomas. O sintoma da instabilidade postural, por exemplo, geralmente aparece mais tardiamente. O que é mais frequente é o tremor assimétrico. Treme um lado, tem pacientes que apresentam tremor no queixo e boca, treme o palato, as vezes a língua por dentro está tremendo e a pessoa não percebe.
O tempo de um sintoma para outro demora muito?
Varia muito da doença no paciente. Tem paciente que vai ficando mais rígido, está sendo tratado de coluna por doer e se sentir travado, está ficando mais lento e isso já é a doença de Parkinson em instalação. Muitas vezes é ignorado, porque não tem o tremor que é que chama mais a atenção e leva o paciente para o médico. Mas, muitas vezes a bradicinesia vai sendo instalada e a lentidão, a dor e o travamento na região lombar são sinais. Muita vez o paciente vai ficando com a face como se estivesse congelada, mais lenta e o andar mais enrijecido, mais lento, e o tremor só vem depois. Quando tem o tremor como sintoma inicial, isso chama mais a atenção e faz com que o paciente procure o atendimento mais precocemente.
"Muitas vezes o Parkinson é ignorado, porque não tem o tremor que é o sintoma que chama mais a atenção"
Como saber para identificar o que pode ser Parkinson ou não?
A doença é do movimento involuntário. O andar fica mais lento, a face fica menos expressiva. Como é uma situação generalizada, a pessoa está mais lenta e associada a essa lentidão, tem a dor por rigidez. É bem diferente dos problemas de coluna, mas muitas vezes o paciente não percebe. Como é uma doença da sexta década, predominante a partir dos 60 anos para frente (muito embora pode ocorrer o Parkinson jovem em pessoas abaixo de 40 anos e tem o juvenil que é em torno de 25 anos, mais raro) muitas vezes a pessoa já está aposentada, fazendo menos do que fazia, e acaba achando que é normal e não é.
Além dos problemas físicos a doença pode ter outros efeitos colaterais?
Podem ocorrer de ter depressão, transtorno do sono, da fala, da deglutição, alteração do olfato (sinal precoce que pode aparecer 10 anos antes de se instalar os sintomas de Parkinson) e alteração intestinal. Tenho paciente que iniciou a doença antes dos 40 anos e que acompanho há 20 anos e que está muito bem, cognição preservada. Tenho paciente de 50 e poucos anos que acompanho há 15 anos, já se aposentou, e com a cognição perfeita.
"O canabidiol não é salvação para tudo. É preciso ter indicação precisa para cada caso"
Parkinson e Alzheimer são doenças neurodegenerativas, mas distintas. É isso?
Sim. São neurotransmissores diferentes. Na doença de Parkinson ocorre uma diminuição do neurotransmissor na região do cérebro conhecida como substância negra que produz a dopamina, que é responsável pela estabilidade do sistema extrapiramidal do tremor, da lentidão, da rigidez. A demência é outra entidade neurodegenerativa que envolve a acetilcolina, com a perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo, que controla a memória, e o córtex cerebral, essencial para a linguagem e o raciocínio, memória, reconhecimento de estímulos sensoriais e pensamento abstrato.
Como melhorar a qualidade de vida de quem é diagnosticado com Parkinson?
Iniciar o tratamento mais cedo possível, o tratamento medicamentoso associado a terapias de reabilitação como fono, fisioterapia, terapia ocupacional, psicoterapia, dependendo da fase em que o paciente se encontra. Para todos os pacientes, a atividade física que vai retardar a piora dos sintomas motores. O Congresso Brasileiro de Neurologia no ano passado, a novidade no último slide de um médico europeu era exatamente isso: presença da atividade física vai retardar os sintomas motores.
A cirurgia para controlar o tremor é indicada para todos?
Não. A cirurgia é conhecida como DBS (deep brain stimulation) que consiste na instalação de eletrodo que vai controlar o tremor. Não é todo paciente indicado para isso. Tem o momento correto, o paciente correto para o implante dos eletrodos na região do cérebro que está alterada. Assim, a corrente elétrica que sai do eletrodo estabiliza o tremor. Isso não é para todo paciente. Mas, para quem é indicado representa um benefício que melhora a qualidade de vida.
O Parkinson é uma doença genética?
É uma doença neurodegenerativa multifatorial. Então tem o Parkinson primário, que é aquele com os sintomas que afetam o movimento da pessoa (tremores, lentidão, rigidez e desequilíbrio) e o Parkinson Secundário, em que as causas podem ser desencadeadas por medicamentos, por exemplo, contra vertigens, os traumas de crâneo (boxeadores, acidentes de trânsito) que podem levar a uma neurodegeneração. Geneticamente existe o Parkinson juvenil que estaria mais relacionado. Como toda doença, não é porque os pais tiveram que os filhos irão ter. Entretanto, teria uma predisposição um pouco maior do que numa família onde ninguém foi acometido pela doença. Mas, não é a causa única.
O uso do canabidiol no Parkinson é recomendado?
É importante esclarecer isso. O canabidiol não é salvação para tudo. É preciso ter indicação precisa. O canabidiol é igual a prescrição de dipirona, qualquer médico está autorizado a prescrever. Porém, como a dipirona, também pode levar a óbito. O canabidiol não é uma medicação para ser usada em qualquer doença. Em neurologia, o que estudo em humanos indica, é para a epilepsia. E tem que ter teste genético que comprove. Não é qualquer paciente que teve crise convulsiva que vai ser utilizado. Na doença de Parkinson pode ser utilizado predominantemente quando tem uma alteração comportamental significativa. Não são para os sintomas, é para o comportamental. Assim como no Alzheimer, na esclerose múltipla e esclerose lateral amiotrófica para espasticidade, nas dores intratáveis.
"Todos os pacientes deveriam tomar café e incluir atividade física para retardar os sintomas motores"
A alimentação para o parkinsoniano tem alguma restrição?
Tem alguns cuidados. Como algumas vezes o paciente tem queixa intestinal é interessante que tenha uma alimentação que ajude, ou seja, uma dieta mais laxativa. Para os pacientes em tratamento medicamentoso, o leite diminui a absorção do tratamento, da levedopa. A gente recomenda que durante o uso do medicamento a dieta seja com carboidrato, chá, suco, com café, mas distante do leite. As carnes vermelhas também diminuem a absorção e a preferência deve ser por carnes brancas.
E o café?
Todos os pacientes deveriam tomar café. Até acho que a depressão está tanto por ai porque os pais não ensinaram os filhos a tomar café. É um pensamento meu e até já troquei muitas ideias em congressos de neurologia em que psiquiatra está presente. Um café extremamente forte é negativo para o estômago. Um café com a quantidade de cafeína não exagerada, em torno de 150 ml pela manhã e 150 ml após o almoço, não fará mal a ninguém. Há algumas situações colocadas do café na prevenção para doença neurodegenerativa. Sem exagero.