O historiador Bruno Godoi Barroso realizará o lançamento, na primeira semana de março, do livro: “Moda Boa”: Música Caipira e Cotidiano (Fernandópolis/SP - 1955-1975) pela editora e-Manuscrito. O livro nasceu de uma pesquisa de mestrado em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, realizada entre 2017 e 2019.
Bruno Godoi Barroso nasceu em São Paulo, mas veio para Fernandópolis com seis anos. “Me considero fernandopolense de alma e coração”, disse o historiador em entrevista ao CIDADÃO em janeiro de 2018, quando anunciava o projeto da pesquisa e o sonho de editar um livro. Ele é casado com a fernandopolense e também historiadora Claire Guimarães Liberato Barroso.
A ideia da pesquisa levou o historiador a se debruçar sobre o tema da música caipira e da radiodifusão na cidade de Fernandópolis desde 2011.
O livro traz como perspectiva o exame das dimensões de produção e atuação do gênero musical caipira na cidade de Fernandópolis entre as décadas de 1950 e 1970, sobretudo diante da sua relevância na trama de laços identitários e na mobilização de emoções variadas, operados por meio da construção de práticas e representações do cotidiano rural e urbano que são narradas nas letras das canções.
Livro resgata influência da música caipira na Fernandópolis das décadas de 50 a 70
A apreensão desse universo de produção da música caipira na cidade de Fernandópolis se dá por meio da análise das canções compostas por músicos da cidade, por vezes em parceria com colegas de outros municípios que constituem a região, assim como mediante depoimentos desses compositores, intérpretes e de apreciadores do gênero musical caipira.
Nesse cenário, destaca-se o papel da Rádio Cultura AM de Fernandópolis como fomentadora dessa cultura, assim como no incentivo à formação de duplas locais e regionais (por meio de festivais de viola) e na divulgação da produção fonográfica de duplas, na época, de renome nacional, conectando os ouvintes por meio do entretenimento e da prestação de serviços, questão última que fez dessa emissora, no período, o principal meio de comunicação entre o campo e a cidade nessa região do Noroeste Paulista.
Por intermédio dessas canções delineiam-se representações que permitem capturar as tensões entre campo e cidade em meio às paisagens sonoras; a representatividade do violeiro como cronista da cena cultural caipira; a dimensão masculina dos amores e paixões; a natureza como materialização do sagrado. Aspectos marcantes que atuam na configuração da cultura caipira fernandopolense.
A intenção do autor é realizar, em meados de julho, o lançamento oficial do livro em Fernandópolis, a partir da promoção de um evento com a apresentação da Orquestra de Violeiros do município e, com a participação da dupla fernandopolense Quintino e Quirino, considerando que a dupla ocupa papel de destaque no recorte temporal alcançado pela pesquisa.
A obra em breve estará disponível, formato eBook (livro virtual), no site das principais livrarias do Brasil.
SERVIÇO:
Para os interessados na aquisição do livro físico, o contato poderá ser feito através dos telefones/Whatsapp: (11) 987416291 / (11) 977164679, falar com Bruno ou Claire.
Rodas de Viola inspiraram pesquisa
O historiador Bruno Godoi Barroso passou a infância, adolescência e parte da juventude em Fernandópolis onde chegou, vindo de São Paulo com 6 anos. Em entrevista ao CIDADÃO em janeiro de 2018, ele falava da inspiração para a pesquisa como tese de mestrado. “O interesse pelo tema, em boa parte, vai ao encontro das minhas vivências no interior do estado de São Paulo, no ‘Sertão do Noroeste Paulista’, como muitos o nomeiam. Na cidade de Fernandópolis, onde passei minha infância, adolescência e parte da minha juventude, convivi com as modas de viola caipira ouvidas pelos meus pais e avós, com os relatos de suas experiências de uma vida na roça e com o modo de vida rural, ainda vivo no cotidiano. Das histórias do meu avô materno com sua sanfona animando bailes nas fazendas da região de Cardoso e Riolândia, nos desafios históricos (que são temas recorrentes nas letras do cancioneiro caipira) enfrentados pelos trabalhadores rurais no Brasil, como foi o meu pai ainda adolescente na colheita do café na região de Lins”, contou.
Ainda na entrevista Bruno relatou que a pesquisa buscou vestígios que pudessem iluminar a compreensão dos elementos articuladores dessa tradição da música caipira em Fernandópolis. Ele citou a música “Fernandópolis” dos compositores Mauro André e Jonacir de Carvalho, que ficou muito conhecida nas vozes da dupla Quintino e Quirino, canção, que traz consigo uma representação idílica de cidade.
Segundo ainda o historiador, a radiodifusão cumpriu um papel relevante no fomento da música caipira em programas como “Na beira da Tuia” com Tonico e Tinoco, pela Rádio Bandeirantes de São Paulo, e “Alvorada Cabocla” sob o comando de Nhô Zé, na antiga Rádio Nacional de São Paulo, que tinham grande audiência.
“Em Fernandópolis a antiga Rádio Cultura AM, fundada pelo Sr. Moacir Ribeiro em 1955, teve no chamado “Rancho dos Canários” o seu programa voltado para a música caipira. Segundo relatos de alguns entrevistados, inclusive um dos locutores do antigo programa, o Compadre Sanchez”, o Sr. Moacir Ribeiro construiu uma espécie de auditório nas dependências da rádio, de maneira que o público poderia acompanhar o programa in loco. O programa teve vários locutores, além do próprio Compadre Sanchez, nomes como os de Nhô Dito, Tio Cândio e Nhô Cido, comandaram esse programa que esteve no ar até o início da década de 1980. Para se ter uma ideia, em algumas entrevistas depoentes me relataram que a rádio era o único meio de comunicação entre as a zona rural e a cidade, que eles deixavam recados no estúdio para que os locutores transmitissem durante a programação, isso demonstra quanto o rádio era importante”.