Caderno Viva

Você gosta de rotular os outros?



Ontem, eu estava lendo uma revista e havia uma entrevista com uma artista exótica que, na minha concepção, só fala bobagens em geral. Mesmo assim, me dei o tempo e li a entrevista dele e fiquei impressionadíssimo ao ver que ela citou algo que foi a coisa mais profunda que ouvi nestes últimos tempos.

E essa minha atitude preconceituosa e apressada expressa algo horrível, quando falamos de vida com Deus: o RÓTULO. Rótulo é a forma mais fácil de julgar o todo pela parte, alguém por apenas uma de suas supostas características, sem se dar ao trabalho de querer pensar. É achar que temos a capacidade intelectual suficiente para julgar sempre o outro, sem nem conhecermos suas lutas diárias, sua história.

Em outras palavras, o rótulo é o nosso preconceito embutido, o nosso comodismo escancarado à luz do meio-dia, a nossa falta de empatia para com o próximo, resultado da nossa indiferença.

Daí, porque o Cristianismo é algo extremamente desafiador e nada fácil, pois ele é um convite para que não vivamos nos nossos “achismos”. É uma fé relacional, e não uma mera proposta de vida como de alguns credos que buscam encontrar Deus apenas no isolamento, em uma vida ascética e longe de tudo e de todos.

Nos tempos bíblicos, várias pessoas eram apenas rotuladas, não significando nada na sociedade. Por exemplo, o samaritano para o judeu era um nada. O ódio dos judeus aos samaritanos era tão grande, que todo judeu, principalmente os fariseus, ao se levantarem de manhã, davam graças a Deus por não terem nascido nem mulher e nem samaritano.

Não bastasse isso, a Palavra de Deus nos revela que, antes de Cristo, a hanseníase já era considerada uma praga. Os doentes eram isolados, as roupas queimadas e eles rotulados de “imundos”. O temor de pegar a lepra, como era chamada na época a doença, era ainda maior do que nos dias de hoje.

E o que me chama a atenção nestes dois exemplos bíblicos que cito acima é que Jesus transcedeu em muito as regras sociais que existiam e que dividiam as pessoas, curando leprosos e trazendo o samaritano em sua parábola. Ou seja, Jesus que deve ser o nosso exemplo a ser seguido, não fazia acepção de pessoas, com uma proposta totalmente de inclusão.

Se trago isso que estou escrevendo para os dias de hoje o que tenho visto é cada dia mais um afastamento das pessoas, um pouco se interessar por aquele que é “diferente” de nós. É como se para muitos, relacionar-se resumiria a ter pessoas que pensam igual a nós, que batem palmas para o nosso narcisismo, ou que podemos tirar, ainda que indiretamente, algum tipo de vantagem.

Assim, se o outro não se encaixa nos nossos rótulos, preferimos na maioria das vezes excluí-lo, e o que mais me impressiona é que julgamos a pessoa apenas por uma de suas características. É como se o mundo fosse apenas preto ou branco, sem quaisquer nuances. Como se não houvesse a ambivalência da alma humana.

O que quero dizer com isso? Peguemos o exemplo do momento atual político do país. Se você apoiou o impeachment da presidente, você é rotulado de “coxinha golpista” e quem era contra o impedimento é logo rotulado de “mortadela” ou “petralha”. E vejo que a mera preferência política é suficiente para separar pessoas, e até familiares.

Se o fulano é um homossexual, a única coisa que parece importar é quem ele leva para sua cama, independentemente da pessoa ser alguém solidária, que se importa com o outro, etc. Se sou cristão, os detratores da fé já me rotulam de homofóbico, misógino e medieval.

Com efeito, pelo que cito acima, você vê como esses rótulos são algo um tanto infantilizado e a denotar o nosso pecado. E é fato que muitas vezes se relacionar com as pessoas não é algo fácil, mas é um mandamento que todo cristão deve estar atento. Pergunto-me se isso não é uma das razões porque hoje tem muita gente que enche até a boca para dizer que gosta mais de animais do que de gente.

Concluo no sentido de que possamos estar fazendo uma autocrítica verdadeira e honesta e reconhecendo o que nos tem feito estar afastados do nosso próximo. E detectado isso, que saibamos estar nos esforçando para escrever uma nova história, não pelo nosso esforço, mas como reflexo dAquele que vive em nós. Amém.

 

                        Creditos: Leandro Bueno