Caderno Viva

GENEROSIDADE QUE SUPERA A JUSTIÇA



  No contexto bíblico a vinha é símbolo do povo de Israel, indicando a predileção por parte de Deus para com esse povo. Como o dono da vinha prepara a terra, escolhendo mudas viçosas para plantar, protegendo e cuidando com carinho, tendo a esperança de que produza frutos de qualidade, também Deus cuida do seu povo, lhe dá atenção, esperando que corresponda ao seu projeto.

  O povo de Deus do Antigo Testamento sempre foi muito convencido de sua condição privilegiada no Reino que Deus viria instaurar. Jesus vai contar outras parábolas – os dois filhos, os vinhateiros homicidas e o banquete nupcial – mostrando que o povo judeu será substituído por um novo povo que produzirá frutos no tempo propício.

            Jesus rompeu com esse modo de ver a realidade, própria de sua época, ensinando que a complacência, a benevolência divina não era exclusividade de Israel. Os privilégios de Israel foram suprimidos.

            Na parábola de hoje Jesus compara o reino do céu a um Pai de família que vai contratar operários para trabalhar na sua vinha. Sai nas várias horas do dia procurando pessoas para trabalhar na sua propriedade.

            Ao final do dia como determinava a lei o patrão chama os trabalhadores para acertar contas. Começa pela ordem inversa de convocação. Primeiro os que tinham sido contratados à última hora; paga aos últimos o mesmo valor que aos primeiros. Os operários da primeira hora reclamam contra o patrão por estar recompensando os últimos com o mesmo valor – 1 denário – de quem trabalho o dia inteiro. De acordo com o bom senso o patrão estava sendo injusto, recompensando da mesma forma quem prestara serviço diferente.

            O pai de família é Deus que sai para convocar o povo de Israel, o povo eleito, a vinha de Deus. Essa parábola ilustra o novo modo da ação de Deus, concretizado na pessoa e missão de Jesus. A retribuição sobrenatural que Deus quer dar tem origem na sua bondade infinita e vontade soberana e não na mesquinharia humana

            O ensinamento da parábola é claro: os operários da primeira hora são os judeus. Deus fez como o povo de Israel um acordo, recompensando-os pela observância da lei. Os gentios, aqueles que não conheciam o evangelho, foram chamados por último. Deus recompensa em primeiro lugar os últimos, em razão da inveja dos primeiros e porque a forma de pensar de Deus não está de acordo com os privilégios de um povo que pensa ser superior aos outros.

            Jesus era muito questionado em razão de sua acolhida aos pecadores, mulheres, crianças e marginalizados em geral da sociedade do seu tempo. Essa parábola responde àqueles que se sentiam no direito de cobrar de Deus atenção especial em razão do cumprimento fiel da lei. O reino não é devido a ninguém.

            A parábola do evangelho deste domingo ressalta o modo generoso e gratuito de Deus agir, sua misericórdia. O reino é dom gratuito do Pai na pessoa de Jesus, oferecido aos marginalizados e excluídos da salvação prometida ao povo judeu. O reino está além das medidas humanas. O projeto de Deus é diferente do projeto humano.

            Queremos agradecer ao Pai que é justo e generoso com seus filhos e nos chama para viver com Ele a aliança, dom, gratuidade, oferta de seu amor em Jesus Cristo, nosso Salvador. Ele não mede nossa vida pela eficácia, mas o seu critério é a ternura do seu coração. Acolhamos o convite para participarmos do banquete que Ele nos preparou e graciosamente nos oferece. Aceitemos o dom do reino oferecido a todos por Deus em Jesus Cristo.