Caderno Viva

Cabeleireiro, Psicólogo e, agora, Advogado



Image alt

Considerado um dos maiores nomes da beleza de Fernandópolis, o cabeleireiro Cleber Jóia fez fama e sucesso com seu talento e habilidade com as tesouras. Mas, antes de conquistar a fama, Cleber trabalhou como engraxate, lavou cabelo no salão da sua mãe e, após de uma discussão, foi trabalhar no Escritório Patriarca, onde ficou 10 meses, quando voltou mais uma vez para o salão.

“Terminei o ensino médio e fiquei sem estudar até os 24 anos. Abri mão dos estudos para trabalhar, pois a faculdade de direito só tinha em Araçatuba e Rio Preto e com os horários noturnos ficava impossível conciliar. Essa era a realidade de muitos jovens na época”. Porém, chegou um momento em que ele desejava muito mais que a fama e o sucesso da profissão. “O que me faltava era ter um bom diálogo e uma boa argumentação e eu não tinha. Convivia em um mundo muito restrito”.

Foi quando surgiu a oportunidade de cursar psicologia da FEF – Fundação Educacional de Fernandópolis. “Tive muita dificuldade, pois meu foco nunca foi estudar, meu foco sempre foi ganhar dinheiro. Minhas notas foram todas muito ruins no primeiro semestre. Todas abaixo de cinco”. Foi então que Cleber conversou com uma professora, que disse que ele era muito inteligente, mas era analfabeto de ler e escrever. “Ela sugeriu que eu tivesse aulas particulares e conseguiu uma professora que conseguisse me dar aulas da meia noite às duas da manhã, pois era o único horário que tinha disponível na época. Terminei a faculdade, fiz a pós-graduação e, após dois anos, defendi minha tese de mestrado em Portugal”.

Cleber revela que nunca realizou atendimentos em uma clínica. “Ser psicólogo precisa se entregar muito. Não pode ser mais ou menos, pois é uma responsabilidade muito grande. Eu sempre brinco que é mais fácil um psicólogo matar uma pessoa do que um médico. Então, não quero correr esse risco”.

Ele não parou por aí, da psicologia foi parar na faculdade de direito e, recentemente, foi aprovado no exame da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. “Tenho muita persistência. Quando quero uma coisa, vou em busca”. Cleber lembra que reprovou na segunda fase do primeiro exame que prestou. “Acontece que fiz a peça no rascunho e não deu tempo de passar para a prova. Aquilo me frustrou muito”.

Após a frustração, Cleber foi tão confiante fazer a próxima prova que, mesmo com seu “vade – mecum” (o livro chamado de bíblia do direito) confiscado pelos fiscais da prova e com um livro bem maior para consultar, fez a prova e foi aproado. “Estava tão convicto que sabia tudo que encostei o ‘vade’ e fiz a prova sem ele. Mas no final tinha uma lei que não me lembrava e fui consultar. Quase fiquei doido, mas consegui. Fiz praticamente toda a prova sem consultar e fui aprovado. Valeu mais 10, foi 12!”.

Realizado com a profissão de advogado, Cleber conta que se deparou com algumas situações que o deixou muito feliz, após conquistar sua formação. “Hoje percebo que não é qualquer um que me engana. Hoje chego para conversar com qualquer advogado e peço um minutinho para dar uma estudada no caso. É uma profissão diferente, que te cobra muito, bem mais que me cobrava como cabeleireiro”. Quando questionado sobre a área do direito que mais o atrai, ele abriu o sorriso e disse: penal.

Até sair seu número de registro da OAB, Cleber atua no como estagiário de sua esposa, a advogada Adriane Adélia Menezes da Silva. “Quem começa, tem que começar de baixo. O Cleber Jóia Cabeleireiro já tem um nível, o advogado ainda vai adquirir. Tem pessoas que estão do meu lado, que tem um bisturi na caneta. Desseca as palavras, e poucas pessoas conseguem fazer isso hoje.  Então tenho um leque muito grande para estar dentro do direito com um ‘know how’ alto”.

Mesmo com duas faculdades, Cleber segue atuando como cabeleireiro. “Continuo atuando como cabeleireiro. Ainda não consigo pensar em parar. Hoje atendo apenas quatro horas por dia. Não é mais aquela loucura. Depois da pandemia estou sem equipe e atendo sozinho. Já estou me preparando para um dia parar”. Além de cabeleireiro, psicólogo e advogado, Cleber também é cuidador de aviários de granja, administrador de duas propriedades rurais com gado de corte e cria e docente na área de estética na Fundação Educacional de Fernandópolis.

Quando questionado se tem algum sonho a ser realizado, Cleber diz: “Todo mundo tem um sonho, eu não sei se tenho um sonho”. Porém, ele possui um objetivo bem claro para seu futuro: ser docente na faculdade de direito. “Quero dar aula de direito. Vou fazer cursos para me especializar em direito penal”, completa.