Caderno Viva

Temor sim, medo não!



Jesus instruindo os doze se preocupa com as atitudes que eles devem ter no anúncio do evangelho, por isso os adverte: “guardai-vos”. Outras vezes diz: “Não temais”. As duas atitudes são necessárias. Para reconhecer o inimigo a prudência é de grande valia e a capacidade de avaliar o perigo que o inimigo representa. A novidade de Jesus no começo foi bem pequena. Muitos pensavam poder esmagar aquela semente pequena. Ela vivia as escondidas. Naquele momento se falava na escuridão, as palavras eram ditas ao pé do ouvido, não havia nenhuma publicidade. Os discípulos porém deveriam anunciar o evangelho em plena luz do dia, não mais ao pé do ouvido, mas em cima dos telhados, enfim pregar diante de todos. Não importava serem aceitos ou rejeitados, mas sim darem o testemunho da boa nova de Cristo.

 Jesus enviou os doze em missão e passa a orientá-los a respeito das dificuldades, dos obstáculos e dos sofrimentos pelos quais irão passar. Por isso lhes dirige uma palavra de encorajamento: “Não tenhais medo”.São motivados pelo mestre a não terem medo diante do perigo, pois como pertencem a Jesus e participam de sua sorte essa condição transforma o discípulo em pessoa corajosa e valente.

 Os discípulos não devem temer aqueles que os odeiam, pois sua força é limitada tão somente a essa vida. O ser humano tem poder limitado, pois o valor e a certeza da vida eterna nenhuma força humana poderá destruir.

            A fé expulsa o medo. O medo diante do ser humano provoca uma reação de insegurança e suspeita. Esse temor destrói a fé. Em relação a Deus o temor torna o ser humano livre, pois faz estabelecer a correta relação entre a criatura e o criador. O temor sagrado não paralisa a pessoa, pois a coloca sempre de novo na dimensão da confiança filial em Deus.

Se alguém for arrastado às barras do tribunal em razão de sua fé em Jesus, deve professá-la mesmo que não houver contradição ou perigo. É na hora da decisão e do fracasso que a fé deve ser manifestada. Quem enfrentar um tribunal humano dessa forma poderá se apresentar com confiança no tribunal divino, pois será assistido por Cristo.

 Aquele que se dispõe a pregar o Evangelho tem medo da violência que pode levar ao fracasso de sua missão. Outra preocupação é em relação aos maus tratos. Os inimigos do Evangelho podem ofender, caluniar, bater, confiscar os bens e tirar a vida. Nenhum poder consegue tirar dos discípulos o bem maior que é participar da vida plena que vem de Deus. O que deve ser temido pelo pregador do Evangelho é ser privado da vida divina ou a dificuldade de desenvolvê-la.

Jesus conforta os discípulos mostrando que Deus Pai é providente e se preocupa com o bem dos que lhe permanecem fiéis. É muito interessante a comparação com o número de cabelos da cabeça, somente conhecido por Deus e mais ninguém. Deus tem conhecimento dos pequenos detalhes da nossa vida, acompanhando com atenção aquele que se compromete com a causa do reino.

 As comunidades para as quais Mateus escreve o evangelho estavam sendo perseguidas em razão de sua fé. Os cristãos que não aceitavam honrar o imperador diante dos altares a ele erguidos passaram a ser castigados de toda sorte, perseguidos e discriminados. Essa situação provocou uma questão: como manter a fidelidade, superando as angústias e enfrentando os sofrimentos?

 Assim como os cristãos da comunidade de Mateus também nós somos colocados à prova. Hoje já não existem perseguições em massa, existem casos localizados, mas o grande desafio são favores, ofertas, incentivos, que amarram, deixando de cumprir a missão confiada por Jesus. Hoje também o medo de ser anunciador do Evangelho está presente. Não devemos temer ninguém, a não ser aqueles que querem matar os verdadeiros ideais, a fé e por isso tem uma estratégia bem detalhada. Com a consciência de que se está a serviço de Deus e do seu projeto tem-se a certeza que não está sozinho. Somos chamados a confiar em Deus, que nos dá a vida verdadeira. Não nos esqueçamos que o Pai é benevolente e cuida de suas criaturas, quanto mais dos seus filhos queridos, os seres humanos. Amém!  Assim Seja!